Os pais nem imaginam, mas quando saem para comprar a lista de materiais escolares dos filhos pagam uma alta taxa de impostos embutidos nos produtos. Objetos que acabam passando despercebidos por causa do baixo valor, como uma simples régua de plástico, trazem tributos que podem chegar a 50% do valor registrado nas etiquetas. Situação semelhante ao que acontece com canetas, com 49,95% de impostos, borrachas e apontadores de lápis, com 43,19%, cada. 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a média de impostos aplicados sobre os produtos mais indicados nas listas chega a 39,7%, sem contar outras taxas estaduais e municipais que podem ser cobradas dos estabelecimentos comerciais. 

O ato de comprar e pagar é tão automático que muitas vezes os pais só veem o quanto contribuíram para o governo depois de fechar as contas. Foi isso que aconteceu com Hildeane Stéfani, advogada de Belo Horizonte que se assustou quando foi ver a quantidade de impostos cobrados em um kit de mochilas que ela comprou para a filha.

“Eu só reparei a taxa de impostos quando eu olhei a nota fiscal, em casa. O kit custou cerca de R$ 360 e R$ 170 eram de impostos”, diz – ou seja, 47,2% do valor do material.

Para o consumidor, muitas vezes, não importa se tem muito ou pouco impostos. O que conta de verdade é o preço final que ele está pagando. Por isso, para não correr riscos de perder clientes, muitos comerciantes acabam criando estratégias para manter as vendas.
 
A empresária Jéssica Carvalho, da livraria e papelaria Flapel, no bairro Calafate, região Oeste da capital, diz que para algumas marcas mais caras e produtos mais procurados é preciso reduzir os ganhos para manter o cliente. “A gente diminui o ganho em alguns produtos e oferece descontos especiais para o cliente fechar a lista completa em nossa loja. Damos descontos de até 15% para compras à vista, tudo para atrair o cliente. A gente diminui o lucro, mas garante a venda”, comenta.

Ela conta que, neste ano, os preços subiram muito, mas as vendas não decepcionaram. “Os pais vêm comprar, trocam marcas tradicionais. Mas a gente vai conversando, contando com a recomendação de outros clientes e temos conseguido manter um bom fluxo na loja”, destaca.

Inflação
Para o consumidor, estas estratégias são ainda mais importantes neste ano. Pesquisa do site Mercado Mineiro mostrou que os materiais escolares subiram bastante de preço em 2022. A caixa de lápis de cor, por exemplo, subiu 61%, enquanto o caderno universitário ficou 41,5% mais caro, para ficar só nesses exemplos.

“Apesar do esforço de algumas famílias em pesquisar preços para economizar, o consumidor não tem muito o que fazer quando se trata de educação”, argumenta Pedro Henrique Chrismann, advogado especialista em tributação.

Ele defende uma reforma tributária capaz de dirigir os tributos e favorecer áreas estratégicas e de interesse para o país. A opinião é semelhante à de João Eloi Olenike, presidente do IBPT. “A educação deveria ter um retorno melhor em relação à qualidade dos serviços públicos oferecidos aos cidadãos diante de tantos tributos pagos, que, se fossem menores, poderiam permitir uma formação melhor e mais acessível”, afirma.