Moradores de Córrego do Feijão e vizinhança relatam que uma água barrenta continua saindo das torneiras. “A água é turva e não tem nenhum laudo sobre isso”, afirma o presidente da Associação de Moradores de Córrego do Feijão, Jeferson Custódio. A mineradora segue abastecendo essa população com caminhões-pipa. Desde a tragédia, foram distribuídos mais de 500 milhões de litros de água potável.

O receio em relação à qualidade dos recursos hídricos é proporcional à quantidade de rejeitos liberados pelo desastre. Cerca de 10,9 milhões de metros cúbicos de lama escoaram com o rompimento da barragem, que acumulava 12 milhões de metros cúbicos. Pouco mais de 10% desse montante (1,2 milhão de m3) foi removido. Entre a base da barragem e o Rio Paraopeba, há de 6 milhões a 7 milhões de metros cúbicos de lama, de acordo com o diretor especial de Reparação e Desenvolvimento da Vale, Marcelo Klein. A remoção total só deve terminar em 2022.

Segundo Klein, concluídas as obras emergenciais para a contenção dos rejeitos, um estudo vai determinar se a água está segura para consumo e pesca. Os parâmetros do estudo ainda estão sendo definidos. “São seis meses para termos esse resultado”, afirmou. Termo assinado pela mineradora transfere as ações de monitoramento de recursos hídricos e sedimentos ao longo da Bacia do Rio Paraopeba e do Rio São Francisco para o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).

Parque

O diretor informa que o ritmo da remoção de rejeitos será acelerado com a construção de um parque na área da tragédia que matou 257 pessoas e ainda deixa 13 desaparecidos. Apresentado ontem, o “território-parque”, como foi batizado o projeto de requalificação da área do desastre, vai conciliar lazer, turismo e também geração de renda, pois abrangerá uma agrofloresta voltada para moradores.

A previsão é de que a área verde esteja concluída em dezembro do ano que vem. Segundo a Vale, o parque foi idealizado a partir de reivindicações dos atingidos, e contará com mirante, praças, fontes de água construídas, centro de cultura e artesanato, jardins, campo de futebol, piscinas naturais, anfiteatro, viveiros, entre outras atrações. Uma área simbólica será construída em homenagem às vítimas, com capela, cemitério e espelho d'água para contemplação dos visitantes.

A Vale informou ter concluído neste mês as obras emergenciais, que seguem por uma extensão de 9,6 quilômetros, desde a área do rompimento até a confluência com o Córrego Ferro-Carvão, um dos afluentes do Rio Paraopeba. Elas contemplam a construção de duas barreiras hidráulicas e um dique, que retém o excesso dos rejeitos. No curso do córrego, ainda há 25 pequenas barreiras que colaboram nessa contenção. Também foi implantada uma estação de tratamento de água fluvial.
 
TRANSTORNOS Apesar das obras entregues, a população aponta que ainda há muito a ser feito. “A maioria das pessoas de Córrego do Feijão que perderam parentes não foram indenizadas. Estão tentando acordos. A Vale não indenizou comerciantes e agricultores”, ressalta Jeferson Custódio, da associação de moradores. Klein reconhece que há ainda casos em andamento. De acordo com a Vale, foram celebrados 4 mil acordos, e em 80% o pagamento foi feito. Sobre a água barrenta nas casas, a empresa afirma que está construindo uma adutora de água para solucionar o problema. O sistema de captação de água no Rio Paraopeba para abastecimento da Grande BH deve ser concluído até setembro de 2020. Já a nova adutora do Rio Pará tem previsão de conclusão em julho de 2020.