Carreira do neto de Tancredo vai sendo arrasada com a revelação (em parte) do esquema criado pela irmã jornalista e estrategista para elegê-lo presidente

Indague-se nos meios políticos e de imprensa quem é o cérebro estrategista por trás da carreira de Aécio todos os dedos apontarão para Andrea, a irmã mais velha e jornalista do senador. Muitos acham que ela seria a herdeira mais vocacionada para continuar o legado político do avô Tancredo e que a missão só coube a Aécio por questão de gênero: homens tem precedência sobre mulheres em família tradicional mineira. De todo modo, o sonho da presidência da República, que Tancredo ganhou mas não levou, é comum aos dois irmãos, um projeto familiar. E mesmo atuando à sombra, Andrea ela controlou com mão de ferro todos os cordéis do formidável aparato – ou “esquema”, como chamam os membros da Lava Jato – sobre o qual foi construído o poder de Aécio e dos Neves, eleição após eleição.

COMUNICAR É PRECISO

Na filosofia de vida e de política da jornalista do clã Neves, comunicar é preciso, muito e sempre. Viver nem tanto. Discreta nos modos e simples nos hábitos, Andrea montou e operou a comunicação do irmão desde o início da carreira como deputado. Não à toa, os acusados de envolvimento nas atividades ilegais do “esquema” Neves são todos empresários do setor,à exceção deFrederico Pacheco de Medeiros, um primofaz tudo dos irmãos. Junto com Aécio e Andrea caíram na Lava Jato o publicitário Paulo Vasconcelos, que coordenou a campanha presidencial do PSDB em 2014, e representantes da Data World Pesquisa e PVR Propaganda e Marketing. Os comunicadores são acusados de emitir notas frias para ‘lavar’ o dinheiro da propina recebida pelo senador da J&F e usada para custear ações de comunicação, incluindo a compra “superfaturada” de um veículo de notícias em Belo Horizonte, o jornal Hoje Em Dia.

MÁQUINA PÚBLICA

O aparato de comunicação dos irmãos Neves foi abastecido pelas empresas de Joesley Batista a partir de 2014, como constatou a Lava Jato. E antes? Até as eleições nesse ano, e o fim das administrações do PSDB em Minas Gerais, as estratégias de marketing de Andrea puderam contar com verbas públicas generosas. Nenhum governador gastou tanto como no estado até Aécio assumir o Palácio da Liberdade. O herdeiro de Neves só foi superado por Anastasia, o vice e principal assessor que elegeu como sucessor.

Nos 12 anos da gestão Aécio/Anastasia os gastos de publicidade do Estado de Minas Gerais mais que triplicaram: cresceram exatos 238,59%. A verba anual saltando de R$ 75 milhões em 2003 para cerca de R$ 254 milhões no final de 2013, de acordo com o TCE. Em 2014, a Revista Mercado Comum atualizou monetariamente todos os gastos do período tucano, ano a ano, e chegou a R$ 2.172,58 bilhões, um valor “mais do que suficiente para se construir outra Cidade Administrativa” segundo a revista. A média anual de gastos de publicidade da gestão Aécio/Anastasia foi de R$ 197,5 milhões.

CAIXA PRETA

O art. 17, parágrafo único, da Constituição de Minas Gerais diz que: “A publicidade de ato, programa, projeto, obra, serviço e campanha de órgão público, por qualquer veículo de comunicação, somente pode ter caráter informativo, educativo ou de orientação social, e dela não constarão nome, símbolo ou imagem que caracterizem a promoção pessoal de autoridade, servidor público ou partido político”. Na forma, a lei sempre é respeitada. Na prática, os gastos na área são uma caixa preta. Não há transparência nos gastos. No caso mineiro, o Tribunal de Contas informou os valores gastos mas não divulgou os veículos de comunicação e as agências de publicidade por onde escoaram os vultosos recursos públicos.

TUDO ERRADO

Até agora ninguém quis abrir a caixa preta da veiculação de publicidade oficial, nem mesmo a Lava Jato, porque poderia atingir os mais inatingíveis dos inatingíveis: os barões da mídia. Mas as fontes de irrigação financeira dos esquemas no setor continuam sendo rastreadas, alvo de investigações da PGR e PF. Sigamos o dinheiro é o mantra da força-tarefa anticorrupção. E seguindo o dinheiro da J&F e de empreiteiras, a Lava Jato vai abrindo o aparato dos Neves e fechando o cerco aos irmãos e aos seus parceiros de comunicação.

A influência de Andrea na carreira de Aécio se estendeu às decisões e posições políticas. Ela inspirou o antipetismo agressivo que ele adotou na campanha presidencial. Quase deu certo: o senador chegou a acreditar na vitória durante as apurações, antes das últimas urnas do Nordeste entrarem no TSE e darem vitória a Dilma Rousseff. No fim, saiu tudo errado. Aécio perdeu a eleição e o esquema criado para levá-lo ao Planalto pode conduzi-lo agora a uma cela de prisão. A irmã Andrea já ficou presa 34 dias.

Fonte:www.osnovosinconfidentes.com.br