A repactuação do acordo de reparação pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, não vai atender a maioria das pessoas que participam da ação movida contra a BHP Billiton, uma das responsáveis pela Samarco, no Tribunal Superior de Londres. Cerca de 370 mil solicitantes não serão contemplados pelo acordo brasileiro. A informação foi divulgada pela empresa anglo-australiana em balanço financeiro do segundo semestre de 2024, divulgado nesta semana. 

"O acordo de reparação não resolverá todas as reivindicações dos reclamantes do Reino Unido. No entanto, cerca de 40% dos reclamantes individuais e cerca de 80% dos municípios na reclamação do Reino Unido são elegíveis para aderir e serem pagos por meio desse acordo (se optarem por aderir, eles serão obrigados a retirar suas reclamações estrangeiras)", informou a BHP. 

Conforme os dados, pelo menos 370 mil pessoas e 9 municípios não são elegíveis para o acordo de repactuação coordenado pelo governo federal, o de Minas, do Espírito Santo e o Ministério Público junto à mineradora. Pelo acordo, serão destinados R$ 170 bilhões para ações de reparação e compensação. Os municípios que participarem da medida receberão, ao todo, R$ 6,1 bilhões parcelados em 20 anos.

O Pogust Goodhead, responsável pela defesa dos atingidos, apresentou um estudo com números similares. O texto indica que 36% dos representados seriam elegíveis para compensação através do acordo brasileiro. "Convenientemente, a BHP não comunicou a ninguém, ao assinar o acordo no ano passado com as instituições de justiça e os governos brasileiros, que sabia que menos de 40% dos atingidos que são parte na ação inglesa poderiam participar da repactuação. Assim como já ocorreu no passado, as mineradoras prometeram uma solução definitiva, mas não o fizeram", declarou Tom Goodhead, sócio-gerente global e CEO do Pogust Goodhead. 

Acordo de reparação
As cláusulas do acordo de reparação determinam que R$ 100 bilhões serão repassados aos entes públicos para aplicação em projetos ambientais e socioeconômicos, incluindo programas de transferência de renda. Fazem parte dele a União, os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo e demais municípios que quiserem aderir ao acordo. Até o momento, 12 das 49 cidades elegíveis aderiram à proposta. Na última semana, 23 deles informaram que não pretendem aderir ao acordo nos termos atuais, com pagamento parcelado em 20 anos.

Outros R$ 32 bilhões serão direcionados para recuperação de áreas degradadas, remoção de sedimentos, reassentamento de comunidades e pagamento de indenizações às pessoas atingidas, que serão realizados pela Samarco. Os R$ 38 milhões restantes já foram gastos antes do acordo em ações de reparação dos danos. A previsão é de que 40% do montante total do trato seja destinado a indenizações para vítimas, chegando a 300 mil pessoas atendidas pelo Programa Indenizatório Definitivo (PID). Segundo a minuta do acordo, os afetados receberão R$ 35 mil, enquanto pescadores e agricultores, especificamente, receberão R$ 95 mil.

Conforme análise do escritório que faz a defesa dos atingidos, 233.384 dos clientes da ação inglesa são elegíveis (36,40%) e outros 407.763 (63,60%) não são elegíveis a qualquer tipo de compensação por meio da repactuação. A previsão é de que, entre os clientes potencialmente elegíveis, aproximadamente 96% se qualificariam para o PID, com uma indenização de R$ 35 mil, e cerca de 7% para o programa Dano Água, com valor de R$ 13 mil. 

Segundo a BHP, a consideração de alguns dos participantes da ação em Londres como atingidos pela tragédia ainda depende da culpabilidade da empresa, que será determinada através do primeiro julgamento. A empresa ainda aponta que, desde 2015, mais de 432 mil pessoas já foram indenizadas. "Nossas estimativas sobre a elegibilidade aos programas de indenização consideram os critérios estabelecidos no acordo celebrado por Samarco, Vale e BHP Brasil com Autoridades Públicas e ratificado pelo Supremo Tribunal Federal", declarou em nota. Leia texto completo ao fim da matéria.

Critérios
Conforme informações da BHP Billiton, o programa de indenização definitivo para atingidos pela tragédia considera elegíveis:

Pessoas que se cadastraram na Fundação Renova até dezembro de 2021 ou ajuizaram ações judiciais até outubro de 2021, ou seja, se manifestaram até 06 anos após o rompimento;
Pessoas que ainda não receberam indenizações por meio dos programas oferecidos desde 2015;
Pessoas que residem nos municípios listados no acordo.
Segundo a empresa, aqueles que são parte da ação no Reino Unido e não atenderem aos critérios homologados pelo STF precisarão primeiro estabelecer na Inglaterra a responsabilidade da BHP pelos danos pleiteados. A mineradora defende que, diferente do acordo brasileiro, os atingidos precisarão comprovar os danos sofridos para o processo em Londres, o qual definem como "longo e incerto". Indenizações ainda dependem do reconhecimento de responsabilidade por parte da empresa anglo-americana.

Leia nota completa da BHP
Nossas estimativas sobre a elegibilidade aos programas de indenização consideram os critérios estabelecidos no acordo celebrado por Samarco, Vale e BHP Brasil com Autoridades Públicas e ratificado pelo Supremo Tribunal Federal. O acordo prevê programas abrangentes para o meio ambiente e em benefício das comunidades, incluindo financiamento designado para o sistema de saúde, recuperação econômica, melhorias de infraestrutura e medidas extensivas de compensação e transferência de renda, incluindo para agricultores, pescadores e comunidades indígenas e tradicionais.
 
Como parte do acordo, um novo sistema de indenização será disponibilizado pela Samarco, em adição às indenizações já pagas para mais de 432 mil pessoas. O Programa de Indenização definitivo considera elegíveis:
 
- Aqueles que se cadastraram na Fundação Renova até dezembro de 2021 ou ajuizaram ações judiciais até Outubro de 2021, ou seja, se manifestaram até 06 anos após o rompimento;

- Aqueles que ainda não receberam indenizações por meio dos vários programas oferecidos desde 2015;

- Aqueles que residem nos municípios listados no acordo.
 
- Aqueles que são parte da ação no Reino Unido e não atenderem aos critérios homologados pelo STF precisarão primeiro estabelecer na Inglaterra a responsabilidade da BHP pelos danos pleiteados. Caso haja o reconhecimento dessa responsabilidade, e apenas nessa hipótese, o processo poderá avançar para a fase em que os autores deverão comprovar os seus danos (ao contrário que do que prevê o acordo brasileiro, segundo o qual os elegíveis poderão receber sem precisar de comprovação de dano). O processo na Inglaterra ainda é longo e incerto.
 
A BHP segue com sua defesa a ação no Reino Unido, que duplica e prejudica os esforços já em andamento no Brasil. A BHP Brasil sempre esteve e continua comprometida a apoiar a Samarco nas soluções que garantam compensação e reparação integral, justa e definitiva no Brasil para as pessoas e o meio ambiente atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão.