ONDA VERMELHA


Permitir a reabertura das atividades não essenciais neste momento, em que os hospitais ainda estão lotados de pacientes com Covid, é uma atitude irresponsável do poder público. A opinião é do infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG Geraldo Cunha Cury.

“Só porque houve uma pequena melhora na ocupação, já muda da Onda Roxa para Vermelha e libera todo o comércio? Rapidamente vai tudo voltar para a Onda Roxa, só que não vai ter leitos para todas as pessoas”, afirmou o professor.

O Governo de Minas permitiu a volta para a Onda Vermelha para macrorregiões de Saúde Norte, Sul, Sudeste e Jequitinhonha e as microrregiões de Betim, Belo Horizonte/Nova Lima/Caeté, Vespasiano, Contagem, Curvelo e Manhuaçu. Cada prefeitura pode escolher se mantém a Onda Roxa ou migra para a Vermelha. 

Belo Horizonte ainda está com todo o comércio não essencia fechado. Nesta segunda-feira (19), o prefeito Alexandre Kalil falará sobre as novas medidas de flexibilização das atividades comerciais. Várias cidades da região metropolitana, como Contagem, Nova Lima e Santa Luzia já reabriram o comércio não essencial neste sábado (17). Betim e Ribeirão das Neves preferiram esperar mais uns dias para voltar à Onda Vermelha.

Para o professor Cury, as cidades metropolitanas não deveriam reabrir todas as atividades não essenciais rapidamente. “Muitas dessas cidades têm poucas UTIs, sempre mandam pacientes para Belo Horizonte, sobrecarregando o sistema de saúde da capital”, disse.

O especialista explica que ideal é ter uma reabertura planejada e escalonada, reabrindo aos poucos conforme os indicadores de transmissão da doença e ocupação de leitos. Para ele, o ideal seria segurar a reabertura de alguns setores econômicos, como bares e academias.

“Belo Horizonte tem sido muito responsável nesse sentido. Mas não adianta a capital manter as medidas de segurança sozinha, porque os pacientes das cidades vizinhas vão vir para cá”, explicou.

O infectologista prevê uma piora na situação porque as aglomerações, especialmente entre jovens sem máscara, propiciam o surgimento de novas variantes. Quanto mais o vírus circula, mais mutações acontecem e cresce a possibilidade do surgimento de uma nova variante mais perigosa ou transmissível.

“Em um ambiente fechado, basta uma pessoa estar infectada para transmitir para todas as outras que estão no mesmo local. Isso tem acontecido com essas novas variantes, que são mais transmissíveis. A consequência disso é que em todo o país houve um aumento nas internações de pessoas entre 20 e 29 anos”, disse Cury.

NÚMEROS AINDA SÃO CRÍTICOS

O Governo de Minas afirmou que permitiu o retorno para a Onda Vermelha as regiões onde houve melhora de indicadores. Mas os dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) mostram que a situação ainda é crítica em todo o Estado, sobretudo na região metropolitana de Belo Horizonte.

Conforme dados deste sábado publicados no painel da SES, 94,66% dos leitos de UTI Covid da microrregião de Belo Horizonte estão ocupados. Em Betim a taxa de ocupação é de 94,55% e em Vespasiano é de 85%.

Em relação aos leitos de enfermaria, a taxa de ocupação em Contagem e Vespasiano é de 100%. Isso quer dizer que as duas cidades, neste momento, não conseguem internar quem chega à urgência com sintomas mais agravados da Covid. Em Belo Horizonte o índice está em 81,40%, enquanto em Betim é 86,35%.

Na região do Triângulo do Norte, a primeira a ter permissão para voltar para a Onda Vermelha, a situação continua extremamente crítica. Em Uberlândia, segunda maior cidade de Minas, não há leitos de enfermaria há uma semana, de acordo com o painel da SES-MG. Em relação aos leitos de UTI, 84,3% estão ocupados – a metade deles por pacientes com Covid.

Neste momento, 89,22% das 3.125 unidades de terapia intensiva dedicadas a pacientes com Covid em Minas estão em utilização.