Protagonista de uma história ricamente contada em casarões, museus e igrejas; favorecido por trilhas, cachoeiras e tantas outras belezas naturais; famoso por sua culinária; e, ainda por cima, um celeiro de talentos musicais e artísticos: Minas Gerais é sempre considerado um forte expoente na cadeia produtiva nacional do Turismo e da Cultura. Por ser tão expressiva e envolver tanta gente, o baque com a pandemia de coronavírus foi também gigantesco. “A pandemia abalou o mundo. Profissionais das cadeias produtivas da Cultura e do Turismo ficaram sem trabalho da noite para o dia”, resume o secretário de Estado da Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira. Passado o pior, a partir do avanço da vacinação e a melhora nos indicadores da pandemia, o setor já vê uma luz no fim do túnel. Prova disso são os números oficiais apontando que mais de 21 mil novos empregos foram gerados na área em Minas entre maio e outubro deste ano, conforme relata o secretário Leônidas na entrevista a seguir.


A Secult realizou na terça-feira (7) o Encontro Estadual de Gestores Municipais de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Que balanço o senhor faz do encontro? Quais as principais preocupações os gestores trouxeram para o senhor?


Com mais de 500 gestores, o principal legado do encontro foi uma maior articulação entre os gestores municipais e o sistema estadual de cultura, além do intercâmbio entre os próprios municípios. Os gestores trouxeram preocupações relacionadas à questão de investimentos e aplicação de recursos para o interior, além da necessidade que as iniciativas presentes nos grandes centros cheguem também para o interior mineiro. Várias ações da Secult já estão em curso nesse sentido, tanto com o programa Reviva Turismo como com o Plano Descentra Cultura. Porém, é o programa Secult no Município, que levou o sistema nesse ano a mais de 400 cidades, que tem feito, na prática, a formação, descentralização, democratização e municipalização de ações e recursos. Só no mês de setembro foram 10 mil quilômetros percorridos. 


Sabemos que as áreas de Cultura e de Turismo sofreram bastante com as restrições impostas pela pandemia. Como foi para o senhor, à frente da pasta da Secult, atravessar esse período?


A pandemia abalou o mundo. Profissionais das cadeias produtivas da Cultura e do Turismo ficaram sem trabalho da noite para o dia. Quando iniciamos nossa gestão, faltava, sobretudo para as comunidades tradicionais, guias do turismo, e, para o circo, o básico: alimento. Sabíamos, então, que precisávamos agir rápido. Assim nasceu o Projeto Arte Salva. Arrecadamos e distribuímos 540 toneladas de alimentos, além de roupas, calçados e livros. O edital Arte Salva premiou 1.200 trabalhadores da Cultura. Com a Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH e a Sedese, abrimos a Serraria Souza Pinto e acolhemos pessoas em situação de rua. Depois, com a Lei Aldir Blanc, foram disponibilizados ao Estado cerca de R$ 135 milhões, utilizados no auxílio emergencial, pago em parcela única de R$ 3.000, e em 27 editais nas mais diversas áreas artísticas, contemplando mais de 8.500 beneficiários. Hoje, concentramos os esforços na estratégia mais ampla que é o Descentra Cultura. No Turismo, assim que foi possível, iniciamos as medidas de retomada, que começaram com a campanha Minas para Minas, de turismo de proximidade. Hoje elas integram o Programa Reviva Turismo, centradas nas tendências pós-pandemia e segmentos prioritários, como cozinha mineira, turismo cultural, rural, de aventura, de natureza e de experiências, em quatro eixos: Biossegurança, Estruturação, Capacitação e Marketing. O Reviva levou o Estado a crescimento o dobro da média nacional, segundo dados do IBGE e já criou, até outubro, 17 mil empregos. 

O programa Reviva Turismo foi lançado em maio com expectativa de investimento de R$ 17,5 milhões em ações de incentivo e geração de 100 mil empregos até 2022. Que balanço pode ser feito do programa até agora?


O Programa Reviva Turismo, desde seu lançamento, recebeu novos aportes e hoje conta com R$ 35,5 milhões para serem investidos até 2022. Entre as ações, podemos destacar, por exemplo, o Edital Reviva Turismo. Foram R$ 10 milhões lançados no mercado, para investimentos em projetos de apoio à comercialização e de promoção. Minas Gerais foi escolhida pela plataforma Booking como um dos dez destinos mais acolhedores do planeta e com três das cidades mais acolhedoras do mundo. Um terço das rotas e pistas de cicloturismo do país estão em Minas. Destaco também o lançamento da Rede Integrada de Proteção ao Turismo, em parceria com a PMMG e o Ministério Público do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Turismo, que já foi implantada em Monte Verde, Ouro Preto e Poços de Caldas e que tem o objetivo de promover a segurança ao turista junto aos municípios mineiros. Para esse ano, prevemos chegar a 100 cidades. Com as ações de promoção do Reviva Turismo, estamos tendo sucesso absoluto na atração de turistas de todo o país. Tanto é que estamos crescendo hoje acima da média nacional no volume de atividades turísticas. Uma das metas do Reviva Turismo era estar entre os três principais destinos do país e, apenas em dois meses, conseguimos chegar em primeiro lugar, batendo todas as praias e outros destinos conhecidos. Quanto à outra meta, de gerar 100 mil empregos na área em 15 meses, estamos confiantes que vamos conseguir alcançar. Isso porque, de acordo com dados do Caged, mais de 21 mil novos empregos diretos relacionados ao setor do Turismo foram gerados entre os meses de maio e outubro deste ano. Somente em outubro foram mais de 4.000 postos de trabalho ocupados no setor do turismo no Estado. O fluxo de viajantes no Estado chegou a 17,3 milhões de pessoas até outubro e um outro dado importante que confirma o crescimento é o fluxo de turistas nos aeroportos mineiros, que foi de mais de 779 mil pessoas em outubro de 2021, um aumento de 74% em relação ao mês de maio deste mesmo ano e superior, inclusive, ao mesmo mês de 2019, ou seja, isso demonstra um crescimento real, fora da questão pandêmica.

 Teremos em 2022 a volta dos grandes eventos, feiras, exposições, shows internacionais? A Secult já tem uma ideia de como será isso? Qual a expectativa? O que já pode ser anunciado?


Os grandes eventos já voltaram! Na onda verde do Programa Minas Consciente, grandes competições já voltaram a acontecer, como o jogo do Clube Atlético Mineiro no Mineirão, que recebeu , semanas atrás, público de mais de 60 mil pessoas. A Feira Nacional de Artesanato recebeu, em média, 100 mil pessoas e, na próxima semana, Conceição do Mato Dentro receberá, entre 14 e 18 de dezembro, ciclistas de todo o mundo na Brasil Ride Espinhaço, prova de mountain bike que encerra o calendário internacional de competições da modalidade no Brasil neste ano.

Daqui pra frente, como Minas pretende se “vender” como destino nacional e internacional diante da nova realidade criada a partir da pandemia? O que mudou e o que não muda nunca, digamos?


Minas já está no mercado internacional por meio do programa Minas para o Mundo. As múltiplas potencialidades turísticas de nosso Estado não mudam: paisagens naturais e urbanas exuberantes; a singular cozinha mineira; concentração de patrimônios históricos, culturais e da humanidade; complexo de águas e estâncias hidrominerais e toda a mineiridade representada pelo povo acolhedor. O que muda, se adapta e se aperfeiçoa, diante da nova realidade com a pandemia, é a forma de estruturar os produtos turísticos e os destinos. Todo esse trabalho de estruturação do programa Reviva Turismo vem se dando em consonância com o plano Minas Consciente e com as tendências mundiais para o Turismo no atual contexto, que envolvem a busca por atividades ao ar livre e turismo de natureza, de aventura, rural, cultural e de experiências. Inovamos com a campanha Minas para Minas, oferecendo o destino Minas Gerais para os próprios mineiros, para que estes pudessem se reconhecer, visitar e resgatar o seu amor pelo Estado, exaltando o sentimento de pertencimento do mineiro. Inovamos também na fase atual, que conta com ações de promoção e comercialização do destino Minas Gerais nos modelos B2B (negócio-negócio) e B2C (negócio-consumidor), como, por exemplo, parcerias com operadoras e agências para oferecimento de pacotes para todo o Brasil, ações de audiovisual e turismo autoguiado. E agora seguimos firmes rumo à internacionalização de Minas Gerais, com a abertura de representação do Estado em Portugal e com várias ações já iniciadas no país, como a comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil em Portugal, tendo a participação da Filarmônica de Minas Gerais.

E o turismo interno, entre os próprios mineiros? Que papel tem na estratégia da Secult?


Uma de nossas grandes campanhas para retomada do turismo e atração de turistas é a Minas para Minas. Com um Estado de território extenso, há espaço para se trabalhar questões como o reconhecimento e a valorização de Minas Gerais por seu próprio povo, reforçando aspectos como a memória, o resgate do afeto pelo próprio Estado e o sentimento de mineiridade. Importante destacar que contamos com a valiosa parceria da Empresa Mineira de Comunicação (EMC). O objetivo é captar a mineiridade e transmiti-la para a tela da TV e para as ondas do rádio por meio de séries de produções audiovisuais veiculadas nas programações da Rede Minas e da Rádio Inconfidência.

Minas é reconhecidamente um grande polo de atrações tanto no turismo como na cultura, com sua rica gastronomia, as cachoeiras e trilhas, os casarões e igrejas históricas, os museus, o turismo de negócios, o artesanato, a musicalidade… Como as políticas públicas podem ajudar a transformar tudo isso em oportunidades de empreender, gerar emprego e renda, trabalho, negócios?


A mineiridade é nosso maior produto e Minas é a terra da liberdade, nada mais contemporâneo que isso, permeado pelo elo que é a cozinha mineira. A geração de emprego e renda é o maior objetivo pós-pandemia, e temos várias ações nesse sentido, como o Reviva Turismo e o Descentra Cultura. Seu objetivo é democratizar o acesso aos bens e serviços da cadeia produtiva da cultura. O principal ponto é o projeto de lei 2.976/2021, que propõe mudanças na lei 22.944/2018, que institui o Sistema Estadual de Cultura, o Sistema de Financiamento à Cultura e a Política Estadual Cultura Viva, tendo um olhar descentralizador no que diz respeito aos mecanismos de financiamento à cultura em Minas Gerais. Nossa proposta é tornar o acesso a esses instrumentos cada vez mais democrático e possibilitar que as políticas públicas para o fomento cultural se estendam a todo o território mineiro, diminuindo as contrapartidas e pontuando projetos no interior do Estado. Destaco ainda o Plano Estadual de Desenvolvimento da Cozinha Mineira, lançado neste ano, que reúne 72 iniciativas, com investimento de R$ 2,3 milhões em ações estratégicas para o Reviva Turismo na área de gastronomia. Em parceria com o Iepha, iniciamos a jornada para registrar a Cozinha Mineira como patrimônio cultural estadual, com o Inventário da Cozinha Mineira, visando que ela seja, em seguida, a primeira do país reconhecida como patrimônio do Brasil, e almejando também o reconhecimento mundial junto à Unesco futuramente.

Dentro dos projetos da pasta, o que está sendo pensado de novo para o Circuito Liberdade? Há muito se fala em uma melhor infraestrutura, com funcionamento 24 horas, estacionamentos subterrâneos, rede de serviços… o que o senhor pode adiantar? 


O Natal está na Praça, e o Palácio da Liberdade está já com a tradicional iluminação. Exposição de presépios no Iepha, além de cantatas de sexta a domingo no Palácio da Liberdade até janeiro. Shows, mostras serão intensamente feitas em 2022. Também, recentemente, anunciamos a expansão efetiva do Circuito Liberdade, que passa a abarcar novos espaços históricos, culturais, artísticos, paisagísticos e culinários, como o Palácio das Artes; a CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais; a Filarmônica; a Mineiraria; o Cine Theatro Brasil Vallourec; o Cura - Circuito Urbano de Arte; o Mercado Central; o Museu de Artes e Ofícios; o Museu dos Brinquedos; o Museu Inimá de Paula; o Sesc Palladium; a Sociedade Mineira de Engenheiros e o Teatro Feluma. Em outubro de 2020, quando a Secult assumiu a gestão do complexo cultural, a pasta apresentou ao público o projeto de sua ampliação, abrangendo uma área maior e resgatando o projeto original da construção da capital mineira de 1895, quando a cidade estava delimitada pela avenida do Contorno. Destaco que a Cozinha Mineira e as belas paisagens da capital serão as protagonistas das rotas turísticas que serão inauguradas no Circuito Liberdade. Voltadas à visitação permanente, a rota da Cozinha Mineira e a rota de Parques, Praças e Jardins têm o objetivo de resgatar parte da história de Belo Horizonte. A primeira delas é um projeto de valorização dos saberes e sabores mineiros, que envolve museus, mercados, botecos, restaurantes e cafeterias. A segunda rota, dos Parques, Praças e Jardins, inclui 25 espaços que podem ser vivenciados de acordo com a vontade e com a liberdade de cada um.

O governador Romeu Zema é um liberal convicto. Na área da Cultura e do Turismo, os equipamentos culturais, o que está no radar do governo em termos de privatização?
Não há no governo, hoje, nenhum equipamento cultural com planejamento de privatização. No entanto, com o lançamento pela Secult, neste ano, de um Procedimento de Manifestação de Interesse, interessados puderam apresentar propostas para auxiliar a administração pública a estruturar projeto de concessão de imóveis pertencentes ao Estado situados ao redor da Praça da Liberdade, no Circuito Liberdade. A iniciativa busca alternativas de ocupação e uso de espaços públicos ociosos, criando alternativas de atrativos turísticos e culturais.

Para encerrar, gostaria que o senhor, a partir da larga vivência como gestor cultural, fizesse um balanço de como tem sido essa experiência à frente da Secult. Quais as maiores dificuldades, os maiores desafios, as apostas, as expectativas? E o que espera de 2022?


Acordo todos os dias e agradeço a Deus! Trabalhar com as pessoas dos municípios, conhecer Minas tem sido um imenso aprendizado. Minas Gerais é um Estado de espírito, possui cidades lindíssimas, paisagens que não imaginava existir e uma diversidade que nos faz um país. Costumo dizer que não há como falar de cultura sem falar de turismo e vice-versa. Buscar trabalhar a transversalidade entre estes dois setores no Estado cada dia faz mais sentido pois nosso Estado é cultural e nosso turismo é, na sua maior parte, turismo cultural. Para 2022, esperamos que as nações se voltem para o desenvolvimento sustentável e solidário e numa Cultura de PAZ, em um cenário de superação da pandemia. Em Minas Gerais, nossa meta será mergulhar em nossa mineiridade para mostrar e promover cada vez mais o que Minas Gerais tem de melhor para o Brasil e para o mundo.