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O Expresso Dubai abarca 69 pessoas de nove ministérios e da Vice-Presidência da República — em média, sete viajantes por pasta. De tão inchado, o número de participantes chegou a ser questionado pela área técnica de alguns ministérios, pelo visto, em vão. Para efeito de comparação, a comitiva que viajou para Nova York com o presidente Jair Bolsonaro, em setembro, para participar da Assembleia Geral da ONU, reunia 45 pessoas. O valor total da viagem alcançou R$ 1,1 milhão.
Um dos relatos mais precisos e representativos da excursão foi feito pelo secretário da Pesca, Jorge Seif, numa rede social. Em vídeo gravado numa praia, ele próprio se referiu ao evento como “trabalho-passeio” e disse que a cidade “é top demais”: “Estamos trabalhando, não estamos passeando, promovendo o turismo da Amazônia. Lógico que isso aqui, naturalmente, é um trabalho-passeio, né?”.
A Embratur gastou cerca de R$ 2,3 milhões — sem licitação — na montagem do pavilhão, cujo tema é a Floresta Amazônica. Claro que de pouco adianta mandar comitiva aos Emirados Árabes para promover a Amazônia se o mundo inteiro sabe que ela arde sem parar sob a vista grossa do governo Jair Bolsonaro. Melhor seria agir aqui mesmo, evitando as queimadas e os desmatamentos que não param de bater recordes.
Embora o governo alegue que a Expo Dubai, voltada para turismo e tecnologia, é um dos maiores eventos do mundo e uma oportunidade para reuniões com empresários e potenciais investidores, é preciso pesar o custo-benefício da turnê. Nada há de anormal em promover o país nos fóruns adequados, como feiras e exposições internacionais. Mas órgãos de controle têm obrigação de avaliar os gastos dessa empreitada e os resultados práticos da participação brasileira no evento — as postagens nas redes sociais fornecem bom material.
Em qualquer situação, a farra com dinheiro público em Dubai já seria um acinte à sociedade. No momento atual, com o dólar nas alturas, o desemprego inclemente e a economia devastada pela pandemia, mais ainda. É um contrassenso que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações envie para Dubai uma delegação de 24 pessoas, incluindo o ministro Marcos Pontes, enquanto reclama de um corte de R$ 600 milhões para a área de pesquisas que promoverá um apagão na ciência. Fica claro que o problema de um governo deficitário não é apenas gastar muito, mas, principalmente, gastar mal.
Fonte:Editorial de O Globo (17/10/2021)
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O Expresso Dubai abarca 69 pessoas de nove ministérios e da Vice-Presidência da República — em média, sete viajantes por pasta. De tão inchado, o número de participantes chegou a ser questionado pela área técnica de alguns ministérios, pelo visto, em vão. Para efeito de comparação, a comitiva que viajou para Nova York com o presidente Jair Bolsonaro, em setembro, para participar da Assembleia Geral da ONU, reunia 45 pessoas. O valor total da viagem alcançou R$ 1,1 milhão.
Um dos relatos mais precisos e representativos da excursão foi feito pelo secretário da Pesca, Jorge Seif, numa rede social. Em vídeo gravado numa praia, ele próprio se referiu ao evento como “trabalho-passeio” e disse que a cidade “é top demais”: “Estamos trabalhando, não estamos passeando, promovendo o turismo da Amazônia. Lógico que isso aqui, naturalmente, é um trabalho-passeio, né?”.
A Embratur gastou cerca de R$ 2,3 milhões — sem licitação — na montagem do pavilhão, cujo tema é a Floresta Amazônica. Claro que de pouco adianta mandar comitiva aos Emirados Árabes para promover a Amazônia se o mundo inteiro sabe que ela arde sem parar sob a vista grossa do governo Jair Bolsonaro. Melhor seria agir aqui mesmo, evitando as queimadas e os desmatamentos que não param de bater recordes.
Embora o governo alegue que a Expo Dubai, voltada para turismo e tecnologia, é um dos maiores eventos do mundo e uma oportunidade para reuniões com empresários e potenciais investidores, é preciso pesar o custo-benefício da turnê. Nada há de anormal em promover o país nos fóruns adequados, como feiras e exposições internacionais. Mas órgãos de controle têm obrigação de avaliar os gastos dessa empreitada e os resultados práticos da participação brasileira no evento — as postagens nas redes sociais fornecem bom material.
Em qualquer situação, a farra com dinheiro público em Dubai já seria um acinte à sociedade. No momento atual, com o dólar nas alturas, o desemprego inclemente e a economia devastada pela pandemia, mais ainda. É um contrassenso que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações envie para Dubai uma delegação de 24 pessoas, incluindo o ministro Marcos Pontes, enquanto reclama de um corte de R$ 600 milhões para a área de pesquisas que promoverá um apagão na ciência. Fica claro que o problema de um governo deficitário não é apenas gastar muito, mas, principalmente, gastar mal.
Fonte:Editorial de O Globo (17/10/2021)