No início do ano passado, em um jantar com Fernando Pimentel, então governador de Minas Gerais, ele me disse que tinha acontecido, naquele dia, uma solenidade de formatura da PM mineira cujo paraninfo da turma foi o Jair Bolsonaro. O governador me contou ainda que o ex-capitão estava viajando o Brasil e recebendo homenagens de turmas da PM em quase todas as grandes cidades. Na época, apurei que muitas das saudações trocadas entre as tropas e Bolsonaro eram carregadas de simbolismo ideológico de extrema-direita. Imagino que estes militares e suas famílias fazem parte, ainda hoje, dos grupos de WhatsApp bolsonaristas.
Na manhã desta sexta-feira, 11 de outubro, minha suposição se concretizou. O governador de São Paulo, João Dória, foi vaiado duas vezes pela plateia que ocupava parte das arquibancadas do sambódromo na formatura de sargentos da PM. Uma situação constrangedora e perigosa: não era Dória quem estava sendo desrespeitado naquele momento, mas o mandato que ele democraticamente exerce.
Outro espetáculo preocupante proporcionado pelos familiares dos PMs foram os gritos de "mito" em saudação a Bolsonaro. O recado é claro: para grande parte da PM paulista e de muitos estados do país, o comando das tropas policiais militares pode muito bem ser substituído pela liderança do capitão presidente. Uma polícia ostensiva e preparada para operações urbanas com um efetivo de 425 mil homens que podem se sublevar ao comando dos governadores civis a qualquer momento.
Esse contingente de PMs é quase o dobro dos jovens soldados que compõe hoje o Exército brasileiro. Soldados que vivem dentro dos quarteis e não têm expertise em ações ostensivas nas cidades.
A extrema-direita que repetiu à exaustão o mantra de que a esquerda iria transformar o Brasil em uma Venezuela, está bem perto de repetir, de certa maneira com o ex-capitão Bolsonaro, o modelo chavista baseado no apoio incondicional dos militares de baixa patente.
Esta identificação ideológica dos policiais militares pelo bolsonarismo pode desembocar na formação de uma tropa de elite nacional nos moldes da SS nazista. Policiais comprometidos com os ideais da cruzada contra os progressistas e na destruição dos pilares institucionais da nossa República Democrática.
Não sou adepto da teoria da conspiração, mas acho prudente pensarmos em todas as possibilidades que podem se colocar mais à frente. E a possibilidade de um golpe de Estado ainda é uma ameaça que paira no ar.