Aumentar o volume e a qualidade da água nas nascentes dos rios Japoré, Itacarambi e Calindó, afluentes do Velho Chico, no Norte de Minas, é um sonho de ambientalistas, agricultores e moradores que está prestes a se tornar realidade. Aprovado pelo Comitê das Bacias Hidrográficas do São Francisco (CBHSF), um projeto da UFMG visa a revitalizar as cabeceiras.

Após a pandemia de Covid-19, as ações para recuperar os recursos hídricos do semiárido mineiro serão executadas em até seis meses. Os cursos d’água ficam em Miravânia, quase na divisa com a Bahia, e deságuam no Velho Chico, perto de Itacarambi. Atualmente, as principais ameaças são a degradação e o uso ineficiente da água por agricultores.


Mestre e doutor em Engenharia Agrícola, Flávio Pimenta é o coordenador do projeto. O professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, em Montes Claros, explica que os locais que receberão as intervenções já foram mapeados. Ao todo, R$ 500 mil foram aprovados em um edital do comitê do São Francisco. 

A revitalização das nascentes consiste em fazer com que a água da chuva infiltre entre no solo, e atinja o aquífero freático. 
“A partir do momento em que aumento a torneira, a nascente, dou acesso a mais produtores rurais”, indica.

Segundo o engenheiro agrícola, serão construídas pequenas barragens de contenção da chuva (buracos abertos no solo para que ela não escoe). Alguns terraços serão erguidos também para reter essa água. 

Outra ação será o cercamento das nascentes, para que animais não tenham acesso. Os bichos pisoteiam o solo, o que diminui a infiltração de água. 
 

Conscientização


O projeto ainda prevê investimento em educação ambiental nas escolas da região. A intenção é passar aos filhos dos agricultores a ideia de que preservação dos recursos hídricos depende das atitudes de cada um. 

“Eles já sentiram o que é ficar sem água. Só vai ter água em abundância e de boa qualidade se as atitudes partirem deles”, alerta Flávio Pimenta.
Hoje, alguns agricultores desviam a água desses rios, através de barragens, para levá-la às propriedades, onde trabalham com o que se chama no Norte de Minas de “água rolada”.


Tecnicamente, detalha Flávio Pimenta, eles fazem uma irrigação de superfície, distribuindo a água em sulcos, inundando o solo e causando muito desperdício. “Como esse sistema consome muita água, outras propriedades situadas à frente ficam prejudicadas”, descreve.

Além disso

O projeto de pesquisa e extensão da UFMG leva o nome “Ações de revitalização dos recursos hídricos no município de Miravânia, no semiárido mineiro”. Após esse piloto, intenção é levar as ações a nascentes de outros rios da Bacia do São Francisco. “Depois que a gente começar e as pessoas observarem a importância de cuidar dessas nascentes, isso vai se multiplicar”, acredita o engenheiro agrícola Flávio Pimenta. O educador alerta que o uso errado de um curso d’água pode até secá-lo. “Tivemos oito anos de seca e, nesse período, o rio acabou secando em vários pontos”, recorda o professor.