Ninguém sabe o endereço da filósofa e professora Marcia Tiburi na França. Exilada no país europeu após sofrer ameaças de morte, ela está há um ano sem ver o marido Rubens Casara, ainda residindo no Brasil e com quem divide a autoria do livro “Um Fascista no Divã” (Editora Nós), que será lançado amanhã, às 19h, dentro do “Sempre um Papo”, com transmissão pelas redes sociais do projeto.


“É horrível falar sobre isso. Sigo fazendo o que posso, esperando que as lutas nos levem a superar todo este estado de coisas. Espero poder voltar ao Brasil um dia, mas, enquanto não puder, vou ficar por aqui”, registra Marcia. Ela lembra que, em 2015, quando lançou “Como Conversar com um Fascista”, ela chegou a ser tachada de exagerada. “Infelizmente, eu tinha razão”, lamenta.


Transposição de uma peça criada em 2017 e ainda inédita nos palcos, “Um Fascista no Divã” é, segundo a autora, mais uma prova de que tinha razão há seis anos. O texto acompanha um candidato a presidente que, a pedido de dos publicitários da campanha, topa fazer algumas sessões com uma psicanalista. Ele está à beira de um ataque de nervos e, para não perder a eleição, aceita ser “analisado”.

Aliás, como logo o leitor irá perceber, o divã acaba sendo apenas um palco para o candidato desfiar um pensamento autoritário. “Fazer psicanálise seria um paradoxo, já que os fascistas são sujeitos paranóicos e não têm a capacidade de refletir sobre eles mesmos, diferentemente de pessoas que, como nós, se questionam, sofrem e passam por dramas internos”, observa a escritora gaúcha.

O paradoxo reflete numa história tensa, segundo ela, em que o paciente não tem nada para dizer e o psicanalista se vê sem nenhuma matriz subjetiva básica do ser humana para ser analisada. “O texto trabalha com esta situação mental, de um sujeito totalmente dominado por clichês e que não consegue desenvolver um raciocínio. O psicanalista se torna a voz da razão e da perplexidade”.

Por meio do teatro, que seria o primeiro formato de “Um Psicanalista no Divã”, Marcia acreditava que esta arte poderia agir mais diretamente na sensibilidade do espectador. “A teoria tem que explicar, mostrar pesquisas, relatar situações, mas quando você vai para o teatro, ele lhe faz sentir. No Brasil, as pessoas têm certa indisposição com a teoria. São melhor atingidas pela arte”, argumenta.


O livro exibe um outro dom de Marcia Tiburi: ela assina, pela primeira vez, as ilustrações de capa e contracapa. “Desde que saí do Brasil, passei a trabalhar no campo das artes visuais. Já fiz muita coisa nesta linha, que é uma novidade na minha vida. É também fruto dessa ideia de entender as artes como uma forma de promover outras formas de comunicação com as pessoas”.