Segundo o diretor-geral da agência de Saúde da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a dimensão da crise é profunda

O sistema de saúde da Venezuela perdeu 20% de sua capacidade de atuação diante da crise que enfrenta o país. A avaliação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que denuncia as dificuldades enfrentadas no país sul-americano. Segundo a agência, 20 mil médicos e 5 mil enfermeiros deixaram o país desde o início da crise.
Segundo o diretor-geral da agência de Saúde da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a dimensão da crise é profunda. "O setor de saúde foi atingido e sua capacidade reduzida", disse. "Estimamos que, em comparação a sua dimensão original, o setor está operando com uma capacidade de 80%", disse o africano, citando a saída de médicos e enfermeiros do país.
"Também vimos o aumento da malária e outras doenças. Estamos ajudando com compra a determinados setores, como vacinas, e temos canais abertos com o governo", indicou. Segundo ele, a OMS também está prestando assistência para os refugiados e imigrantes no Peru, Brasil, Colômbia e Equador.
Tedros indicou que a meta da agência é preencher as lacunas deixadas pela crise e também pedir o compromisso do governo para garantir recursos à saúde primária.
As declarações são dadas uma semana depois de a ONU admitir que começou a prestar ajuda humanitária dentro da Venezuela para atender o setor de saúde e de alimentação, numa iniciativa que tenta estabilizar o fluxo de venezuelanos que deixa o país. Por anos, o governo de Caracas se recusava a aceitar qualquer ajuda internacional, alegando que isso seria uma justificativa para eventualmente promover uma intervenção militar, com uma desculpa humanitária.
Dos US$ 9,5 milhões enviados pela ONU, a maior parcela do dinheiro está indo para a OMS. A agência terá US$ 3,6 milhões para gastar no fortalecimento de hospitais, ajudar a pagar salários e até mesmo na compra de remédios.
Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a situação aponta para a fuga de um a cada três médicos do país e a explosão de casos de aids, malária, tuberculose, sarampo, difteria e outras doenças. Em 2014, por exemplo, estavam registrados 66,1 mil médicos na Venezuela. Em 2018, 22 mil já deixaram o país.
Os dados de mortalidade infantil também mostraram que o país regrediu em 40 anos. Depois de anos de melhorias, os índices de 2017 eram equivalentes ao que se registravam na Venezuela em 1977. No Estado de Miranda, um estudo ainda mostrou que os idosos chegam a perder 16 quilos por ano em média por escassez de alimentos nos centros de atendimento.