MILWAUKEE, EUA (FOLHAPRESS) - O ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson é uma voz solitária em uma convenção republicana que se transformou em um culto a Donald Trump. Crítico do empresário, ele chegou a disputar a nomeação do partido, mas foi derrotado como todos os demais. É um dos poucos que não o endossou até agora -e não deve mudar de posição.

"Eu já estive em seis convenções republicanas, e esta é a mais unida que já vi. No entanto, o fato de a convenção estar unida não significa que o partido está totalmente unido", afirmou em entrevista a jornalistas estrangeiros, questionando a narrativa ecoada pela base trumpista.

"Estamos unidos em nossa oposição à liderança democrata sob o comando do presidente Biden, e precisamos de uma mudança. Mas, além disso, há pessoas que não estão nesta convenção, como o ex-vice-presidente Mike Pence e muitos do governo Bush, que não se sentem confortáveis com a plataforma ou a direção que Donald Trump está levando o partido", disse.

Apesar de admitir estar do lado perdedor do debate nesse momento, ele se diz otimista no longo prazo. "Esse é o sistema bipartidário na América, onde há muita lealdade ao partido. Às vezes, o partido exige demais", disse.

Hutchinson pertence à ala conservadora tradicional, o chamado establishment republicano, que foi atropelado pelo movimento Maga, a sigla em inglês que batiza os leais apoiadores de Trump em torno do slogan "torne a América grande de novo".

A força política do ex-presidente junto a esse grupo resulta de sua habilidade de comunicação, avalia o ex-governador. "Trump oferece soluções simplistas que ressoam com os eleitores americanos. 'Fecha a fronteira, crie empregos na indústria, acaba com o crime'. Obviamente a solução é um pouco mais complicada do que isso", afirmou.

A embalagem que o vice escolhido por Trump, J.D. Vance, deu a essa plataforma em seu discurso na convenção na quarta (17) foi "muito boa", na opinião do ex-governador.

"Quando você fala sobre apoiar os trabalhadores versus Wall Street, isso ressoa. Sempre que você fala sobre Mamaw [vovó] e sobre os desafios do vício em drogas e da pobreza. Eu achei que ele tinha uma mensagem muito, muito boa. E ele evitou as visões mais controversas que já expressou", avaliou.

Caso Trump seja eleito, ele prevê mais um período de caos nos EUA, mas acredita que há freios institucionais para proteger a democracia americana.

"Trump quer usar decretos executivos. Ele já fez isso no passado. Alguns deles sobrevivem. Alguns são derrubados pelos tribunais por estarem fora de sua autoridade", disse. "Se Trump for eleito, haverá testes e crises constitucionais, e haverá caos. Mas, no final, graças a Deus, temos uma democracia resiliente e muita supervisão que ajudará a manter nossa democracia no caminho certo", avaliou.

Ao mesmo tempo, ele acredita que o empresário sofrerá menos resistência interna, como aconteceu em seu primeiro mandato. Caso Trumpr volte à Casa Branca, Hutchinson prevê que o republicano formará um governo com nomes muito mais leais a ele.

"Ele quer ter um Executivo unificado. Ele quer ter uma presidência poderosa", disse. "Não acho que eles terão os freios e contrapesos internos que você viu até mesmo na primeira administração", afirmou.

Ele espera que lideranças republicanas no Senado e na Câmara tenham um impacto moderador sobre um eventual governo Trump, especialmente em temas como a Otan, o apoio à Ucrânia e comércio exterior. Ele cita a conversão do presidente da Câmara, Mike Johnson, que, apesar de inicialmente ser contra o apoio a Kiev, após assumir o cargo, foi convencido da importância estratégica da relação e mudou de posição.