AMEAÇA DE CORTES

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou o jovem candidato socialista Zohran Mamdani, que venceu as primárias democratas para a Prefeitura de Nova York. Em entrevista à Fox News no domingo (29/6), o republicano disse que, caso Mamdani seja eleito, poderá cortar repasses federais à cidade se ele "não se comportar".

"Ele vai ter que fazer a coisa certa, ou Nova York não receberá dinheiro algum. Ele precisa se comportar ou não terá nenhum recurso", disse Trump.

O presidente ainda chamou Mamdani, um político muçulmano de 33 anos, de "um comunista puro" e, por isso, classificou sua possível vitória como "inconcebível". A ameaça não é simbólica. Segundo o The Guardian, mais de US$ 100 bilhões são destinados anualmente a Nova York por meio de repasses e programas federais.

Deputado estadual com visões progressistas, Mamdani sacudiu o o establishment do Partido Democrata ao desbancar o seu principal concorrente, o ex-governador do estado Andrew Cuomo, nas primárias.

As pautas defendidas por Mamdani incluem ônibus gratuitos por toda a cidade, uma rede de supermercados públicos geridos pela prefeitura para baratear preços, o congelamento de aluguéis e aumento de impostos sobre os mais ricos.

'Não sou comunista'

Em entrevista à NBC também no domingo, Mamdani negou ser comunista e acusou Trump de tentar desviar o foco. "Estou lutando pelas mesmas pessoas trabalhadoras que ele prometeu defender e que depois traiu", disse ele sobre o presidente.

Ele defendeu sua campanha, apesar da resistência entre alguns democratas; o deputado estadual tem o respaldo de líderes da ala socialista democrata, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, mas o líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, disse à rede ABC que ainda não está pronto para declarar apoio a Mamdani. Segundo ele, é preciso compreender melhor a visão do candidato.

Outros nomes importantes do partido, como a governadora de Nova York, Kathy Hochul, e o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, também não se manifestaram até aqui.

Madani afirmou não estar preocupado. "Acho que as pessoas ainda estão se inteirando desta eleição", disse ele. "O que estamos mostrando é que, ao colocar os trabalhadores em primeiro lugar e retornar às raízes do Partido Democrata, temos, na verdade, um caminho para sair deste momento em que enfrentamos o autoritarismo em Washington".

Nova York

Mamdani disse que o aumento dos tributos serviria para financiar os programas de assistência defendidos por ele. "Nova York é a cidade mais rica do país mais rico da história, e ainda assim um em cada quatro nova-iorquinos vive na pobreza, enquanto muitos outros vivem presos em um ciclo constante de ansiedade", afirmou ele na entrevista.

O atual prefeito, Eric Adams, eleito como democrata, concorrerá à reeleição como candidato independente, após o Departamento de Justiça sob a gestão Trump ter retirado acusações de corrupção contra ele, o que alimentou acusações de favorecimento político, negadas por Adams.

O candidato republicano é Curtis Sliwa, fundador do grupo de vigilância comunitária anticrime Guardian Angels. Andrew Cuomo ainda não decidiu se permanecerá na disputa como independente.

Mamdani nasceu em Kampala, capital de Uganda, na África, e aos sete anos mudou-se para Nova York com os pais, cujas famílias têm origem indiana. Filho de um professor de Columbia e de uma cineasta, ele tornou-se cidadão americano em 2018.

Ele formou-se em estudos africanos pela Bowdoin College. Ali, criou um grupo de defesa da Palestina, uma das bandeiras que ergueu na sua campanha a prefeito. Em 2020, foi eleito deputado estadual.

Analistas apontam que o deputado se sobressaiu com um discurso focado em necessidades da população e com domínio das redes sociais, pelas quais conseguiu se conectar com os jovens, marcando uma mudança geracional.