O presidente americano, Donald Trump, usou um tom desafiador nesta sexta-feira (2) para responder às críticas a seu plano de adotar tarifas de importação sobre o aço e o alumínio, dando a entender que uma guerra comercial seria bem-vinda.
"Quando um país (EUA) está perdendo bilhões de dólares no comércio com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras comerciais são boas, e fáceis de ganhar", escreveu Trump no Twitter.
"Por exemplo, quando estamos abaixo de US$ 100 bilhões com um certo país e eles ficam fofos, não negocie mais - nós ganhamos muito. É fácil!", escreveu o presidente.
Trump tuitou depois que eles devem proteger o país e os trabalhadores e que a indústria do aço não está em uma boa forma. "Se você não tem aço, você não tem país", afirmou.
E em seguida ele postou nova mensagem dizendo que "quando um país impõe uma taxa de 50% e nós tributamos o mesmo produto entrando em nosso país em zero, não é justo ou inteligente. Em breve vamos começar com impostos recíprocos, de modo que cobraremos o mesmo que nos cobrarão. Déficit comercial de US$ 800 bilhões - não há escolha!".
Temores de uma guerra comercial atingiram nesta sexta-feira os mercados acionários da Ásia e Europa, principalmente o preço das ações de siderúrgicas e de fornecedores para o mercado norte-americano. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, tinha desvalorização de mais de 1%, puxada pelas ações das empresas do setor de siderurgia Usiminas, CSN e Gerdau.
Durante uma reunião na Casa Branca com representantes da indústria siderúrgica americana, Trump indicou na quinta-feira (1) que as tarifas sobre o aço devem chegar a até 25%, enquanto as taxas de importação de alumínio seriam de 10%.
Trump argumenta que as tarifas vão proteger os setores de siderurgia e alumínio do país, que estariam sofrendo competição desleal de outros países nos últimos anos.
O alvo principal da medida é a China, país que é o maior produtor mundial de aço e alumínio - este último também deve ser sobretaxado em 10%, segundo o governo dos EUA.
Apesar do foco principal no país oriental, a indústria brasileira será duramente afetada pela medida, caso ela não seja revertida.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, depois do Canadá, e o primeiro em vendas de aço semiacabado - matéria-prima para produtos laminados - ao mercado americano.
Pequim reage
A China pediu nesta sexta-feira ao governo dos Estados Unidos para "conter" o uso de medidas protecionistas e a "respeitar as regras" do comércio internacional.
"Se outros países seguirem seus passos, isto teria um impacto grave na ordem do comércio mundial", afirmou Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Hua Chunying reiterou a posição do ministério chinês do Comércio sobra as tarifas de importação sobre o aço e alumínio. Ela recordou que o governo dos Estados Unidos adotou mais de 100 medidas contra as importações, o que significa uma "proteção excessiva para seus bens nacionais".
"A China pede que os Estados Unidos mostrem moderação no uso de medidas comerciais protetoras, respeitem as regras comerciais multilaterais e contribuam positivamente para o comércio internacional", disse Hua Chunying.
A siderurgia se tornou um ponto-chave para Trump, que prometeu restaurar a indústria dos EUA e punir o que ele vê como práticas comerciais injustas, particularmente pela China.
Embora a China represente apenas 2% das importações de aço dos EUA, a expansão da indústria chinesa ajudou a produzir um excesso de oferta global de aço que reduziu os preços.
Europa ameaça com retaliação
A Comissão Europeia disse nesta sexta-feira que vê o comércio internacional como uma situação de ganha-ganha em que todos se beneficiam.
"Nós vemos as relações comerciais internacionais como uma situação em que todos ganham. Nós não vemos isso como uma situação em que, como em um jogo em que uma parte perde porque a outra ganha. O comércio é benéfico para todos. Ele precisa acontecer com base em regras e essas regras estão em vigor", respondeu um porta-voz ao tuíte de Trump de que "as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar".
A Comissão disse que responderá para defender seus interesses. "As medidas que estamos preparados para tomar provarão que nós, com base nas regras, não hesitamos em proteger nossa indústria", disse o porta-voz.
A chefe de comércio da União Europeia advertiu nesta sexta-feira sobre possível retaliação se o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio se aplicar à Europa.
Falando em Cingapura, a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, ressaltou que qualquer ação que atinja a Europa seria "profundamente injusta".
"Estamos discutindo diferentes medidas. Tudo, desde levar o caso à OMC (Organização Mundial do Comércio), sozinho ou com parceiros também afetados, e também medidas de proteção e possível retaliação", disse Malmstrom.
"Essas são coisas que estamos discutindo internamente na Comissão (UE) e nos nossos Estados-membros. Mas, obviamente, nada será anunciado até que possamos conhecer a extensão das medidas."
O ministro do Comércio da Austrália, Steven Ciobo, disse que a decisão pode levar à retaliação por parte de outras economias e à perda de empregos.
"A imposição de uma tarifa como esta não fará nada além de distorcer o comércio e, finalmente, acreditamos, levará a uma perda de empregos", disse o ministro em Sydney. A Austrália buscou uma isenção para suas exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos, acrescentou.
(Com Reuters e AFP)