Inspirada na ação feita na Islândia há algumas semanas, a Suíça realizou neste domingo um funeral simbólico pelo desaparecimento de uma das geleiras mais estudadas do mundo, a Pizol, em consequência dos efeitos do aquecimento global. 
 
Cerca de 250 pessoas, algumas vestidas de preto, se reuniram após duas horas de trilha pela antiga geleira, localizada perto de Liechtenstein e da Áustria, a 2.700 metros de altitude.
 
"Viemos aqui para dizer 'adeus'" ao Pizol, declarou Matthias Huss, glaciologista da Escola Politécnica Federal de Zurique. O pároco de Mels, a comuna onde a geleira ficava, pediu  a "ajuda de Deus para superar o enorme desafio das mudanças climáticas". 
 
A cerimônia ocorre na véspera da reunião especial da ONU sobre o clima, nesta segunda-feira, em Nova York. Vários chefes de Estado comparecerão para reforçar seus compromissos em limitar o aquecimento do plano a até 2ºC em relação ao período pré-industrial. 
 
Na Suíça, a montanha Pizol "perdeu tanto de sua essência que, do ponto de vista científico, não é mais uma geleira", explicou à AFP Alessandra Degicomi, da Associação Suíça para a Proteção do Clima, uma das ONGs que organizou o velório. 
 
Os participantes, entre eles crianças, depositaram flores na montanha. Não foi instalada nenhuma placa comemorativa - como fizeram os islandeses em 18 de agosto, em memória do Okjökull, primeira geleira da ilha a perder seu status. 
 
"Desde 1850, estimamos que há mais de 500 geleiras suíças que desapareceram completamente", das quais apenas 50 tinham nomes, explicou Huss à AFP dias antes da cerimônia. 
 
"O Pizol, agora, não é o primeiro. Mas podemos lhe considerar a primeira geleira suíça desaparecendo que foi muito bem estudada" desde 1893, destacou. 
 
O derretimento é incontestável: desde 2006, ele perdeu entre 80% e 90% de seu volume. Só restam 26.000 m² de gelo, "menos que quatro campos de futebol", afirmou Huss. 
 
De acordo com a Rede Suíça de Pesquisas Glaciológicas (Glamos), o Pizol pertencia à categoria "geleiras", mesmo sendo muito pequeno. 
 
Localizado a uma altitude relativamente baixa (de 2.630 a 2.780 metros de altitude), ele dependia da neve acumulada no inverno. 
 
Como o Pizol, outras 4 mil geleiras nos alpes correm o risco de ter 90% de seu volume derretido até o fim do século, caso nada seja feito para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global, segundo um estudo da Escola Politécnica Federal de Zurique. 
 
E independentemente dos esforços para reduzir as emissões os alpes suíços vão perder pelo menos metade de suas geleiras.