MULHERES


Uma câmera na mão e uma arma na outra. Assim trabalham as primeiras fotógrafas combatentes do Exército de Israel. Sua missão: transformar em imagens e vídeos as operações dos colegas soldados.


Incorporadas a unidades de combate, as primeiras oito fotógrafas da Unidade de Documentação Operacional participam de buscas por armas, de apreensões de suspeitos de terrorismo e de ações para impedir distúrbios nas fronteiras do país, entre outras atividades -a maior parte delas ligadas ao conflito entre israelenses e palestinos.


A unidade, vinculada à assessoria de imprensa do exército, foi criada em 2012 apenas com fotógrafos masculinos, que treinaram como soldados combatentes e, paralelamente, como cinegrafistas e editores de imagem.


Após um longo debate interno, as Forças Armadas autorizaram no início de 2019 as mulheres a também fazer parte do grupo.


A medida faz parte de um movimento recente do exército israelense, que tenta aumentar a presença das mulheres militares em postos de combates, amplamente dominado por homens -o serviço militar é obrigatório no país para os dois sexos, com raras exceções.


Até 2000, elas atuavam em uma espécie de exército paralelo, a Corporação das Mulheres, limitadas a servir apenas como recepcionistas, assistentes sociais, controladoras de voo, enfermeiras e instrutoras de cursos.
 
No ano seguinte a corporação foi extinta e os militares começaram a aumentar o espaço de atuação das mulheres.
 
Hoje, mais de 92% das posições militares estão abertas a elas. Mas as combatentes (que carregam armas) ainda são raras: apenas cerca de 6% do total. Isso apesar de a taxa de alistamento de mulheres em postos de combate ter aumentado 500% desde 2015.
"Fiquei muito nervosa na minha primeira ação", conta a cabo Idan Naaman (19), da turma-piloto de fotógrafas, recrutada no começo de 2019 -uma segunda foi recrutada no final do ano.
 
"Fui incorporada à unidade de Engenharia de combate em uma busca de armas na Judeia [parte da Cisjordânia]. Tive que acompanhar as forças em caminhadas longas, na ação em si e fotografar tudo. Mas deu tudo certo", diz.


O recrutamento de soldadas fotógrafas para a Unidade de Documentação demorou também por questões logísticas como dormitórios e banheiros exclusivo para elas, além da preocupação com assédio ou preconceito. Elas treinam por quatro meses para ser combatentes no "Leão do Vale", um dos quatro batalhões mistos criados desde 2015. Depois do treinamento básico, aprendem como fotografar e editar.


"A decisão foi tomada depois de muita discussão, mas chegamos à conclusão que não havia nenhum motivo operacional para não recrutar mulheres", explicou o oficial Rafael Amar, comandante da unidade ao jornal militar Hamachané.


"É claro que, no começo, houve dificuldades", conta a tenente Maya Pardo, comandante da equipe de fotógrafas. "Mas não há comandantes ou soldados fazendo caretas quando sabem que elas vão ser incorporadas em uma ação", completa.


Não é de hoje que os diversos conflitos no Oriente Médio são travados também fora do campo de batalha. A batalha midiática pela opinião pública interna e externa é tida como tão importante quanto combates com armas e foguetes. Vídeos que viralizam em redes sociais podem influenciar tomadas de decisões e incitar protestos.


Os palestinos entenderam esse alcance antes do exército israelense. Já em 2007, a ONG árabe-israelense B'Tselem distribuiu câmeras a palestinos da Cisjordânia para que documentassem supostas violações de direitos humanos cometidas por soldados ou colonos israelenses.


Alguns dos vídeos alcançaram espectadores por todo o mundo. Tanto que o documentário "Cinco Câmeras Quebradas", de 2012, no qual o agricultor palestino Emad Burnat filma protestos semanais em seu vilarejo na Cisjordânia, venceu o Festival de Cinema Sundance e foi indicado ao Oscar.


Frente ao crescimento das redes sociais, as Forças Armadas responderam criando a Unidade de Documentação Operacional. Hoje, ela fornece imagens para a imprensa e para o próprio exército, que as utiliza para verificar se houve erros operacionais ou violações.


"Mas espera-se que os soldados se comportem de acordo com o código de ética com ou sem câmeras presentes", diz a tenente Pardo.


Para a cabo Naaman, a presença das câmeras age positivamente no comportamento dos soldados: "No momento em que sabem que estamos lá, as pessoas atuam de maneira mais moderada".