ELEIÇÕES

LA PAZ, BOLÍVIA (FOLHAPRESS) - Surpresa no primeiro turno e de novo no segundo, Rodrigo Paz, 58, foi eleito presidente da Bolívia na noite deste domingo (19). Os resultados preliminares divulgados pela autoridade eleitoral apontam que o senador, filho de um ex-presidente, venceu nas urnas o veterano Jorge "Tuto" Quiroga.

O candidato de centro-direita, do Partido Democrata Cristão, obteve, ainda de acordo com os resultados preliminares divulgados pelo órgão eleitoral do país, 54,5% dos votos, ante 45,5% de Quiroga, da Aliança Livre. Em entrevista coletiva, o presidente em exercício do TSE, Óscar Hassenteufel, disse que a "tendência é irreversível".

Os votos válidos somavam 94,6%; os brancos, 0,8%; os nulos, 4,6%. Paz ganhou em 6 dos 9 departamentos do país, mas não conseguiu superar o adversário em sua base política, Tarija.

Os resultados eleitorais preliminares reúnem os resultados das atas de voto e são transmitidos através de um sistema chamado Sirepre. Segundo a autoridade eleitoral, eles ajudam a dar um painel dos resultados, ainda que o resultado final seja divulgado na próxima semana.

Com o resultado, a Bolívia girou à direita, marcando a primeira vez em 20 anos sem vitória de um candidato do MAS (Movimento ao Socialismo), o partido que teve em Evo sua principal figura. O primeiro turno, realizado em agosto, excluiu as opções de esquerda da disputa.

O próximo presidente deverá governar, a partir de 9 de novembro, com um país em grave crise econômica, com a falta de investimento em exploração de gás resultando em recessão, inflação alta, escassez de dólares e falta de combustíveis.

A impaciência dos bolivianos com o atual governo, de Luis Arce, levou ao segundo turno dois candidatos que prometeram aumentar as exportações, liberar o setor privado, diminuir o papel do Estado e incentivar investimentos estrangeiros. As diferenças entre eles residiam nas abordagens: o ex-presidente Quiroga propôs ajustes rápidos e profundos, enquanto Paz sugeria um processo mais gradual.

Segundo a autoridade eleitoral, o pleito ocorreu sem contratempos. Arce (que desistiu de tentar a reeleição, pela sua baixa popularidade) e Morales (impedido de tentar um quarto mandato) votaram no início da manhã.

Ao votarem, os candidatos defenderam que é preciso respeitar a estabilidade do país, para que o próximo presidente tenha governabilidade.

"O importante é que o país vote e se sinta tranquilo, que vote em quem quiser votar e que depois do dia, o presidente eleito governe e nós ajudemos a governar", comentou Paz

"Temos com a votação a oportunidade de acabar com 20 anos, duas décadas destrutivas, que deixaram a economia em uma crise profunda", disse Quiroga.

Rodrigo Paz planeja cortar gastos públicos considerados supérfluos, estimando um total de US$ 1,5 bilhão em cortes. Ele argumenta que, ao reduzir a gordura da administração e investir em infraestrutura e serviços básicos, a economia poderá se recuperar de forma menos dolorosa.

O novo presidente defende o "capitalismo para todos", prometendo liberalizações que beneficiem os pobres e a legalização do comércio para acabar com o contrabando. Com seu governo, o país deve flexibilizar a exploração de recursos naturais por entes privados, aumentar para 50% a participação dos departamentos bolivianos (o equivalente aos estados) no Orçamento da União, promete reformar o sistema Judiciário e buscar uma reaproximação do país com os Estados Unidos.

As pesquisas indicavam que Paz atraiu apoio na região ocidental do país, onde a população indígena é predominante, enquanto Quiroga era mais popular na parte oriental, de Santa Cruz de la Sierra, e entre os agropecuaristas. A identidade étnica ainda influencia as decisões de voto, mas de maneira diferente em comparação com décadas passadas.

O resultado no segundo turno confirma o da primeira votação, em agosto. Paz terminou o primeiro turno liderando a disputa, contradizendo mais uma vez as pesquisas eleitorais, que davam Quiroga como favorito tanto no primeiro turno, como neste domingo.

Rodrigo Paz nasceu em 1967, na Espanha, quando sua família estava no exílio. Ele estudou economia e relações internacionais e fez mestrado em gestão política na American University em Washington. O político busca seguir os passos do pai, o ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993).

Foi deputado, vereador e prefeito da cidade de Tarija e, nos últimos cinco anos, atuou como senador nacional pela aliança da Comunidade Cidadã, liderada pelo ex-presidente Carlos Mesa.

Parte da vitória de Paz nas urnas pode ser atribuída ao seu companheiro de chapa. Nascido em Cochabamba, mas estabelecido em Santa Cruz de la Sierra, Edman Lara, 40, é um ex-capitão da polícia boliviana que passou a denunciar publicamente supostos atos de corrupção dentro da instituição. Rapidamente, se converteu em um fenômeno de redes sociais, principalmente no TikTok.

Além dos desafios econômicos, o próximo governo também terá que lidar com a figura de Evo, que vive sob um mandado de prisão em um local discreto e protegido. Ao contrário do que fez seu adversário, que adotou uma postura mais agressiva em relação ao ex-presidente, Paz evitou comentar sobre Evo durante a campanha.

Analistas questionam o futuro político de Evo, dado que ele não pode ser candidato e a possibilidade de sua prisão pode alterar a dinâmica política do país. Já o MAS terá de encontrar novos líderes após o rompimento de Evo e Arce.

Para além do plano de governo do novo presidente, a expectativa é que o resultado deste domingo delineie um novo caminho para a política boliviana, para além da era Evo Morales.