Informações de mais de 50 milhões de usuários dos EUA foram usados por empresa ligada à campanha de Donald Trump.

France Presse

Por France Presse

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Uma comissão parlamentar britânica solicitou o comparecimento do fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckeberg, para esclarecer o uso ilícito de informação pessoal de usuários da rede social supostamente empregado pela empresa Cambridge Analytica.

"Chegou o momento de escutar um alto executivo do Facebook com autoridade suficiente para explicar este grande fracasso", disse Damien Collins, o deputado que preside o comitê, na convocatória dirigida a Zuckerberg.

"O comitê perguntou insistentemente ao Facebook como as empresas adquirem e retêm informação dos usuários, e em particular se pegam seus dados sem seu consentimento", explicou Collins.

"As respostas de seus representantes" a essas perguntas "subestimaram consistentemente este risco e foram enganosas", narrou o deputado.

O Facebook admitiu que algumas informações de seus usuários foram usadas sem seu consentimento, o que levou a uma queda no valor de suas ações. Após o pregão desta segunda-feira, o valor de mercado da empresa encolheu em US$ 37 bilhões.

Segundo a investigação realizada pelos jornais "New York Times" e "Observer" (a edição dominical do jornal britânico The Guardian), a Cambridge Analytica usou dados de milhões de usuários de Facebook. Com essas informações, a empresa teria criado um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores. Um dos clientes dela era o então candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.

O interesse nas atividades de Cambridge Analytica foi redobrado após a transmissão no domingo de um reportagem do Channel 4. Ela mostrava diretores da empresa dizendo a um jornalista, disfarçado como um potencial cliente, como desacreditar seus rivais políticos, envolvendo-os com prostitutas ou subornos.

Repercussão

Este é um dos maiores vazamentos de dados na história do Facebook. Além da queda na Bolsa, a revelação do acesso indevido de dados já provoca repercussões em outros campos. Legisladores britânicos e americanos pediram explicações à empresa. A procuradora-geral do estado de Massachusetts, Maura Healey, abriu uma investigação contra a empresa.

O presidente do Parlamento Europeu disse que os legisladores da União Europeia vão investigar se ocorreu o uso indevido de dados, ao classificar as alegações de uma violação inaceitável dos direitos de privacidade dos cidadãos. Na Alemanha, o Partido Verde também disseu que pediu ao governo alemão que informe ao parlamento sobre o impacto doméstico.

O caso poderia gerar também uma multa multimilionária para o Facebook. A suspeita é que a empresa teria violado uma regulação da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) que protege a privacidade dos usuários de redes sociais.

Como foi o vazamento

Segundo a rede social, Aleksandr Kogan, um professor de psicologia russo-americano da Universidade de Cambridge, acessou os perfis de milhões de usuários que baixaram um aplicativo para o Facebook chamado "This is your digital life" e que oferecia um serviço de prognóstico da personalidade.

Com esse acesso, ele encaminhou mais de 50 milhões de perfis à Cambridge Analytica. Desses, 30 milhões deles tinham informações suficientes para serem exploradas com fins políticos. Ele conseguiu esses dados apesar de somente 270 mil usuários terem dado seu consentimento para que o aplicativo acessasse sua informação pessoal, segundo o "NYT".

Ao compartilhar esses dados com a empresa e com um dos seus fundadores, Christopher Wylie, Kogan violou as regras do Facebook, que eliminou o aplicativo em 2015 e exigiu a todos os envolvidos que destruíssem os dados coletados.

"Há vários dias, recebemos informes que nem todos os dados foram apagados", indicou o Facebook, advertindo que estava disposto a ir aos tribunais para resolver o tema.