Em seu primeiro dia de visita a Israel, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que o governo vai criar um escritório em Jerusalém para a promoção de comércio, investimento, tecnologia e inovação, em vez de transferir a embaixada para Jerusalém, em cumprimento a uma de suas promessas de campanha. Ainda não foi esclarecido, porém, qual será o papel a ser desempenhado pelo novo espaço, já que, na embaixada do Brasil, em Tel Aviv, já funciona um escritório de representação comercial, comum em várias representações brasileiras.
 
O recuo frustrou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que, em seu discurso, tratou de enfatizar que a medida seria o primeiro passo para a transferência da embaixada, mas Bolsonaro evitou se comprometer, pelo menos publicamente, e disse apenas que o “Brasil está aberto a todos”.
 
O presidente brasileiro chegou a Israel em um momento delicado para o premiê israelense, que tenta se manter no poder, apesar de enfrentar uma série de alegações de corrupção. O Parlamento de Israel aprovou recentemente a convocação antecipada de eleições, marcadas para 9 de abril. Como uma democracia parlamentarista, as eleições nacionais são realizadas pelo parlamento, que se encarrega de formar o governo.
 
Para Israel, toda Jerusalém é sua capital, por isso, o governo quer ver as embaixadas se mudarem para lá. No entanto, a maioria dos países apoia as negociações de paz entre Israel e Palestina, que buscam dividir a cidade entre as duas partes, quando o estado da Palestina for reconhecido.
 
A promessa de Bolsonaro, que acompanhava a decisão do presidente Donald Trump, que transferiu a embaixada americana para Jerusalém em maio do ano passado, havia gerado mal-estar entre árabes e muçulmanos, rivais dos judeus na disputa pelo reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, estado constituído em 1948, e Palestina, que ainda luta por esse status.
 
Os países árabes, vizinhos de Israel, além do Irã, são importantes importadores de aves brasileiras e também de carne bovina, razão pela qual o Ministério da Agricultura manifestou preocupação com a promessa do presidente. Apenas a Guatemala acompanhou os Estados Unidos até agora. O Paraguai, assim como o Brasil, prometeu transferir a representação, mas também recuou.
 
Cooperação
 
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, informou que cinco acordos de cooperação seriam assinados entre os dois chefes de Estado em cerimônia, ontem, na casa do premiê.
 
O presidente brasileiro chegou a Israel pouco antes das 10h e retornará ao Brasil na quarta-feira.O general, contudo, reconheceu que não haverá nenhum anúncio relevante de comércio ou investimento, mas intercâmbio em áreas de interesse bilateral. O Brasil está de olho em segurança, e o governo de Israel tem interesse no Nordeste, onde quer aplicar suas tecnologias de dessalinização de água e de irrigação.  “A vinda aqui não quer dizer que a gente vá comprar uma série de coisas, porque não estamos em condições de fazer isso”, afirmou o ministro no saguão do Hotel King David, em Jerusalém, onde Bolsonaro e os integrantes de sua comitiva, inclusive o staff, estão hospedados.
 
Além da reunião ampliada na casa do premiê, os ministros brasileiros participaram de  rodadas de reuniões setoriais que se estendem até terça-feira. As parcerias bilaterais devem abranger as áreas de tecnologia, água, medicina, aviação e segurança, segundo uma fonte do governo israelense. O objetivo do Brasil é aproveitar a expertise de Israel em segmentos de interesse econômico e de defesa.
 
Em entrevista a uma rádio local, o ministro de Energia de Israel, Yuval Steinitz, afirmou que a Petrobras está considerando explorar campos de gás em Israel. O ministro da área no Brasil, Bento Albuquerque, e Steinitz se encontraram há três semanas. Contudo, o governo brasileiro não se manifestou sobre o assunto. Procurada, a Petrobras informou que não vai comentar.