Três agentes das forças de segurança morreram no Irã, onde protestos violentos continuam por causa da decisão inesperada do governo de aumentar o preço da gasolina.
Nem as inúmeras prisões nem os cortes na Internet, que dificultam tomar conhecimento da situação no país após quatro dias de violência, parecem ter acalmado os manifestantes.
Em Teerã, centenas de policiais de choque armados com cassetetes foram enviados nesta terça-feira (19) ao lado de canhões de água para várias praças da capital, informaram os jornalistas da AFP.
No leste de Teerã, dois postos de gasolina foram queimados e depois cercados pela polícia, enquanto no oeste houve uma delegacia foi atacada por manifestantes.
O porta-voz da autoridade judicial, Gholamhossein Esmaili, citado pela agência de informações dessa instituição, a Mizanonline, pediu à população que denuncie "para a aplicação da lei os sediciosos, os germes da violência e todos que cometeram crimes".
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Sem dar números, Esmaili disse que houve várias prisões de pessoas que queimaram mesquitas ou bancos, além de "indivíduos que forneceram imagens ou informações para a mídia estrangeira e inimigos" do Irã.
Nas primeiras horas desta terça-feira, as agências Isna e Fars anunciaram a morte de três agentes das forças de segurança esfaqueados em uma "emboscada" na província de Teerã.
Os três mortos são um oficial da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, e dois membros do Bassidj, um grupo de voluntários islâmicos.
Essas mortes elevam a cinco o número de mortos confirmados oficialmente desde o início dos protestos, embora possam haver muito mais, segundo informações publicadas nas redes sociais que não podem ser verificadas.
Pelo menos seis outras pessoas morreram, segundo informações de agências iranianas, que geralmente não dão detalhes ou citam suas fontes.
A televisão oficial transmitiu imagens da área de Andimeshk, no sudoeste do país, na qual um homem que parece portar uma arma dispara contra um grupo de jovens jogando pedras.
Sem internet
Os protestos começaram na noite de sexta-feira (15), poucas horas após o anúncio da reforma do sistema de subsídios à gasolina que, segundo o governo, beneficiaria as famílias mais carentes, embora isso represente um aumento significativo de preços.
Os protestos acontecem alguns meses antes das eleições legislativas programadas para fevereiro.
Desde 2018, quando os Estados Unidos mais uma vez impuseram sanções econômicas ao Irã, a economia está em recessão.
O PIB iraniano caiu 4,8% em 2018 e deve cair novamente 9,5% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional.
A inflação, causada pela queda do rial, a moeda local, é oficialmente de 40%.
A reforma que desencadeou os protestos significa que o preço da gasolina, que é altamente subsidiado, aumentará em 50%, passando de 10.000 para 15.000 riais (11 centavos de euro) nos primeiros 60 litros comprados por mês.
Se esse valor for excedido, o preço do litro é multiplicado por três, chegando a 30.000 riais.
De acordo com as autoridades, a medida ajudará os 60 milhões de iranianos mais pobres de uma população total de 83 milhões de pessoas.
Na segunda-feira (18), a Guarda Revolucionária alertou que está disposta a "reagir decisivamente contra a insegurança e ações que perturbam a paz social".
Em nível internacional, o escritório de direitos humanos da ONU disse nesta terça-feira que ficou "alarmado" com relatos de uso de munição real usada contra manifestantes no Irã.
"Estamos especialmente alarmados com o fato de o uso de munição real ter causado um número significativo de mortes em todo o país", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU.
A França, por sua vez, lamentou "a morte de vários manifestantes", enquanto que a Alemanha pediu ao país que "respeite a liberdade de reunião e expressão".
A Turquia espera, por sua parte, que o clima "acalme o mais rápido possível" em seu país vizinho.
No domingo, os Estados Unidos condenaram o uso de violência e a "restrição de comunicações", em referência à internet cortada desde sábado.
Segundo a ONG NetBlocks.org, que supervisiona a liberdade de acesso à internet no mundo, os iranianos estão "isolados do mundo exterior" pelo desligamento da rede, que funciona apenas com 5% da sua capacidade normal.