IGREJA

O papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira (28) na Hungria para uma visita delicada de três dias, durante a qual se reunirá com o primeiro-ministro ultranacionalista Viktor Orbán sobre a guerra na Ucrânia e o drama da migração na Europa.

O pontífice argentino, de 86 anos, saiu de Roma às 8H00 (3H00 de Brasília) e o avião pousou um pouco antes das 10H00 (5H00 de Brasília) em Budapeste, cidade em que permanecerá durante toda a estadia devido a seu frágil estado de saúde. 

Com a viagem a um país que tem fronteira com a Ucrânia, país que está envolvido em uma guerra com a Rússia, o papa deseja criar pontes de diálogo e defender a proteção dos migrantes e refugiados.

O líder da Igreja Católica, que foi hospitalizado no mês passado para tratar uma bronquite, será recebido pela presidente Katalin Novak e depois se reunirá com Orbán, que está no poder desde 2010.

Os dois têm opiniões opostas em vários pontos. 

Orbán, de origem calvinista, defende uma "Europa cristã", razão pela qual justifica a política severa de seu governo contra a migração muçulmana.

O papa Francisco pede uma distribuição justa entre os países da União Europeia (UE) de todas as pessoas que fogem das guerras e da fome.

Ao mesmo tempo, Orbán atua para manter os vínculos com Moscou. Ele evita criticar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e se nega a enviar armas à Ucrânia.

O pontífice condenou sem hesitar o que já chamou de "guerra cruel", ao contrário do discurso ambíguo de Orbán.

Grande dispositivo de segurança

Francisco pronunciará o primeiro discurso para as autoridades do governo, representantes da sociedade civil e do corpo diplomático. Ele provavelmente abordará o conflito na Ucrânia e a situação dos migrantes.

Também se encontrará nesta sexta-feira com o clero húngaro na basílica de Santo Estêvão.

Um grande dispositivo de segurança foi mobilizado na capital húngara, com ruas fechadas e intensa vigilância policial.

A agenda do pontífice também inclui um encontro no sábado com refugiados ucranianos, aos quais deve reiterar sua posição a favor da paz, apesar do fracasso até o momento das iniciativas de mediação da Santa Sé. 

Mais de um milhão de ucranianos atravessaram a fronteira com a Hungria desde a invasão russa em fevereiro de 2022 e 35.000 solicitaram o status de proteção temporário, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). 

Durante a viagem internacional de número 41 de seu pontificado, Jorge Mario Bergoglio pronunciará seis discursos e do domingo vai presidir uma missa ao ar livre. 

Zoltan Kiszelly, diretor do centro de estudos Szazadveg, afirmou que a visita do papa "oferece a Orbán a oportunidade de ressaltar os valores tradicionais, em torno de Deus e da família".

As divergências de posições entre os dois serão deixadas de lado pelo primeiro-ministro húngaro, que pretende "insistir nas visões comuns", acrescenta.

O papa já foi duramente criticado pela imprensa estatal húngara por suas posições consideradas muito favoráveis à migração e aos direitos homossexuais.