CRISE HUMANITÁRIA

Cinco palestinos morreram, neste sábado (30), três deles atingidos por tiros, durante uma distribuição de alimentos na Faixa de Gaza, território devastado pelos bombardeios e combates entre o Exército israelense e o movimento islamista Hamas.

Pelo menos 82 pessoas morreram nas últimas 24 horas por novos bombardeios israelenses em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007. Após quase seis meses de guerra, a maioria dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza está à beira da fome, segundo a ONU. 

Depois do início do conflito em 7 de outubro, Israel impôs um cerco quase "completo" a Gaza, impedindo a entrada de comida, água, medicamentos e combustíveis. Desde então, a ajuda humanitária entra apenas a conta-gotas no território, onde a situação é crítica. 

O Crescente Vermelho palestino informou que cinco pessoas morreram, três delas por disparos, e 30 ficaram feridas em um tumulto durante uma distribuição de comida na Cidade de Gaza, no norte. 

Os insumos chegam com muita dificuldade a essa parte, pois entram pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito no extremo sul. O Exército israelense afirmou que não tem informações sobre a tragédia.

Diante do risco de fome, um segundo barco com ajuda humanitária saiu da ilha de Chipre com destino a Gaza, com 400 toneladas de insumos a bordo. A ajuda, no entanto, é insuficiente para aliviar o sofrimento da população. 

'Não temos comida nem água suficientes'

"Não temos comida nem água suficientes", declarou na sexta-feira à AFP Amany, uma palestina de 44 anos, mãe de sete filhos, refugiada no campo de Shati, na Cidade de Gaza.

Não é a primeira vez que uma distribuição de ajuda termina em tragédia nessa cidade. Imagens da AFP mostraram caminhões buzinando neste sábado e avançando enquanto se ouviam disparos. Durante muitos segundos, o cenário era de caos, e as ambulâncias tentavam abrir passagem.

Testemunhas afirmaram que membros dos "comitês de proteção", responsáveis por supervisionar a distribuição da ajuda, atiraram para o alto e feriram várias pessoas. 

Outros foram atropelados pelos caminhões, segundo as mesmas fontes, que indicaram que tanques israelenses posicionados nas imediações também abriram fogo.

As agências da ONU insistem em que os lançamentos aéreos e o corredor marítimo aberto entre Chipre e Gaza são insuficientes para aliviar as necessidades da população, e clamam pela abertura de outras passagens terrestres. 

A OMS indicou que cerca de 9.000 pacientes precisam ser removidos com urgência para receber tratamento, já que Gaza conta com apenas 10 hospitais que operam em condições mínimas.

Israel, que controla a entrada de ajuda na Faixa, acusa essas agências de serem incapazes de gerir e distribuir os insumos que chegam a Gaza.

Uma primeira trégua entre Hamas e Israel permitiu, no final de novembro, que mais caminhões com ajuda entrassem na Faixa. 

O cessar-fogo permitiu também a troca de uma centena de reféns capturados pelos comandos de Hamas durante o seu ataque de 7 de outubro com prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Operações em hospitais

Nos últimos meses, várias reuniões para negociações foram organizadas pelos mediadores internacionais, Egito, Catar e Estados Unidos, sem sucesso.

Os dois lados trocam acusações sobre a estagnação das negociações, mas, na sexta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou uma nova rodada de conversas "para avançar" a um cessar-fogo, segundo o seu gabinete.

A guerra começou após o ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, no qual os comandos islamistas mataram 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em fontes israelenses.

Além disso, mais de 250 pessoas foram sequestradas e 130 delas continuam como reféns em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo Israel.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva sobre Gaza que já deixou 32.705 mortos, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

O Exército israelense declarou neste sábado que bombardeou dezenas de alvos no centro de Gaza e afirmou que continua com suas "operações" no complexo hospitalar de Al Shifa, na Cidade de Gaza, pelo 13º dia consecutivo.

O Exército de Israel acusa os combatentes do Hamas de utilizarem os hospitais como esconderijos. O grupo islamista afirma que as tropas israelenses também estão presentes no hospital Nasser e no centro médico de Al Amal, na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa.

(AFP)