O líder opositor boliviano Luis Fernando Camacho, que prometeu forçar o presidente Evo Morales a assinar uma carta de renúncia redigida por ele, estava nesta terça-feira (5) em uma "área segura" do aeroporto de El Alto, na região de La Paz, impedido de sair pela presença de manifestações favoráveis ao governo.
 
Camacho chegou ao aeroporto procedente da região de Santa Santa Cruz, a mais rica da Bolívia e reduto da oposição, 900 quilômetros ao leste de La Paz. Na segunda-feira à noite, em tom de desafio durante um comício, ele anunciou que entregaria pessoalmente a Morales a carta de renúncia para que o presidente assinasse, algo que parece improvável.
 
"O ministro (do Interior, Carlos) Romero instruiu que fechem todo El Alto, acabam de iniciar o fechamento! Para deixar o caminho aberto aos 'masistas' (governistas) e (que) não possamos seguir em direção a La Paz", escreveu Camacho no Facebook, garantindo que não desistirá de sua intenção de forçar Morales a renunciar.
 
A oposição boliviana denunciou uma "fraude" nas eleições de 20 de outubro, nas quais Morales foi eleito para um quarto mandato.
 
Os opositores exigem a renúncia de Morales, a anulação da votação e a convocação de novas eleições sem a participação do presidente.
 
"Estão me chamando para pedir que eu retorne (para Santa Cruz). Como vou voltar, se a renúncia não foi assinada?", insistiu Camacho, que se tornou o rosto mais visível da oposição após as eleições, ofuscando o ex-presidente Carlos Mesa, candidato rival de Morales e segundo colocado na votação.
 
Em um comunicado, o Ministério do Interior anunciou a mobilização de policiais para "garantir e resguardar a integridade física" de Camacho, que permanece em uma área segura do aeroporto.
 
No Twitter, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pediu que as autoridades bolivianas garantam a liberdade de movimento e circulação de Camacho. O organismo regional realiza desde a semana passada uma auditoria do processo eleitoral.
 
No poder desde 2006, Morales não comentou publicamente as ações de Camacho, mas pediu aos seguidores que defendam sua reeleição e denunciou planos de golpe da oposição.
 
Denúncia na OEA
Em Washington, durante uma sessão extraordinária da OEA na segunda-feira, o chanceler da Bolívia, Diego Pary, denunciou um golpe de Estado em curso em seu país, promovido pela oposição.
 
"A agressão seletiva aos cidadãos e às forças de segurança, o apelo para que as Forças Armadas e a Polícia Nacional se rebelem e, finalmente, a convocação ao presidente Evo Morales para deixar o governo em 48 horas são claras evidências de que há um golpe de Estado a caminho que pretende fazer ruir a vida democrática da Bolívia por meio do caos e do enfrentamento", disse Pary.
 
No comício de segunda-feira em Santa Cruz, Camacho declarou a milhares de simpatizantes: "Eu vou levar pessoalmente esta carta à cidade de La Paz para que Morales a assine".
 
"Eu lhes garanto que Deus vai me trazer com esta carta assinada", disse o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz.
 
No sábado, Camacho deu um ultimato de 48 horas ao presidente para que renuncie e pediu a intervenção das Forças Armadas na crise política. O prazo acabou na segunda-feira à noite sem nenhum efeito sobre Morales.
 
O país entrou na terceira semana de protestos pelas eleições. Camacho também pediu à população que "paralise" todas as repartições públicas da região de Santa Cruz.
 
A missão da OEA pediu aos bolivianos que entreguem qualquer "informação ou documentação" que possa ajudar a esclarecer as dúvidas sobre a eleição.
 
"A equipe técnica da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos abre canais para receber informação e documentação relativa às eleições de 20 de outubro e os acontecimentos pós-eleitorais", completou a missão.
 
A oposição boliviana não aceita a auditoria da OEA, que considera uma "manobra diversionista para manter Morales no poder".
 
Iniciados um dia após a votação, os protestos deixaram dois mortos e 140 feridos.
 
Os opositores afirmam que Morales está determinado a permanecer no poder a qualquer custo. Ressaltam que o presidente não aceitou o resultado do referendo de 2016, no qual os bolivianos rejeitaram a possibilidade de reeleição de modo indeterminado. Uma decisão polêmica de 2017 de um tribunal constitucional permitiu uma nova candidatura.