A Conferência mundial científica sobre HIV/aids (IAS), que terminou nesta quarta-feira (24) no México, serviu para apresentar várias melhorias para a vida dos pacientes, como um implante para evitar o contágio, ou um tratamento com menos medicamentos.
Implante eficaz contra o HIV durante um ano?
Nos últimos anos, o conceito de tratamento preventivo, ou profilaxia pré-exposição (PrEP), revolucionou a prevenção contra o vírus da aids.
A prioridade é dada a populações em risco, como os homossexuais que mantêm relações sexuais sem proteção, ou prostitutas, porque tomar um medicamento antirretroviral para prevenir a infecção tem-se mostrado eficaz, mas é pesado.
No futuro, o mesmo resultado poderá ser alcançado sem passar por um tratamento contínuo, ou antes de cada relação de risco (PrEP "on demand"), graças a um implante de "ação prolongada".
O primeiro teste clínico em seres humanos, descrito pela IAS como "preliminar, mas promissor", estabeleceu após 12 semanas de uso que foi bem tolerado pelos 16 participantes e que administrava bem a dose esperada do fármaco.
Segundo seu autor, um pesquisador do laboratório americano Merck&Co, o implante poderia continuar a fornecer uma dose suficiente para "pelo menos um ano".
Mais estudos ainda terão de ser feitos para mostrar se este implante oferece o mesmo nível de proteção ao HIV que a medicação oral.
Um implante deste tipo "poderia ser uma solução promissora para aqueles que têm dificuldades de cumprir o tratamento diário", disse o presidente da IAS, Anton Pozniak.
A conferência também foi a ocasião para apresentar um novo estudo sobre a aceitação e a eficácia da PrEP de anel intravaginal, que distribui um medicamento antirretroviral, a dapivirina, por um mês.
"Estamos criando novas ferramentas que se adaptam às realidades da vida das pessoas", afirmou Anton Pozniak.
Comprimidos em dias alternados?
Vários projetos também buscam aliviar o cotidiano dos pacientes soropositivos e reduzir o custo do tratamento, mantendo o vírus inativo.
Assim, as injeções antirretrovirais devem permitir, a partir de 2020, substituir os comprimidos diários por uma injeção semanal.
Outra opção apresentada à IAS é não tomar a terapia tripla todos os dias, mas em dias alternados, ou até menos.
Conduzido pela Agência Nacional Francesa de Pesquisa sobre a Aids, o estudo da Quatuor mostrará se tomar comprimidos quatro dias por semana manterá o mesmo nível de eficácia. Seus resultados serão publicados nesta quarta-feira.
Reduzir a "carga de medicamentos" das pessoas com HIV também pode ser alcançado mudando para duas moléculas (bioterapia), em vez de três. Dois estudos também revelados hoje na Cidade do México procuraram estabelecer a segurança e a eficácia de tal regime.
Novos dados sobre medicamento inovador
Na conferência, foram apresentados novos dados sobre o uso do antirretrovial dolutegravir (DTG) nas mulheres grávidas, ou em idade fértil.
Comercializado pela ViiV Healthcare (grupo GSK) sob o mombre Tivicay e genéricos, este medicamento está no centro das atenções desde o ano passado, após a publicação de um estudo em Botsuana que destacou os perigos de más-formações cerebrais e da medula espinhal em crianças e mulheres tratadas com esta molécula (4 casos a cada 426 gestações).
Esses resultados criaram um dilema, porque o DTG é um dos melhores tratamentos contra o HIV atualmente no mercado, mais eficaz e fácil de usar do que outros medicamentos, e com menos efeitos colaterais e menos provável que desenvolva resistência.
Estudos adicionais apresentados esta semana tendem a mostrar que o risco de más-formações é, finalmente, "inferior ao relatado no ano passado", destaca a IAS, com três nascimentos a cada 1.000 em Botsuana - contra um em cada 1.000 com outros medicamentos - e nenhum em um estudo realizado no Brasil.
Com base nisso, a OMS "recomenda fortemente que o dolutegravir seja a opção de tratamento preferencial para o HIV", mesmo para as mulheres em idade fértil, "devido aos enormes benefícios que proporciona".
Ao mesmo tempo, a organização internacional destaca a importância de informar as mulheres sobre os riscos e de lhes dar acesso aos serviços de planejamento familiar.