Autoridades advertem sobre a criação de uma nova marcha de migrantes que partirá terça-feira de Honduras rumo ao Norte
Cinco países —Estados Unidos, Honduras, El Salvador, Guatemala e México— estão em alerta com a formação de uma nova caravana de migrantes em Honduras. Sob o lema: “Em Honduras estão nos matando”, a nova convocação que circula nas redes sociais propõe sair na madrugada de terça-feira da catedral de San Pedro Sula, no norte do país. Caso isso não aconteça, será promovida outra marcha de migrantes que sairia cinco dias depois, em 20 de janeiro, de Santa Bárbara, localidade vizinha da cidade hondurenha.
Paralelamente, o anemômetro político se move de um Ministério das relações Exteriores a outro na tentativa de deter a formação de uma tempestade de consequências imprevisíveis diante da impossibilidade de conter uma massa humana obstinada em chegar ao Norte.
O Governo mexicano diz que está se preparando para a chegada do grupo. “Uma nova caravana está se formando para entrar em nosso país em meados de janeiro (...) e já estamos tomando medidas para garantir que entre de maneira segura e organizada”, disse na segunda-feira a secretária de Governação [cargo equivalente ao de ministro do Interior] do México, Olga Sánchez Cordero. De acordo com Cordero, desta vez centenas de agentes serão mobilizados ao longo de uma fronteira com mais de 370 cruzamentos ilegais, para “controlar a entrada e impedir o ingresso de pessoas sem documentos”, embora tenha insinuado que os imigrantes que solicitarem vistos poderão entrar legalmente no país.
A nova caravana quer imitar a marcha de esfarrapados que sacudiu a região em outubro, quando milhares de centro-americanos se juntaram para caminhar em direção aos Estados Unidos, fugindo da fome e da violência. Quando a caravana anterior chegou ao México, as autoridades fecharam a ponte sobre o rio Suchiate, um dos principais postos de fronteira, mas milhares de migrantes derrubaram os portões e continuaram pelo país até Tijuana, a cerca de 3.947 quilômetros de distância.
Desta vez encontrarão um novo Governo no México, o de Andrés Manuel López Obrador, que prometeu empregos e serviços sociais para os centro-americanos que entrarem de forma organizada e pelos pontos oficiais da fronteira, duas ideias que não combinam com uma multidão caracterizada por desbordar fronteiras e ignorar guaritas, funcionários e passaportes.
“As portas do México estão abertas para quem quiser entrar de forma organizada (...), mas quem quiser entrar de maneira ilegal será deportado”, disse à Reuters Tonatiuh Guillén, chefe de Migração do México, que viajou nesta semana para El Salvador e Honduras para se organizar com seus colegas. Por seu lado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) confirmou que “não há certeza sobre a magnitude” dessa nova caravana, mas está se preparado para colaborar na ajuda humanitária.
A convocação dessa nova caravana era um segredo que circulava somente nas redes sociais, mas o presidente dos EUA, Donald Trump, se encarregou de dar publicidade com um tuíte ameaçando Guatemala, Honduras e El Salvador de cortar as ajudas caso não impedissem sua formação.
No entanto, a tarefa não é fácil. Embora o Governo de Honduras persiga os supostos organizadores com ameaças de prisão, não pode impedir a concentração pública de milhares de pessoas em San Pedro Sula nem seu posterior trânsito pelos países da América Central, onde um acordo entre os países do Triângulo Norte permite que se desloquem sem necessidade de documentos.
Desde que há um mês milhares de hondurenhos se puseram de acordo para caminhar juntos em plena luz do dia para o Norte, o fenômeno mudou a face da migração e alterou as relações entre os cinco países. No final de outubro, uma caravana com mais de 5.000 pessoas saiu também de San Pedro Sula, em Honduras. Poucos dias depois, outra de 2.000 pessoas saiu de El Salvador e, em seguida, mais uma. Em meados de novembro, havia até quatro caravanas percorrendo o México simultaneamente e todas elas se depararam com um muro, o que separa Tijuana de San Diego.
Finalmente, quase dois meses depois, dos cerca de 10.000 migrantes que pretendiam chegar ao Norte, menos de 3.000 continuam na cidade fronteiriça, segundo disse a este jornal Irineo Mújica, coordenador da organização Pueblo Sin Fronteras, que acompanhou a caravana.
O resto, a maioria, pediu o repatriamento voluntário para seu país. Outros poucos chegaram aos Estados Unidos e outros mais se dispersaram pela fronteira em áreas menos vigiadas. Apenas uns poucos ficaram em algum dos municípios do México pelos quais a marcha passou. Uma tendência que poderia mudar desta vez, com o início de vários megaprojetos de infraestrutura no Sul do México, que exigirão milhares de trabalhadores.