Quando recebemos um estímulo visual ou sonoro com a mesma duração seguidas vezes, neurônios de uma determinada parte do nosso cérebro começam a ficar exaustos, diminuem a atividade, e podemos perceber o tempo passar de maneira levemente distorcida -para mais ou para menos.

Um estudo publicado no último dia 14 mostrou que o cansaço de um grupo de neurônios especialmente sensíveis à noção de tempo, que ficam no giro supramarginal -parte do cérebro responsável por processamentos sensoriais- pode ser a causa de percerbermos o tempo passar de maneira diferente quando ouvimos a mesma música ou vemos um mesmo filme várias vezes.

Os resultados foram divulgados na revista científica Journal of Neuroscience.

Para investigar a relação entre esses neurônios e a percepção do tempo, os cientistas mostraram a 20 pessoas, com idade média de 21 anos, uma mesma imagem (um círculo cinza) por períodos muito curtos de tempo, menores do que um segundo, 30 vezes seguidas. Uma parte do grupo recebeu a versão curta do estímulo, de 0,25 segundos, e outra parte a versão longa, de 0,75 segundos.

Após as repetições, os cientistas iniciaram os testes para avaliar se a percepção do tempo dessas pessoas havia se alterado. Os pesquisadores mostraram aos participantes o mesmo círculo por durações de tempo um pouco maiores: de 0,35; 0,45; 0,55 e 0,65 segundos cada uma. Ao mesmo tempo, um toque sonoro com duração de 0,50 segundos era executado.

Foi solicitado aos participantes que indicassem se o barulho tinha durado mais ou menos do que a exibição das imagens. Para os que receberam as repetições curtas na primeira fase do estudo, o ruído que durava 0,5 segundos pareceu ser mais rápido do que a exibição da imagem na tela que durou 0,35 segundos.

Para as pessoas que receberam a repetição mais longa, de 0,75 segundos, o efeito foi o contrário, de que o ruído era mais demorado do que as imagens que ficavam mais tempo na tela, como a de 0,65 segundos.

"É melhor não confiar na sua percepção de tempo após ter sido exposto a repetidos flashes de imagens ou barulhos", afirma um dos autores do artigo, Masamichi Hayashi, neurocientista na Universidade de Osaka e no Centro Nacional de Tecnologia da Informação e das Comunicações do Japão, e também na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.

Durante os testes, os participantes tiveram os cérebros escaneados por um aparelho de ressonância magnética funcional, capaz de detectar a atividade no órgão. Os cientistas perceberam que, nessa fase, os neurônios sensíveis ao tempo tinham uma atividade menor, como se estivessem cansados após as repetições sensoriais às quais foram submetidos.

Para os autores do estudo, a redução de atividade nesses neurônios, devida à exaustão pela repetição de um estímulo, poderia explicar por que, em algumas ocasiões, uma pessoa sente o tempo passar de um jeito um pouco diferente do tempo chamado físico, objetivo ou real.

Embora os resultados possam jogar luz sobre aspectos ainda misteriosos da relação entre os seres humanos e o tempo, Hayashi lembra que a pesquisa que conduziu tem a limitação de ter investigado essas alterações na percepção para períodos de tempo muito curtos.

"Pesquisas futuras terão de estudar se nossos resultados podem ser aplicados à percepção de intervalos de tempo mais longos", conclui o cientista.