Pelos quatro cantos do mundo, milhões de mulheres saíram às ruas para reivindicar mais igualdade
Mais de cinco milhões de trabalhadores apoiaram nesta quinta-feira (8) as interrupções parciais de duas horas na primeira greve feminista convocada na Espanha por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Segundo os principais sindicatos do país (CCOO e UGT), dezenas de milhares de pessoas participaram de várias manifestações reivindicativas.
As concentrações ocorreram nas cidades de Madri, Barcelona, Bilbau, Sevilla e Valência, com lemas como "Se nós paramos, para o mundo", "Vivas, livres, unidas pela igualdade" e mensagens contra a diferença salarial entre sexos e a violência machista.
A greve recebeu apoiada de partidos de esquerda, enquanto o presidente do Governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, se comprometeu a continuar trabalhando em defesa da igualdade real entre homens e mulheres.
A violência machista contra as mulheres e o abuso sexual foram o foco de uma manifestação convocada por feministas em Istambul, a maior cidade da Turquia, desafiando as proibições impostas pelo estado de emergência em vigor.
Cerca de 50 mulheres compareceram à manifestação ao meio-dia (horário local) no bairro de Besiktas, junto ao Estreito de Bósforo, com cartazes com lemas feministas e contra a violência.
As organizações feministas convocaram protestos, nesta quinta-feira, em 14 cidades da Turquia, todos em desafio às normas do estado de emergência, em vigor desde 2016 e que proíbe todo tipo de marchas e manifestações.
A polícia compareceu ao local do protesto em Besiktas, mas não interveio e as participantes se dispersaram após a leitura de um breve manifesto.
O grupo denunciou que 409 mulheres foram assassinadas por homens durante 2017, enquanto que, apenas em fevereiro, já foram registradas 47 mortes violentas.
O manifesto lido em Besiktas denunciou que muitos assassinos recebem redução de sentença por "boa conduta" durante o julgamento e lamentou o fato de o governo fazer críticas à lei sobre a violência machista, aprovada em 2012. O governo diz que a medida "destrói a família".
França
O jornal francês Libération foi vendido hoje 50 centavos de euros mais caro para leitores homens, com o objetivo de denunciar a diferença salarial, em iniciativa proposta pelo Dia Internacional da Mulher.
Na capa, dedicada ao tema, o jornal de esquerda afirma que "apesar da lei, a diferença salarial entre homens e mulheres continua sendo de 25% na França" e por isso "o jornal decidiu aplicar, por um dia, a mesma diferença em seu preço, que será 50 centavos mais caro para homens".
O dinheiro arrecadado com a iniciativa será destinado ao Laboratório da Igualdade, que há anos luta pelo fim das diferenças entre gêneros.
Índia
Milhares de mulheres indianas saíram às ruas no Dia Internacional da Mulher para pedir igualdade de direitos e o fim das agressões sexuais, um problema muitas vezes silenciado no país por razões culturais ou de estigma social.
Cerca de 2 mil manifestantes formaram uma rede humana ao redor da região central de Connaught Agrada, em Nova Délhi, convocadas pelo movimento Rape Roko, uma iniciativa lançada pela Comissão para a Mulher de Delhi (DCW) em janeiro para conscientizar sobre este tipo de crimes.
No local, mulheres de diferentes idades e condições sociais gritaram palavras de ordem contra a desigualdade e os ataques sexuais ao coletivo feminino.
Os cartazes exibiam mensagens como “O meu corpo não é um espaço público” e "Não me digas como me vestir, aprenda a não abusar".
Segundo números da Agência Nacional de Registro de Crimes da Índia, em 2016 ocorreram no país 38.947 estupros (2.167 deles em grupo), dos quais só em Nova Délhi foram denunciados 4.935 (1.996 coletivos).
Paquistão
Centenas de mulheres protestaram em diversas cidades paquistanesas para reivindicar direitos e pedir "independência" dos homens, embora a baixa assistência em algumas das manifestações tenha evidenciado a falta de empurrão do movimento feminista no país.
"O que quer uma mulher? Independência", gritavam 200 mulheres em Islamabad, de adolescentes a idosas, junto a outros slogans como "liberdade" e "os assassinatos por honra são inaceitáveis", em referência aos homicídios cometidos por parentes por uma suposta afronta moral que tiram a vida de aproximadamente 500 mulheres ao ano no país.
Representantes de diferentes partidos e organizações, as participantes realizaram uma pequena passeata na capital, com bandeiras e a presença de alguns homens que as apoiavam.
"No Paquistão, as mulheres não têm liberdade para comparecer aos lugares públicos", disse à Agência Efe a presidente da Frente Democrática de Mulheres, Ismat Shahjahan, uma das organizadoras do ato, para explicar a baixa presença de manifestantes no país de 207 milhões de habitantes.
No país muçulmano e conservador, as mulheres sofrem uma forte discriminação no ambiente de trabalho, onde sua participação é de 22%.
Um recente relatório da Organização Internacional do Trabalho revelou que o Paquistão está entre os países que oferecem menos oportunidades de trabalho às mulheres e oportunidades de participação econômica, junto com Arábia Saudita, Iêmen, Irã e Síria.
Países africanos
Conferências, cursos, iniciativas para empoderar as mulheres no ramo tecnológico, leituras de declarações públicas de algumas organizações são alguns dos eventos que aconteceram nos países africanos, porém com pouca mobilização nas ruas para reivindicar os direitos da mulher.
Apesar de países como Ruanda, que tem o Parlamento mais paritário do mundo, e como a África do Sul, com taxas de igualdade salarial muito alta, a maioria de mulheres na África assume a violência como algo cotidiano em suas casas, quando não sofrem em grande escala como um instrumento de guerra em vários conflitos.
Neste Dia Internacional da Mulher os atos foram mais tímidos, como a conferência organizada pela Unesco em Nairóbi (Quênia) para empoderar as mulheres através do uso de Tecnologias da Informação e o lançamento de um movimento internacional contra a mutilação genital no Senegal, que revelou que mais de 200 milhões de mulheres em toda África sofreram com esta prática.
A organização Big Sisters lembrou também que 6 mil meninas são mutiladas a cada dia no mundo e que 30 milhões estão expostas à prática - segundo dados do Unicef. A organização exigiu a adoção de leis para proibir tais práticas em todos os países africanos antes do ano 2020.
"A mutilação genital está exterminando nossas meninas e nossas mulheres", lamentou a leonesa Salimatou Kamara, que advoga pela proibição oficial desta prática na África, uma exigência que considera vital para a dignidade das africanas.
Na África do Sul, o país com melhor nota em gênero da África Subsaariana, segundo o Banco de Desenvolvimento Africano (APDB), o novo presidente Cyril Ramaphosa disse hoje que "o patriarcado não tem lugar na África do Sul que estamos construindo".
"Para renovar o país é preciso renovar os valores e posicionar as mulheres e os homens na mesma altura", declarou o líder sul-africano em sua mensagem pelo Dia da Mulher.
Na Nigéria, um novo sequestro do Boko Haram de 110 meninas de um instituto de ensino médio de Dapchi, ao nordeste do país, ganhou atenção.
"Isto tem que ser o principal agora. Por isso decidimos fazer um chamado #LeaveOurDaughtersAlone [Deixe nossas filhas em paz, em inglês] para acabar com este desastre nacional", disse a primeira-dama Aisha Buhari.
América Latina
Em Buenos Aires, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou um projeto de lei que busca impulsionar "mudanças" para avançar rumo à "igualdade de gênero em todos as áreas", especialmente trabalhista, com a ideia de que uma mulher não pode ganhar "menos que um homem".
"Não podemos permitir que uma mulher ganhe menos que um homem. Não faz sentido e nem explicação para aqueles que trabalham dia a dia com elas", disse o chefe de Estado durante discurso em ato organizado em Buenos Aires pelo Governo para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
No Chile, na última semana como presidente antes de entregar o cargo ao recém-eleito Sebastián Piñera, a presidente Michelle Bachelet fez homenagens a chilenas ilustres que lutaram pela dignidade da mulher no país, acompanhada da atriz transexual Daniela Vega, protagonista de Uma Mulher Fantástica, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
"É o último dia em que me dirijo a vocês no exercício do meu cargo, por isso quero agradecer, porque muitas vezes, nos momentos mais difíceis, sempre senti o apoio incondicional das mulheres da minha pátria", destacou.
Acompanhada de suas ministras, mulheres sindicalistas e dirigentes políticas, entre outras, a presidente ressaltou que seu governo conseguiu "abrir uma porta, e não qualquer uma, para que por ela passem mais e mais mulheres caminhando para um país mais justo e equitativo".
Coreia do Sul
Centenas de sul-coreanas realizaram uma passeata pelo centro de Seul aos gritos de "Me Too" (Eu também, em inglês) em referência à campanha que começou em Hollywood e vive o auge no país, onde o número de vítimas que denunciaram abusos sexuais disparou desde janeiro.
No protesto, que tomou a praça de Gwanghwamun, também foram exibidos cartazes a favor do movimento chamado "With You" (Com você, em inglês), que surgiu na Coreia do Sul ao calor do "Me too".
Números do Ministério de Igualdade de Gênero e Família da Coreia do Sul de 2016 mostram que 80% das cidadãs já sofreram assédio sexual no trabalho, mas que apenas 10% das afetadas denunciam por medo de represálias ou pela sensação de que nada mudaria.