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Pelas contas de organizadores e da mídia regional, os atos atingiram dezenas de grandes cidades várias regiões russas.
Como eles não tinham autorização para acontecer, foram dispersados pela polícia com maior ou menor violência –até as 15h30 (9h30 em Brasília), havia 863 presos segundo a ONG de direitos humanos OVD-Info.
"Nem eu esperava tanta gente. E tanta polícia", disse Ivan Stepanov, ativista do Fundo Anticorrupção de Navalni que falava com a reportagem por aplicativo de mensagem de Moscou até parar de responder –não se sabe se ele foi preso.
Vídeos mostraram policiais da temida Omon, a tropa de choque russa, prendendo um garoto de 14 anos que concedia tranquilamente uma entrevista na praça Púchkin, tradicional ponto de encontro no centro moscovita. O grupo começou a marchar pela capital, e a noiva de Navalni, Iulia, foi uma das detidas.
Por causa dos 11 fusos do maior país do mundo, um aperitivo da onda de protestos começou a ser visto primeiro em Vladivostok, no extremo oriente russo. A repressão, a julgar por vídeos de redes sociais, foi especialmente brutal na cidade, que sedia a Frota do Pacífico do Kremlin.
Vindo para o oeste, em Khabarovsk (Sibéria), cidade que convive com protestos contra o Kremlin desde 2020 devido à remoção do governador local, cerca de 2.000 pessoas foram dispersadas por tropas de choque.
Um detalhe que chama a atenção é que a Rússia vive um duro inverno. Em Iakutsk, conhecida pelo apelido de cidade mais fria do mundo, ao menos 1.500 pessoas foram às ruas, e dezenas detidas, sob uma temperatura de 52 graus Celsius negativos.
O mesmo se viu em lugares como Iekaterinburgo (Urais, centro do país), onde 10 mil pessoas protestaram com 30 graus Celsius negativos. Em Ufa, também nos Urais, manifestantes enfrentaram a polícia com bolas de neve.
Houve repressão, assim como em Novosibirsk, Tcheliabinsk e Krasnoiarsk, cidades siberianas. Em Irkustk (Sibéria), a praça central ficou cheia, mas foi esvaziada sem violência.
O protesto é um alerta para o Kremlin. Navalni voltou ao país no domingo passado (17), 150 dias depois de ser envenenado na cidade siberiana de Tomsk, onde ajudava a fazer dossiês contra o líder local do partido do Kremlin que disputaria as eleições de setembro. Lá, aliás, 2.000 pessoas protestaram neste sábado.
Ele foi tratado em Berlim, onde os médicos afirmaram ter encontrado o famoso veneno dos serviços secretos russos Novitchok (novato) em seu corpo.
Navalni acusou diretamente Putin e, depois, divulgou a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança) apontados como autores do ataque –nele, o espião acha que fala com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de hotel.
O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin brincou no fim do ano que, se a Rússia quisesse matar Navalni, o teria feito.
Apesar do desprezo, o Kremlin não titubeou em ver Navalni detido assim que chegou ao controle de passaporte em Moscou –não antes de ter seu voo desviado para outro aeroporto, para evitar confusão com apoiadores.
Ele é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional –teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, algo que ele chama de perseguição judicial. Embora nominalmente independente, o Judiciário russo é usualmente alinhado ao Kremlin.
Navalni pode agora pegar 3,5 anos de cadeia, e convocou o protesto para este sábado. É uma tática arriscada, dado que ele não é uma figura popular na Rússia.
Pesquisa do Centro Levada, instituto independente de opinião pública, mostrou que em novembro apenas 2% dos russos votariam em Navalni para presidente, e só 4% apoiavam sua causa.
A exemplo de outros opositores de Putin ao longo dos anos, como o enxadrista Garry Kasparov, sua imagem é mais polida no Ocidente do que em seu próprio país.
"Mas ele faz algo que os outros não fizeram, que é saber o que incomoda as pessoas", avalia o diretor de estudos sociais do Levada, Alexei Levinson.
Ele acredita que Navalni é bem-sucedido por falar sobre temas que incomodam os russos nas duas décadas de Putin no poder: a corrupção e a fossilização da política.
A aposta do ativista é essa: canalizar a insatisfação, ainda que obviamente seja uma incógnita o que ele faria se de fato ganhasse mais poder, dado que sua plataforma é única: combater Putin, de quem já foi visto até como peão involuntário, por fazer dossiês contra membros do governo, em intrigas palacianas.
Blogueiro e advogado, Navalni surgiu na cena pública nos protestos contra Putin em 2012. No ano seguinte, candidatou-se a prefeito de Moscou e amealhou enormes 27%.
Mas foi em 2017 que ele apareceu para o mundo, ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que uniu milhares nas ruas da Rússia, muitos jovens como o garoto preso neste sábado em Moscou.
Devido a acusações judiciais, foi barrado de concorrer contra Putin em 2018. Passou então a uma tática dentro da política: fomentar qualquer candidatura em nível regional que fosse contrária ao Rússia Unida, o partido do regime.
Logrou sucessos simbólicos importantes nos pleitos locais de 2019 e 2020, e sua volta à Rússia era vista como uma preparação para o embate das eleições parlamentares de setembro.
O Kremlin, por toda sua retórica, não deu espaço para surpresas e também criticou o que chama de interferência estrangeira, já que diversos países pediram a libertação de Navalni. O novo presidente americano, Joe Biden, mordeu e assoprou: aceitou renovar um acordo nuclear com Moscou, mas abriu apuração sobre o caso Navalni.
Além de prender Navalni e aliados como sua porta-voz Kira Iarmich, esses por promover os atos sem autorização neste sábado, o governo russo atacou o coração da operação de Navalni: a internet.
Bloqueou na sexta (22) a divulgação de "conteúdos políticos para menores" do popular aplicativo TikTok e no VKontakte, o Facebook russo.
Além disso, multou em 250 mil rublos (R$ 18 mil) Liubov Sobol, uma das chefes do fundo de Navalni, por causa dos atos de sábado. Ela foi presa no começo da tarde em Moscou, ao lado do popular blogueiro Ilia Varlamov.
Preso, Navalni divulgou um vídeo na sexta afirmando que não tinha intenção de se matar na cela, um recado pouco sutil.
E, para manter a tradição, seu fundo publicou um dossiê no YouTube com as suspeitas de gastos de US$ 1,4 bilhão em uma mansão atribuída a Putin no mar Negro –que teve 50 milhões de visitas no primeiro dia no ar.
A peça promoveu um dos símbolos dos atos deste sábado: uma escova de limpar vaso sanitário, objeto levado por vários manifestantes. Segundo o vídeo, o suposto palácio de Putin tem escovas que custam 62 mil rublos (R$ 4.500) cada.
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O mesmo se viu em lugares como Iekaterinburgo (Urais, centro do país), onde 10 mil pessoas protestaram com 30 graus Celsius negativos. Em Ufa, também nos Urais, manifestantes enfrentaram a polícia com bolas de neve.
Houve repressão, assim como em Novosibirsk, Tcheliabinsk e Krasnoiarsk, cidades siberianas. Em Irkustk (Sibéria), a praça central ficou cheia, mas foi esvaziada sem violência.
O protesto é um alerta para o Kremlin. Navalni voltou ao país no domingo passado (17), 150 dias depois de ser envenenado na cidade siberiana de Tomsk, onde ajudava a fazer dossiês contra o líder local do partido do Kremlin que disputaria as eleições de setembro. Lá, aliás, 2.000 pessoas protestaram neste sábado.
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O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin brincou no fim do ano que, se a Rússia quisesse matar Navalni, o teria feito.
Apesar do desprezo, o Kremlin não titubeou em ver Navalni detido assim que chegou ao controle de passaporte em Moscou –não antes de ter seu voo desviado para outro aeroporto, para evitar confusão com apoiadores.
Ele é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional –teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, algo que ele chama de perseguição judicial. Embora nominalmente independente, o Judiciário russo é usualmente alinhado ao Kremlin.
Navalni pode agora pegar 3,5 anos de cadeia, e convocou o protesto para este sábado. É uma tática arriscada, dado que ele não é uma figura popular na Rússia.
Pesquisa do Centro Levada, instituto independente de opinião pública, mostrou que em novembro apenas 2% dos russos votariam em Navalni para presidente, e só 4% apoiavam sua causa.
A exemplo de outros opositores de Putin ao longo dos anos, como o enxadrista Garry Kasparov, sua imagem é mais polida no Ocidente do que em seu próprio país.
"Mas ele faz algo que os outros não fizeram, que é saber o que incomoda as pessoas", avalia o diretor de estudos sociais do Levada, Alexei Levinson.
Ele acredita que Navalni é bem-sucedido por falar sobre temas que incomodam os russos nas duas décadas de Putin no poder: a corrupção e a fossilização da política.
A aposta do ativista é essa: canalizar a insatisfação, ainda que obviamente seja uma incógnita o que ele faria se de fato ganhasse mais poder, dado que sua plataforma é única: combater Putin, de quem já foi visto até como peão involuntário, por fazer dossiês contra membros do governo, em intrigas palacianas.
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