MISTÉRIO
 
Em 8 de março de 2014, o voo MH370 da Malaysia Airlines desapareceu do radar. Dez anos depois, as famílias das vítimas ainda estão cheias de perguntas sem respostas sobre o que aconteceu com seus entes queridos. 

"A cada ano que se passa sem que se encontre o avião é outro ano de espera angustiante", explica a malásia Grace Nathan, filha de uma vítima, que se tornou advogada e porta-voz das famílias. 

Sua mãe Anne Daisy, que na época tinha 56 anos, era um dos 239 passageiros e tripulantes do Boeing 777 que decolou de Kuala Lumpur com destino a Pequim e desapareceu de repente no oceano Índico. 

Por quase três anos houve buscas dos restos da aeronave em uma região de 120.000 quilômetros quadrados, em uma das maiores operações desse estilo da história da aviação. 

Mas somente alguns fragmentos foram encontrados. 

A poucos dias do décimo aniversário da catástrofe, o primeiro-ministro malásio, Anwar Ibrahim, declarou na segunda-feira que ficaria "feliz em relançar" as buscas caso aparecessem provas "convincentes". 

''NOITES SEM DORMIR''

Li Yan Lin, de 28 anos, voava neste avião para Pequim, porque seus pais queriam lhe apresentar uma possível futura esposa. Nunca chegou a conhecê-la. 

"Decidimos deixar nossa casa para viver em um novo lugar e também aliviar nossas emoções", conta sua mãe Liu Shuang Fong, que, no domingo, participou de uma concentração de famílias em Kuala Lumpur para lembrar o décimo aniversário do desaparecimento. 

"Ainda passo noites sem dormir esperando que batam na nossa porta. Penso no meu filho todos os dias", afirma. 

Para alguns, a dor acumulada nos últimos dez anos é muito pior que a comoção inicial. 

"Não me atrevo a pensar no que estamos passando há dez anos", assegura Jiang Hui, cuja mãe estava no fatídico voo. 

"O suplício e a dor dos últimos dez anos, todos esses danos secundários causados aos familiares, superaram de longe a dor inicial. Não é duas ou três vezes pior, mas sim dez ou cem vezes pior", diz, de Pequim, à AFP. 

Para Jacquita Gonzales, cujo marido era membro da tripulação, a única maneira de aliviar a dor seria encontrar o avião. 

"É por isso que é importante continuar com as buscas. Não há necessidade de que isso siga sendo um mistério", defende essa mulher, que também se manifestou no domingo em Kuala Lumpur com outros 500 conhecidos dos passageiros que desapareceram. 

''TODOS NÓS PRECISAMOS SABER''

O desaparecimento do avião foi alvo de diversas teorias, como uma que o atribuía a um ato deliberado do piloto, Zaharie Ahmad Shah, um profissional experiente de 53 anos. 

Um relatório publicado pela Malásia em 2018 apontou falhas no controle do tráfego aéreo e revelou que a trajetória do avião havia sido mudada manualmente, mas não chegou à nenhuma conclusão. 

O ministro malásio dos Transportes, Anthony Loke, anunciou no domingo que ia se reunir com representantes da sociedade de exploração marinha Ocean Infinity para uma eventual retomada das buscas. 

Essa empresa com sede no Texas já realizou uma investigação sem resultados em 2018 depois de uma vasta operação mobilizada pela Austrália e suspensa em janeiro em 2017. 

Para Blaine Gibson, um caçador de tesouros americano e ex-advogado que encontrou os poucos restos do voo MH370, descobrir a "verdade" sobre o acidente não beneficiaria apenas as famílias, mas também os atuais clientes da empresa aérea. 

"Todos nós precisamos saber que quando subimos em um avião não vamos desaparecer", disse à AFP. "A Malásia também precisa de uma resposta. Tem que encontrar o avião, deixar tudo isso para trás e seguir em frente".