Uma menina de 11 anos que foi violentada na Bolívia pelo pai de seu padrasto não pôde exercer seu direito ao aborto devido à interferência da Igreja Católica, médicos e autoridades locais, denunciou nesta quinta-feira (28) a Defensoria Pública do país.

Em um comunicado, o órgão assegurou que tomará as medidas legais para que "se reencaminhe o procedimento de interrupção legal de gestação, sem viciar o consentimento da menor, seja por parte de seus familiares ou de qualquer instância, grupo ou setor religioso".

A menina, que está na 21ª semana de gravidez após ter sofrido abuso no vilarejo de Yapacaní, no departamento de Santa Cruz (leste), não teve acesso ao aborto devido à interferência dos médicos de um hospital local, da Arquidiocese da região e do Conselho Tutelar de Yapacaní, explicou a Defensoria Pública nacional.

A Igreja Católica informou esta semana que tinha levado a menina para um albergue, junto de outras jovens com diferentes problemas, e defendeu o seu posicionamento contrário ao aborto.

"A pessoa humana dentro do ventre materno não tem culpa do abuso contra sua mãe. Um crime não se soluciona com outro crime, o aborto não remedia a violência sexual", diz uma nota da Arquidiocese de Santa Cruz.

Segundo a lei boliviana, "um aborto incondicional e em todas as etapas do desenvolvimento do embrião não é constitucionalmente admissível". 

Contudo, a lei permite o procedimento em caso de uma gestação causada após o crime de estupro ou desde que seja praticado "em caso de risco de vida ou para a saúde da mãe", segundo o Código Penal boliviano.

Por sua vez, o responsável pelo abuso está detido à espera de julgamento, no qual poderá enfrentar uma sentença de 10 a 15 anos de prisão.