Mais cedo e mais distante: o Homo sapiens não africano mais antigo descoberto até hoje era grego e data de 210.000 anos atrás, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (10), que adianta em mais de 150.000 anos a chegada da espécie à Europa.
 
Apidima 1, como foi batizado pelos cientistas, é "mais velho que todos os outros espécimes de Homo sapiens encontrados fora da África", explica à AFP Katerina Harvati, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, coautora do estudo divulgado na revista Nature.
 
Até agora, contava-se com um fragmento de mandíbula de Homo sapiens encontrado em uma caverna de Israel que remontava a um período de entre 177.000 e 194.000 anos atrás. Os outros mais antigos tinham entre 90.000 e 120.000 anos. Na Europa, o mais velho datava de 70.000 anos atrás.
 
Trata-se de um reconhecimento tardio para o Apidima 1. Foi encontrado no fim dos anos 1970 pelo Museu de Antropologia da Universidade de Atenas em uma cavidade do maciço de Apidima, no Peloponeso, mas na época havia sido catalogado como um pré-neandertal.
 
Mas as técnicas modernas de datação e de imagens permitiram que Harvati e sua equipe revelassem uma "mistura de características humanas modernas e arcaicas", que fazem dele um "Homo sapiens precoce". 
 
No entanto, os arqueólogos só encontraram a parte traseira de seu crânio e "alguns poderiam argumentar que o espécime está incompleto demais para que seu status de Homo sapiens seja inequívoco", explica Eric Delson, do Lehman College de Nova York, em um comentário publicado com o estudo.
 
"O Apidima 1 mostra que a dispersão do Homo sapiens fora da África não só ocorreu antes do que se pensava, há mais de 200.000 anos, mas também que chegou até a Europa", explicou Harvati.
 
O Homo sapiens apareceu na África. Os mais antigos representantes conhecidos de nossa espécie datam de 300.000 anos atrás e foram encontrados em Jbel Irhud, no Marrocos.
 
Durante muito tempo, estimou-se que haviam deixado seu "berço" africano muito mais tarde, há cerca de 70.000 anos, durante uma onda migratória de envergadura.
 
Presente antes que o Neandertal 

Mas há vários anos, as descobertas não param de questionar esta teoria, avançando cada vez mais a data das primeiras migrações e estendendo a zona de suas dispersões.
 
Apidima 1 foi descoberto em frente a outro crânio, batizado Apidima 2. Segundo o estudo, trataria-se de um Neandertal de 170.000 anos.
 
"Nossos resultados sugerem que ao menos dois grupos de pessoas viviam no Pleistoceno Médio onde atualmente é o sul de Grécia: uma população precoce de Homo sapiens e mais tarde, um grupo de Neandertais", explica Harvati, sugerindo que os segundos substituíram os primeiros.
 
Antes de ser, por sua vez, substituídos por outros Homo sapiens recém-chegados, há 40.000 anos, quando os Neandertais desapareceram completamente.
 
"Talvez uma ou várias vezes, ambas as espécies substituíram uma à outra", explica Eric Delson.
 
Esta nova descoberta reforça a ideia de que houve múltiplas dispersões de humanos para fora da África. O movimento migratório e a colonização da Eurásia foram provavelmente mais complexos do que se pensava.
 
"Em vez de uma só saída de hominídeos da África para povoar a Europa e a Ásia, deve ter havido várias dispersões, e algumas não deram lugar a instalações permanentes", segundo Delson.
 
Inclusive se todos os grupos que se desenvolveram fora da África há mais de 60.000 anos tenham desaparecido completamente, sem deixar rastro em nosso genoma atual.