As imagens de celular se espalharam rapidamente, trazendo a notícia do assassinato do presidente. Homens encapuzados, longas armas em punho, cortavam a noite pelas montanhosas ruas de Pétion-Ville, subúrbio de classe alta de Porto Príncipe. Eram mercenários estrangeiros, a maioria ex-militares colombianos, que se moviam como em ação militar, em um comboio de vans pretas e camionetes. Um deles anunciava em inglês ao megafone: “Esta é uma operação da DEA (Agência de Combate às Drogas norte-americana). Não saiam de suas casas ou nós atiramos”. Ouvem-se tiros, é difícil saber quem é quem na escuridão, mas dois fatos ficam claros como a luz do dia: Jovenel Moïse, presidente marionete do imperialismo no Haiti desde 2017, está morto, e o imperialismo está envolvido até o pescoço nisso.


Jovenel Moïse era um empresário de 53 anos que foi eleito presidente em um conturbado e fraudulento processo de eleições em 2015 e depois de novo, em 2016. Moïse se mantinha no poder em meio às imensas crises políticas, econômicas, climáticas e à pandemia, principalmente pelo apoio do imperialismo. 

Há muita confusão de informações e até agora não se sabe quem mandou matar o presidente, mas a instabilidade do seu governo era crescente. Grandes manifestações contra o governo tomaram as ruas em 2018 e 2019. As G9, gangues violentas, como a de Jimmy “Barbecue” Chérizier, que receberam armas e apoio do próprio governo, pareciam fora de controle.

Com a aproximação do fim de seu mandato no começo deste ano, Moïse afirmou pretender cumprir um mandato de 5 anos e se manter na presidência até 2022. O Conselho Superior do Poder Judiciário do Haiti, equivalente ao STF, afirmou que Moïse deveria sair no dia 7 de fevereiro de 2021. Isso não ocorreu e os protestos populares explodiram no mesmo dia. Moïse afirmou ter recebido ameaças de morte e chegou a prender dezenas de pessoas, inclusive o presidente da Suprema Corte, Yvickel Dieujuste Dabresil, que foi solto dias depois. O país estava mergulhado em crises desde então, com a insatisfação popular, a falta de máscaras, vacinas e o altíssimo desemprego. O assassinato de Moïse é apenas o mais recente e cinematográfico episódio na história de crise do país, imposta pelo controle imperialista na região.


O primeiro-ministro, Claude Joseph, assumiu como presidente interino. Entretanto, Ariel Henry havia sido nomeado para o cargo dois dias antes do assassinato de Moïse. Joseph Lambert, o presidente do Senado, afirmou ser ele, na verdade, o presidente interino. Todos já se reuniram com o FBI e o Departamento de Segurança Interna norte-americano, em disputa para substituir Moïse. Independentemente de quem compuser o governo, não ficam dúvidas de que o controle do imperialismo sobre a oligarquia local para implementar políticas neoliberais que assolam a população certamente continuará, provavelmente, ainda com mais força. 

A Agência de Combate às Drogas norte-americana, inicialmente, anunciou que não estava envolvida na ação do assassinato do presidente. Depois que vinte e oito suspeitos foram identificados, foi anunciado que pelo menos dois deles já haviam trabalhado como informantes da agência. Oito suspeitos ainda estão foragidos, três foram mortos e 17 estão presos. Desses, 15 são colombianos e dois, americanos de ascendência haitiana. 

Numa desesperada tentativa de manter a ordem, o primeiro-ministro Claude Joseph anunciou em coletiva de imprensa que foi decidido, em reunião extraordinária com ministros, “seguindo a estrita interpretação do código 149 da constituição”, que o estado de sítio havia sido declarado no país. 
 
A Casa Branca tirou uma declaração garantindo a continuação do seu controle no país, incluindo assistência eleitoral através da USAID. “Em janeiro de 2021, a administração Biden-Harris anunciou US $ 75,5 milhões em desenvolvimento bilateral e assistência à saúde para uma ampla gama de questões, incluindo governança democrática, saúde, educação, desenvolvimento agrícola e atividades pré-eleitorais.” 

Até o momento, o presidente americano Joe Biden negou mandar tropas militares ao país, apenas agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna. Tropas da ONU mantêm-se no Haiti há anos, realizando não tarefas de pacificação, como diz a propaganda, mas de repressão.

 


Fonte: Diário Causa Operária