Da RFI - Os talibãs anunciaram finalmente nesta terça-feira (7) os principais ministros do novo governo do país. O gabinete será liderado por Mohammad Hasan Akhund, ligado ao mulá Omar, fundador do movimento, consolidando assim o poder do grupo. Logo em seguida, o guia supremo talibã pediu que o novo governo aplique a Sharia. O anúncio acontece em um dia de novas manifestações contra o regime, que registraram as primeiras mortes.

O anúncio do novo governo afegão era esperado inicialmente na última sexta-feira (3). Apesar de promessas iniciais de um governo mais inclusivo e tolerante, os novos homens fortes do Afeganistão nomearam Abdul Ghani Baradar, cofundador do Talibã, como número dois do regime.

Pouco depois da divulgação dos primeiros nomes, o líder supremo do grupo, Hibatullah Akhundzada, pediu ao novo governo afegão que respeite a Sharia, a lei islâmica. As aparições públicas de Akhundzada são raras e essa foi sua primeira mensagem desde que os fundamentalistas tomaram o poder em 15 de agosto.

"Posso assegurar a todo nosso povo que os governantes irão se esforçar para respeitar as normas islâmicas e a Sharia no país", afirmou o guia supremo em um comunicado em inglês.

O mulá Yaqub, filho do mulá Omar, será ministro da Defensa. Sirajuddin Haqqani, líder de um grupo que leva seu sobrenome e número dois dos talibãs, será o titular da pasta do Interior.

"O governo não está completo", destacou o principal porta-voz do movimento, Zabihullah Mujahid, em entrevista coletiva. "Tentaremos incorporar pessoas de outras regiões do país", acrescentou.

As nomeações foram anunciadas horas depois de um protesto em Cabul, em frente à embaixada do Paquistão, ter sido dispersado com tiros para o alto por combatentes talibãs. Os manifestantes criticavam a violenta repressão do regime no vale de Panshir, onde fica o último reduto de resistência contra o movimento islamista. Além da situação em Panshir, os manifestantes de Cabul também queriam denunciar a interferência do Paquistão, muito próximo ao Talibã.

"Essas manifestações são ilegais até que as leis do novo governo sejam proclamadas", declarou Mujahid, que pediu à imprensa para não cobrir tais eventos.
 
Vários jornalistas que cobriam os protestos afirmaram que pessoas foram detidas e material apreendido. A Associação Afegã de Jornalistas Independentes (AIJA) afirmou em um comunicado que 14 repórteres, afegãos e estrangeiros, foram detidos por algumas horas pelos talibãs.

Em outras cidades do país também foram organizados protestos contra o regime, como em Mazar-i-Sharif (norte) ou em Herat (oeste), onde duas pessoas morreram e oito ficaram feridas nesta terça-feira, informou um médico que pediu anonimato.

Blinken no Catar


A comunidade internacional afirmou que vai julgar o Talibã por suas ações. O movimento islâmico recuperou o poder no Afeganistão 20 anos depois de uma rápida ofensiva contra a coalizão liderada pelos Estados Unidos.

Durante uma visita ao Catar, o secretário de Estado americano Antony Blinken afirmou que as novas autoridades em Cabul prometeram novamente que permitirão a saída de todos os afegãos que desejam deixar o país. O governo do presidente Joe Biden é alvo de pressão desde a retirada das forças americanos do país. Várias informações apontam que centenas de pessoas - incluindo alguns americanos - estariam bloqueadas no aeroporto de Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão.