O líder opositor e presidente interino autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, lançou neste sábado (6) o que promete ser a escalada da pressão definitiva para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder, durante mobilizações nas quais dois deputados foram detidos momentaneamente.

Diante de milhares de partidários em Caracas, Guaidó, reconhecido por mais de 50 países como chefe de Estado encarregado, ativou a "operação liberdade", uma estratégia para articular suas bases para a queda de Maduro.

"Aqui estamos, vamos prosseguir! Todos às ruas, à fase definitiva do cessar da usurpação!", convocou o chefe do Parlamento, de maioria opositora, falando na plataforma de um caminhão.

Para tanto, Guaidó convocou nova manifestação para a próxima quarta-feira, destinada a multiplicar um voluntariado que, segundo disse, será encarregado de organizar e manter viva a pressão nas ruas.

Começa "a maior escalada de pressão que já vimos na nossa história", afirmou Guaidó, que também convidou os funcionários públicos a comparecer ao Legislativo, na segunda-feira, em seu empenho para que parem de apoiar Maduro.

O líder opositor disse que sua ofensiva também inclui uma marcha até o palácio presidencial de Miraflores, em data não especificada, mas não voltou a tocar no assunto.

Milhares de chavistas vestidos de vermelho também se concentraram em vários pontos de Caracas para caminhar rumo ao palácio presidencial e "ratificar o caráter anti-imperialista" do país.

"Juntos, em permanente mobilização, continuemos defendendo a paz e a independência nacional. Chega de ingerência!", tuitou Maduro.

- "Último erro" -

As manifestações da oposição resultaram em distúrbios em Maracaibo (oeste), onde os deputados Renzo Prieto e Nora Bracho foram detidos momentaneamente pelos militares.

"A repressão foi brutal, lançaram bombas de gás lacrimogêneo do helicóptero, mandaram blindados da Guarda e depois da repressão dos militares, chegaram os coletivos (civis armados)", contou à AFP a deputada Elimar Díaz.

O próprio Guaidó ficou sob ameaça de prisão, depois de a governista Assembleia Constituinte suspender na terça-feira sua imunidade e autorizar processá-lo por usurpar as funções de Maduro.

Deter Guaidó "seria um erro muito grave, talvez o último do regime" de Maduro, advertiu na sexta-feira Elliott Abrams, representante especial dos Estados Unidos para a crise venezuelana.

"Não vamos aqui dizer exatamente o que vamos fazer, mas a reação, asseguro-lhes que temos planos e será muito forte", afirmou, em declarações ao canal NTN24.

O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, reagiu neste sábado às declarações de Abrams, a quem chamou de "assassino".

"Quem deveria estar preso é Abrams, condenado nos Estados Unidos por genocídio na América Central", disse Cabello a jornalistas durante a marcha governista em Caracas.

Cabello acrescentou que "nem Abrams, nem ninguém" impõe os tempos à Justiça venezuelana e assegurou que um processo contra Guaidó está em curso, segundo a Constituição e as leis do país.

"Abrams não tem nada a ver com a Justiça venezuelana (...). Sua opinião não significa nada para nós", emendou Cabello.

O governo de Donald Trump não descarta uma ação armada no país sul-americano, que detém as maiores reservas de petróleo do planeta. Guaidó, por sua vez, considera pedir ao Legislativo que autorize a entrada de uma missão militar estrangeira no país.

As marchas em Maracaibo se dirigiam às empresas estatais de serviços públicos, arruinados como o restante do país por apagões que se sucedem desde 7 de março, afetando o abastecimento de água.

"Estamos cansados, mas temos que ir às ruas porque é a única maneira de tirar essa gente!", disse à AFP Verony Méndez, de 48 anos.

- Apostando no desgaste -

Enquanto Guaidó estimula a pressão popular, Washington aperta o cerco sobre Maduro, apoiado pelas Forças Armadas, que enfrentará um embargo petroleiro a partir de 28 de abril.

Na sexta-feira, a Casa Branca também sancionou 34 embarcações da estatal PDVSA e duas empresas que enviam petróleo venezuelano a Cuba.

Durante as mobilizações opositoras deste sábado em Caracas, Guaidó advertiu o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que o envio de petróleo venezuelano à Havana chegou ao fim, denunciando a commodity financia um grupo de Inteligência cubana, denominado pela oposição como "G2".

Segundo o líder do Parlamento, este suposto comando reprime militares contrários a Maduro.

"Acabou a exploração do petróleo da Venezuela. Sendo assim, senhor Díaz-Canel, a única ingerência que não vamos permitir é a que seu G2 cubano quer fazer na Venezuela e por isso chega de petróleo, não vão usar o petróleo da Venezuela para submeter nossos militares e investigá-los", disse Guaidó.

A pedido dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da ONU vai abordar, na próxima quarta-feira, a situação humanitária na Venezuela.

Em sua contra-ofensiva, o chavismo também inabilitou Guaidó, através da Controladoria, de exercer cargos públicos durante 15 anos. O deputado não reconhece a medida e a suspensão da imunidade.

"O governo está jogando no desgaste de Guaidó", disse à AFP o analista Luis Salamanca.

As marchas, que não cessam desde janeiro, quando Guaidó se autoproclamou presidente encarregado, agora contam com um fator inquietante: os "coletivos", dos quais Maduro exigiu tolerância zero com protestos violentos.

Os "colectivos" são organizações de base da situação, mas Guaidó os tacha de "paramilitares e terroristas".

John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional americano, exigiu neste sábado ao ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que os contenha.

- Queda de braço de aliados -

Guaidó se declarou presidente interino depois que o Legislativo declarou Maduro um "usurpador", alegando que seu segundo mandato, iniciado em 10 de janeiro, resultou de eleições fraudulentas.

Durante seu governo, iniciado em 2013, a Venezuela mergulhou na pior crise de sua história moderna, com escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação que o Fundo Monetário Internacional estima em 10.000.000% para 2019.

O líder socialista tem entre seus aliados a Rússia, que em 23 de março enviou dois aviões com uma missão militar, provocando a reação da Casa Branca.

Guaidó "pode se desgastar porque a realidade venezuelana é uma espécie de moedor de líderes", avalia Salamanca, que por enquanto descarta que o opositor esteja perdendo força.