O líder opositor venezuelano Juan Guaidó teve sua entrada barrada na Assembleia Nacional em Caracas, conseguiu furar o bloqueio, foi juramentado como presidente da Casa e depois foi expulso pela polícia sob bombas de gás lacrimogêneo - tudo isso em um intervalo de menos de duas horas.

A sequência de acontecimentos desta terça (7) ilustra a atual situação do país e a divisão no Legislativo, que no domingo (5) elegeu dois presidentes diferentes.

Primeiro o ditador Nicolás Maduro anunciou que o deputado Luis Parra era o novo líder da Assembleia, após uma votação realizada com a sede do Legislativo cercado pela polícia e que membros da oposição chamaram de um "golpe parlamentar" do regime.

Horas depois, a oposição fez uma sessão alternativa com a presença de cem deputados e reelegeu Juan Guaidó como presidente da Casa.

Nesta terça, quando tentava entrar na Assembleia com a intenção de presidir a sessão parlamentar, o opositor foi barrado por agentes da guardas Guarda Nacional Bolivariana.

Simultaneamente, imagens das TVs locais mostravam Parra e seus aliados sentados nos postos de liderança da Casa, enquanto alguns parlamentares aliados de Guaidó gritavam que havia ocorrido um golpe.

Do lado de fora, o líder opositor e seus aliados discutiram por vários minutos com os seguranças. "Isso não é um quartel!", gritaram.

Depois de cerca de meia hora de confusão, o grupo conseguiu furar o bloqueio dos agentes do regime e enfim entrou no prédio. As imagens mostram o momento que a multidão consegue empurrar os guardas que seguravam as portas da Assembleia.

Imediatamente, os opositores se dirigiram ao plenário e Guaidó prestou o juramento como presidente da Casa - o que Parra já tinha feito pouco antes.

Logo depois, porém, foram disparadas bombas de gás lacrimogêneo na Assembleia, enquanto o líder opositor e seus aliados deixavam o local correndo.

Assim, ninguém ainda sabe quem de fato comanda o Legislativo local, que teve seus poderes bastante reduzidos pelo regime - a maioria de suas decisões acabam anuladas.

A oposição afirma que a sessão oficial de domingo, que elegeu Parra, não tinha o quórum necessário para acontecer. A Assembleia Nacional tem 167 deputados, dos quais 112 são de oposição e 55 pertencem ao chavismo.

Para que a eleição do novo presidente fosse realizada, era necessária a presença de mais da metade deles -ou seja, ao menos 84.

Parra afirma que 140 legisladores estavam presentes na hora da votação, mas a oposição diz que eram muito menos, por volta de 60.

Além disso, segundo a agência de notícias Reuters, os deputados votaram apenas levantando as mãos, sem computar os votos, em desrespeito às regras da Casa.

Se prevalecer o resultado oficial, Parra passará a ser o novo líder da Assembleia Nacional até as eleições legislativas de dezembro.

Caso isso se confirme, Guaidó perderia seu posto como líder da Assembleia e, consequentemente, como presidente interino da Venezuela, cargo no qual é reconhecido por mais de 50 países.

Mas a oposição não reconheceu a eleição de Parra e considera que Guaidó segue tanto no comando da Assembleia quanto como presidente interino. Cerca de cem deputados estavam presentes na votação alternativa, que o reelegeu.

O grupo de Lima, que reúne uma série de países que apoiam o opositor (incluindo o Brasil), afirmou em comunicado que também não reconhece a votação feita pelo regime e que segue considerando Guaidó como presidente interino.