O governo da Nicarágua concedeu regime de prisão domiciliar a 91 opositores que foram detidos na segunda-feira. Entre os favorecidos está a líder estudantil belga Amaya Coppens.
 
"Hoje, 30 de dezembro, 91 opositores nicaraguenses voltaram para suas casas sob um regime especial de convivência familiar", divulgou o Ministério do Interior.
 
As libertações foram possíveis graças aos esforços do Papa Francisco, o núncio apostólico no país, Waldemar Stanislaw, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o procurador estadual de Direitos Humanos, segundo o comunicado do governo.
 
Entre os libertados estão Coppens e 12 outros opositores que foram presos em 14 de novembro por tentar ajudar um grupo de mulheres que estava em greve de fome para exigir a libertação de todos os "presos políticos" na Nicarágua.
 
"Sinto uma mistura de alegria ao ver minha família e raiva ao ver como (meus dois irmãos) foram agredidos há alguns dias" por grupos armados durante um protesto pacífico, disse Coppens à AFP, logo após chegar em sua cidade natal de Estelí (norte).
 
A belga, de 25 anos, disse que vai seguir exigindo de maneira cívica "liberdade, justiça e democracia para Nicarágua", apesar de ter sido encarcerada duas vezes nos últimos dois anos e de ter sua casa vigiada de perto por grupos de apoiadores do governo.
 
Torturas denunciadas 

A jovem foi presa pela primeira vez em setembro de 2018 por participar dos protestos que começaram em abril daquele ano contra o governo de Daniel Ortega, no poder há mais de uma década, acusado pela oposição de corrupção.
 
Segundo Coppens, que da última vez que foi detida passou 46 dias no temido presídio de El Chipote de Manágua, nas prisões existem "casos de tortura e maus-tratos" contra membros da oposição.
 
A grupo contrário ao governo trabalha há várias semanas numa campanha a favor de um fim de ano sem presos políticos.
 
Até 27 de dezembro havia nas prisões nicaraguenses 148 opositores detidos, de acordo com a Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (ACJD).
 
"Ainda temos irmãos nas celas, o regime deve liberar todos os presos políticos", exigiu a ACJD através de um comunicado.
 
O diretor executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pablo Abrao, comemorou no Twitter as "boas notícias sobre a libertação de presos políticos na Nicarágua".
 
"Hoje celebramos minha saída do cárcere, onde nunca deveria ter estado por estar lutando por algo que é justo. Viva a Nicarágua livre!", expressou a opositora María Ruiz.
 
Segundo a CIDH, entidade autônoma da Organização dos Estados Americanos (OEA), os confrontos entre manifestantes, policiais e grupos pró-governo iniciados em meados de 2018 deixaram pelo menos 328 mortos, centenas de detidos e 88 mil exilados.
 
A crise também causou uma profunda recessão econômica na Nicarágua, um dos países mais pobres do hemisfério, deixando mais de 150 mil pessoas desempregadas, segundo o governo, e mais de 400 mil de acordo com o setor privado.