Sputnik Brasil - Ao se alinhar aos EUA na frente diplomática pela mudança da liderança venezuelana, o Bolsonaro assumiu uma postura delicada que coloca em xeque a segurança da região. Com Donald Trump assumindo publicamente a possibilidade de uma intervenção militar, a Sputnik ouviu especialista para tentar entender as consequência de uma guerra para o Brasil.
Único estado brasileiro fora do sistema elétrico nacional, Roraima ainda depende do país vizinho para manter as luzes acesas. Boa parte da energia importada da Venezuela é utilizada para abastecer Boa Vista. A cidade responde por 75% de toda a energia consumida no estado. De acordo com o governador Antônio Denarium, a exportação de energia elétrica foi suspensa pela estatal venezuelana responsável pelo setor alegando "reparos na rede" de distribuição, o que obrigou o Brasil a acionar as custosas usinas termoelétricas para manter a energia sendo distribuída.
Este é apenas o primeiro reflexo de um problema muito maior para o Brasil em caso de uma guerra no país vizinho, avalia o professor do Colégio Militar de Porto Alegre e pesquisador do Centro de Estudos Internacionais sobre o Governo da UFRGS, Diego Pautasso. Na opinião do professor, uma situação de guerra poderia interromper completamente a transmissão de energia elétrica para Roraima, causando prejuízos ao estado e encarecendo a conta de luz de quem mora lá. A fronteira também tende a se tornar um território militarizado e perigoso.
"Não se pode esquecer e nem subestimar que a Rússia forneceu baterias antiaéreas S-300, que tem um poder destrutivo bastante significativo, e obviamente seria utilizado para proteger o espaço aéreo venezuelano e portanto toda a fronteira sul e toda a fronteira sudoeste", relembra Pautasso. Os S-300 são compostos por vários mísseis terra-ar têm alcance de até 300 km e compõem um avançado sistema de defesa antiaérea. A Venezuela vem adquirindo baterias do tipo desde 2009.
Outro prospecto negativo, diz Pautasso, seria o aumento expressivo no fluxo migratório para Roraima. Para o especialista, a tendência é que o número de venezuelanos cruzando a fronteira e se estabelecendo no Brasil se multiplique.
"Na [Guerra da] Síria, só para a Europa foram 1 milhão de imigrantes. Imagine o fluxo expressivo de venezuelanos para Roraima — que já não é um estado dos mais desenvolvidos e tem carência no fornecimento de serviços públicos para sua própria população —, obrigada a arcar com ajuda humanitária e prestação de serviços. É uma situação complexa e que pode ser fruto de ações diplomáticas pouco habilidosas", prenuncia.
O professor acredita que a entrada em massa de venezuelanos no Brasil "exigiria um aporte do governo federal em termos de recursos" para oferecimento de serviços básicos. Ele também acredita que a oferta de emprego seria prejudicada em Roraima, já que "não se trata de um estado com cadeias produtivas complexas capazes de absorver [a mão de obra venezuelana]".
"O governo brasileiro teve uma decisão bastante precipitada em reconhecer o presidente interino [Juan Guaidó], em uma atuação do Itamaraty que me parece pouco nobre em relação à sua história. O presidente Bolsonaro recebeu Guaidó conferindo-lhe status de chefe de Estado, o que causou desconforto inclusive na cúpula militar do governo. Essa falta de habilidade na condução da política externa tende a produzir bastante atrito", alerta.