Inicialmente acusado pela polícia por tráfico de drogas, o jornalista prometeu continuar seu trabalho de investigação para o site independente Meduza - Foto: Vasily Maximovy/AFP
O jornalista investigativo russo Ivan Golunov foi solto, livre de acusações, de uma delegacia de Moscou nesta terça-feira (11) e, em meio a lágrimas, agradeceu a simpatizantes e à imprensa pela solidariedade.


"Muitíssimo obrigado por seu apoio", disse Golunov.

Inicialmente acusado pela polícia por tráfico de drogas, o jornalista prometeu continuar seu trabalho de investigação para o site independente Meduza.

Em meio à comoção causada por seu caso no país, a Justiça russa decidiu retirar as acusações de tráfico de drogas contra Golunov.

"Golunov será solto hoje (terça-feira) de sua prisão domiciliar, e as acusações serão retiradas", disse mais cedo o ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev, citado em um comunicado.

A Justiça terá agora de avaliar "a legalidade das ações dos policiais que prenderam" o jornalista na quinta-feira passada, em Moscou, e que disseram ter encontrado uma grande quantidade de drogas em sua mochila e durante uma busca em seu apartamento.

De acordo com Kolokoltsev, os policiais que fizeram a prisão foram suspensos de suas funções durante a investigação.

Ainda segundo a mesma fonte, duas autoridades policiais serão demitidas: o general da Polícia Andrei Puchkov, chefe das forças de ordem no distrito oeste da capital russa, e o general Yuri Deviatkin, chefe em Moscou do Departamento de Combate a Narcóticos.

"Vou pedir ao presidente russo", Vladimir Putin, para removê-los do cargo, declarou Vladimir Kolokoltsev.

Jornalista do site Meduza, conhecido por suas investigações sobre a corrupção na prefeitura de Moscou e em setores obscuros como o de microcrédito e de agências funerárias, Ivan Golounov estava em prisão domiciliar desde sábado.

Os defensores do jornalista denunciaram um caso que foi fabricado em retaliação por suas investigações.

O repórter afirma que as drogas apreendidas pela polícia não eram suas e que foram colocadas em sua mochila sem seu conhecimento.

As análises realizadas a pedido da Justiça não revelaram nenhum vestígio de droga em seu sangue, e nenhum dos malotes apreendidos tinha suas digitais, segundo seus advogados.

Onda de mobilização

O caso provocou uma onda de rara solidariedade na sociedade russa, com apoio crescente - de jornais independentes até a mídia estatal, passando até mesmo por alguns políticos de alto escalão.

A decisão de retirar as acusações não tem precedentes na Rússia, onde os serviços de segurança e a polícia são acusados com frequência de fabricar casos de drogas para silenciar opositores e onde as absolvições são poucos frequentes.

"É uma grande notícia. É um exemplo inspirador e motivador do que a solidariedade pode fazer em favor de pessoas que são perseguidas", comemorou o opositor Alexei Navalni, ele mesmo alvo de vários processos judiciais nos últimos anos.

A União Europeia (UE) também celebrou que a Rússia tenha retirado as acusações contra Golunov, mas pediu uma "investigação exaustiva e transparente" sobre uma eventual "brutalidade policial" durante sua detenção.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) saudou no Twitter uma "mobilização histórica da sociedade civil" na Rússia. "Agora, aqueles que tentaram montar esse caso devem ser julgados", apontou.

O veículo independente Meduza, com sede na Letônia, estimou que "o poder escutou a sociedade".

Desde sexta-feira, manifestantes protestaram em frente à sede da polícia de Moscou com um cartaz, a única forma de protesto que não requer autorização das autoridades.

Pela primeira vez na história, os três maiores jornais russos - Kommersant, Vedomosti e RBK - publicaram uma coluna comum em apoio a Golunov e exigiram que este caso fosse totalmente investigado.

O Kremlin disse que acompanhava a investigação "cuidadosamente" e reconheceu que levantava "muitas perguntas", sem culpar, porém, o sistema judiciário.

Alexei Navalni publicou nesta terça uma investigação, acusando de corrupção a família de um alto funcionário dos poderosos serviços de segurança russos, o FSB. O nome desse funcionário foi citado por vários veículos como o possível "mentor" do caso contra Ivan Golunov.

Supostamente ligado à "máfia dos cemitérios" investigada por Golunov, a perseguição aberta por este funcionário seria em represália às matérias publicadas pelo repórter.

Uma marcha em apoio a Ivan Golunov foi marcada para quarta-feira (12) no centro de Moscou, enquanto uma petição exigindo sua libertação coletou quase 180.000 assinaturas.