Energia, transportes e 'agenda urbana' são as três áreas destacadas pela agência ambiental da ONU como oportunidades climáticas para que o Brasil cumpra seu compromisso no Acordo de Paris.
 
Elas estão listadas no sumário-executivo do relatório anual Emissions Gap Report, publicado nesta terça-feira (26).
 
No entanto, mais da metade das emissões brasileiras de gases-estufa estão concentradas no setor de florestas e mudanças no uso do solo, por conta principalmente do desmatamento.
 
Estudos apontam que as ações do governo para florestas também representam a forma mais barata para implementação das metas de Paris.
 
"Uma agenda urbana (incluindo qualidade do ar) deve ser desenvolvida, com o cuidado de garantir que esteja de acordo com o foco atual do Ministério do Meio Ambiente em melhorar o congestionamento do tráfego nas grandes cidades (mais transporte público e outras alternativas de baixo carbono)", diz o relatório.
 
 
Na versão completa do relatório, apenas o último item do capítulo sobre as recomendações de ações climáticas ao Brasil diz que "reduzir e eliminar o desmatamento ilegal no país deve ser uma prioridade". Antes, o texto lista ações nos setores de energia, transportes, indústria, construção civil e 'agenda urbana' -mencionada entre aspas no documento.
 
Questionada sobre a razão para se destacar a agenda urbana em vez do setor de florestas, uma das autoras do documento, a pesquisadora da Universidade da Dinamarca Anne Olhoff, respondeu que o combate ao desmatamento é enfatizado em outros capítulos e que uma análise mais profunda sobre cada país seria posteriormente adicionada nos anexos.
 
No capítulo de avaliação das políticas recentes, é citada a tendência de aumento de emissões "caso regulações ambientais e políticas de controle do desmatamento forem revertidas ou suspensas".
 
O texto equilibra menções positivas e negativas ao avaliar as políticas do país, elogiando o aumento dos investimentos em renováveis, o programa Renovabio e a concessão de ferrovia feita pelo governo Bolsonaro.
 
"Apesar da recente crise envolvendo os incêndios na região amazônica, o presidente Bolsonaro garantiu que o Brasil cumpriria a meta do NDC", diz o relatório.
 
O documento se dedica a calcular anualmente qual a lacuna entre as ações atuais dos países e o que ainda falta para se alcançar as metas do Acordo de Paris, que objetivam manter o aumento da temperatura média do planeta entre 1,5ºC e 2ºC, no máximo. O aquecimento atual do planeta já é próximo de 1,1ºC.
 
Para ficar em 1,5ºC -limite que evitaria a inundação de países-ilha- o mundo precisaria reduzir as emissões de gases-estufa em 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, anuncia o relatório publicado nesta terça.
 
Isso exigiria aumentar a ambição das metas climáticas definidas por cada nação no Acordo de Paris. As metas atuais, segundo o mesmo relatório, ainda levaria o mundo a um cenário de aquecimento superior a 3,2ºC.
 
Em anos anteriores, como em 2017, o relatório havia posicionado o Brasil entre os países do G20 que mantinham políticas coerentes com suas metas no Acordo de Paris.
 
Em 2013, o Brasil foi elogiado no mesmo relatório pelo plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), mencionado entre as "políticas que funcionam". Já a edição de 2018 citava a preocupação com uma mudança na direção das políticas climáticas. "O recém-eleito presidente do Brasil tem indicado que quer limitar as restrições ambientais à agricultura".
 
Neste ano, o documento aponta que o cenário atual brasileiro pode levar a emissões 15% superiores aos níveis do compromisso do país no acordo climático.
 
Além do Brasil, o relatório se dedicou a analisar progressos e oportunidades para outros seis membros do G20 - Argentina, China, União Europeia, Índia, Japão e Estados Unidos. O grupo representa, segundo o relatório, 56% das emissões de gases-estufa calculadas em 2017.