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Nas últimas semanas, Kamala catapultou essa empreitada. No maior teste de sua vida pública, acumulou a liderança de algumas das negociações mais sensíveis do governo americano, com efeitos decisivos para sua ambição de disputar a Presidência dos EUA.
Desde março, Biden escalou a vice para cuidar de ao menos três temas cruciais para sua gestão: imigração, acesso ao voto e ampliação da rede de banda larga nas áreas rurais do país. Destes, somente o último é de interesse bipartidário -ainda que esteja em um pacote de infraestrutura já desidratado em mais de 20% pelo presidente para tentar atrair o apoio da oposição. Os outros dois assuntos cristalizam-se como os grandes desafios do democrata até agora.
O descontrole na fronteira é a principal crise do governo, enquanto a investida dos republicanos para dificultar o voto de pessoas negras e vulneráveis atinge o tronco do eleitorado que no ano passado deu a vitória a Biden contra Donald Trump.
A condução das negociações por Kamala é acompanhada de perto pela ala mais à esquerda do Partido Democrata, que não demonstra a mesma postura flexível adotada pelo grupo durante o governo de Barack Obama. Assessores da sigla no Congresso dizem que tentar com afinco deliberar sobre essas questões não é mais suficiente, agora é preciso resolvê-las de vez.
Caso tenha bom desempenho diante dos desafios, avaliam analistas, Kamala conseguiria construir uma plataforma política sólida e se cacifar para a disputa à Casa Branca. Se falhar, suas credenciais de boa articuladora provavelmente serão questionadas e o plano de ocupar o Salão Oval pode ficar mais distante.
Aos 56 anos, Kamala é por enquanto a sucessora natural de Biden para 2024 ou 2028. Durante a campanha, o democrata sinalizou que seria um presidente de transição -ele terá 82 anos ao fim do mandato- mas, recentemente, não descartou concorrer à reeleição ao ser questionado por jornalistas.
Até lá, Kamala sabe que precisa ocupar espaço, sem perder relevância política, e se tornou uma espécie de bombeira da Casa Branca nas tratativas com o Congresso.
Os democratas têm maioria apertada na Câmara -das 435 cadeiras, 222 são ocupadas por correligionários de Biden e 212, por republicanos. O Senado, por sua vez, é rachado ao meio -50 votos para democratas e 50 para republicanos- com o desempate justamente nas mãos de Kamala.
Muitos projetos, porém, precisam de 60 dos 100 senadores para serem aprovados, e dois democratas moderados têm votado, nas palavras de Biden, muito mais com a oposição. São eles: Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, e Kyrsten Sinema, do Arizona, estados de fortes raízes e tradições republicanas.
Apesar de ser um político tradicional, com experiência de 40 anos no Senado, Biden nunca ocupou o plenário no mesmo período que Manchin e Sinema, ao contrário de Kamala, que foi senadora ao lado deles de 2017 até o início deste ano.
Na terça-feira (1º), por exemplo, Biden anunciou que Kamala estava escalada para organizar os esforços de aprovação no Congresso dos projetos de leis para proteger o acesso ao voto. O desafio da vice-presidente era convencer Manchin a assinar a proposta democrata chamada de "Lei Para o Povo", que, entre outras medidas, anularia muitas restrições que existem sobre o ato de votar.
Considerado decisivo no pêndulo dos democratas no Senado, Manchin classifica a legislação como partidária e ampla demais, visto que também mudaria a forma como os distritos eleitorais são divididos e controlaria as doações de campanha.
Neste domingo (6), o senador enterrou as esperanças democratas ao escrever um artigo para um jornal local de seu estado dizendo que votaria contra a lei. Segundo ele, o mecanismo "destruiria os já enfraquecidos meios da nossa democracia". Manchin afirmou ainda que não vai apoiar o fim da obstrução no Senado, como quer parte do Partido Democrata, o que dificultaria o avanço das metas legislativas mais ambiciosas de Biden.
De acordo com assessores da Casa Branca, Kamala vai seguir com o diálogo parlamentar, mas, diante dos obstáculos, dará também início a uma investida no setor privado para pressionar o Congresso a apoiar leis mais amplas que revertam as restrições de acesso ao voto.
Como mulher negra, Kamala quer ser o rosto da resposta da Casa Branca aos republicanos que têm aprovado legislações estaduais para dificultar o voto, principalmente de pessoas negras e pobres, em uma investida vista por especialistas como a mais perigosa desde as chamadas leis Jim Crow, que legalizaram a segregação racial no final do século 19.
Entre as medidas aprovadas na Geórgia, por exemplo, estado em que 32% da população são negros e que deu a vitória a Biden no ano passado, está a exigência de um documento com foto para quem votar por correio, além da redução do tempo e do número de locais de votação onde essas cédulas podem ser depositadas.
Nos EUA, o voto não é obrigatório, e os americanos que escolherem participar do processo podem ir à urna no dia da eleição, votar pessoalmente de forma antecipada ou depositar o voto por correio.
Não menos desafiadora, a crise imigratória também se tornou incumbência de Kamala desde o fim de março, conforme as críticas à gestão Biden nesta seara disparavam.
Filha de uma pesquisadora da Índia e de um professor jamaicano, a vice-presidente tem a tarefa de supervisionar os esforços diplomáticos relacionados à fronteira do México, diante do maior fluxo migratório visto nos EUA em duas décadas.
Kamala faz, neste domingo, sua primeira viagem internacional como vice-presidente justamente no escopo deste desafio. Ela vai ao México e à Guatemala, segundo assessores, para estudar a situação e colher informações antes de anunciar uma estratégia mais ampla para tentar solucionar a crise imigratória.
Nessa frente, porém, os custos políticos podem ser ainda mais altos porque a crise tem demorado para arrefecer, e o arcabouço de críticas sobre a atuação do governo abriga até mesmo aliados de primeira ordem da Casa Branca.
Biden foi duramente atacado -também por ativistas e parlamentares democratas- por ter restringido o acesso à imprensa para acompanhar o trabalho das patrulhas na divisa com o México, por exemplo, e pelo alto volume de crianças desacompanhadas que ficam em centros de detenção por mais do que as 72 horas permitidas por lei.
Ainda na campanha, ele prometeu tratamento mais humanitário aos estrangeiros que tentam entrar nos EUA sem documento e facilitar o acesso à cidadania americana a 11 milhões de imigrantes, mas o descontrole nas fronteiras eclipsou medidas já colocadas em prática, como a que pretende reunir as famílias separadas durante o governo Trump.
Como vice de Obama, Biden ficou responsável por diversas políticas da América Latina, e acompanhava com interesse a relação com o chamado triângulo norte da América Central, que engloba El Salvador, Guatemala e Honduras. À época, a Casa Branca desenvolveu estratégias para tentar melhorar a qualidade de vida na região e desencorajar a imigração para os EUA, mas também sofreu uma enxurrada de críticas.
Sem grandes avanços, Biden tenta repetir o roteiro, agora sob a liderança de Kamala. Por trás da imagem da vice, atuam equipes do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional, entre outros auxiliares técnicos, para elaborar os programas que podem reforçar o estofo político-gestor de que ela precisa.
Kamala tenta reconstruir sua imagem após críticas de ativistas e da ala progressista democrata sobre não ter promovido reformas no sistema criminal quando fora procuradora na Califórnia, de 2004 a 2011. Desde que chegou ao Senado, ela caminha à esquerda, adotando posições duras contra Trump, mas sem deixar de acenar ao centro, com propostas de corte de impostos para a classe média, por exemplo.
A mistura pragmática foi uma das principais receitas para a vitória de Biden no ano passado e, junto com a posição de vice mais ativa, parece o fermento do caminho que Kamala precisa percorrer se quiser se tornar a primeira mulher a ser eleita presidente dos EUA.
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Desde março, Biden escalou a vice para cuidar de ao menos três temas cruciais para sua gestão: imigração, acesso ao voto e ampliação da rede de banda larga nas áreas rurais do país. Destes, somente o último é de interesse bipartidário -ainda que esteja em um pacote de infraestrutura já desidratado em mais de 20% pelo presidente para tentar atrair o apoio da oposição. Os outros dois assuntos cristalizam-se como os grandes desafios do democrata até agora.
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A condução das negociações por Kamala é acompanhada de perto pela ala mais à esquerda do Partido Democrata, que não demonstra a mesma postura flexível adotada pelo grupo durante o governo de Barack Obama. Assessores da sigla no Congresso dizem que tentar com afinco deliberar sobre essas questões não é mais suficiente, agora é preciso resolvê-las de vez.
Caso tenha bom desempenho diante dos desafios, avaliam analistas, Kamala conseguiria construir uma plataforma política sólida e se cacifar para a disputa à Casa Branca. Se falhar, suas credenciais de boa articuladora provavelmente serão questionadas e o plano de ocupar o Salão Oval pode ficar mais distante.
Aos 56 anos, Kamala é por enquanto a sucessora natural de Biden para 2024 ou 2028. Durante a campanha, o democrata sinalizou que seria um presidente de transição -ele terá 82 anos ao fim do mandato- mas, recentemente, não descartou concorrer à reeleição ao ser questionado por jornalistas.
Até lá, Kamala sabe que precisa ocupar espaço, sem perder relevância política, e se tornou uma espécie de bombeira da Casa Branca nas tratativas com o Congresso.
Os democratas têm maioria apertada na Câmara -das 435 cadeiras, 222 são ocupadas por correligionários de Biden e 212, por republicanos. O Senado, por sua vez, é rachado ao meio -50 votos para democratas e 50 para republicanos- com o desempate justamente nas mãos de Kamala.
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Apesar de ser um político tradicional, com experiência de 40 anos no Senado, Biden nunca ocupou o plenário no mesmo período que Manchin e Sinema, ao contrário de Kamala, que foi senadora ao lado deles de 2017 até o início deste ano.
Na terça-feira (1º), por exemplo, Biden anunciou que Kamala estava escalada para organizar os esforços de aprovação no Congresso dos projetos de leis para proteger o acesso ao voto. O desafio da vice-presidente era convencer Manchin a assinar a proposta democrata chamada de "Lei Para o Povo", que, entre outras medidas, anularia muitas restrições que existem sobre o ato de votar.
Considerado decisivo no pêndulo dos democratas no Senado, Manchin classifica a legislação como partidária e ampla demais, visto que também mudaria a forma como os distritos eleitorais são divididos e controlaria as doações de campanha.
Neste domingo (6), o senador enterrou as esperanças democratas ao escrever um artigo para um jornal local de seu estado dizendo que votaria contra a lei. Segundo ele, o mecanismo "destruiria os já enfraquecidos meios da nossa democracia". Manchin afirmou ainda que não vai apoiar o fim da obstrução no Senado, como quer parte do Partido Democrata, o que dificultaria o avanço das metas legislativas mais ambiciosas de Biden.
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