O dissidente chinês Liu Xinglian completa 64 anos nesta quarta-feira (16) no aeroporto taiwanês de Taiwan com outro refugiado. Eles estão lá há mais de 100 dias, com a esperança de obter asilo no exterior.
Seu caso lembra em alguns aspectos ao da jovem saudita Rahaf Mohamed al Qunun, acolhida no Canadá após ter usado as redes sociais para comover o mundo e evitar assim que a Tailândia a forçasse a voltar ao seu país.
Mas os chineses não suscitaram a mesma solidariedade internacional.
Assim como a jovem saudita, Liu e seu amigo Yan Kefen, de 44 anos, pediram asilo ao Canadá, difundindo regularmente notícias de sua situação no aeroporto.
"No aeroporto não se pode respirar ar puro, não há luz do dia", diz Liu por telefone à AFP. Ele está em uma sala no quarto andar iluminada por luz neon. Ali passaram a maior parte do tempo durante os últimos três meses, alimentando-se de comida fornecida pelas companhias aéreas.
"Isto não pode ser bom para a saúde", comenta preocupado.
Liu e Yan são reféns do status particular de Taiwan, uma ilha dirigida pelo regime rival da China desde 1949, depois da guerra civil entre comunistas e nacionalistas.
A maioria dos países não reconhece Taiwan, e este não está representado na ONU, o que significa que a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) não opera em seu território. A legislação taiwanesa não protege os refugiados.
"Em perigo"
Taiwan hesita em acolher os que fogem do outro lado do estreito de Formosa por medo de complicar ainda mais as relações com Pequim ou provocar uma afluência maciça de pessoas.
O governo da presidente Tsai Ing-wen, membro de um partido favorável à independência, milita pelos direitos humanos e não tomou qualquer medida para expulsar os dois refugiados. Como consequência disso, não podem entrar em território taiwanês nem sair da zona de trânsito do aeroporto. Eles não querem ficar em Taiwan. Os dois fugiram para a Tailândia, país ao que Yan chegou em 2015 e Liu, em 2017.
A Tailândia não é signatária da convenção da ONU sobre os refugiados e costuma expulsar os solicitantes de asilo ou transmitir os casos a Acnur para que esta determine seu status. A ONU busca países de acolhimento para os refugiados, mas a lista de espera é longa.
Segundo documentos obtidos pela AFP, a Acnur reconheceu como refugiados Yan e Liu, que estavam dispostos a ficar na Tailândia até encontrar um país de acolhida. Mas a polícia começou a visitá-los com frequência.
"Tinha a impressão de que minha vida estava em perigo em Bangcoc", explica Yan à AFP. "Também tinha medo de que a polícia tailandesa me mandasse de volta para a China".
Desde a chegada ao poder da junta militar em 2014, o país estreitou laços com Pequim.
Nos últimos cinco anos, a Tailândia mandou para a China mais de 100 uigures e vários dissidentes chineses, alguns dos quais tinham recebido asilo no Canadá, segundo a imprensa local.
"Me sinto impotente"
O livreiro sueco de origem chinesa Gui Minghai desapareceu na cidade balneária tailandesa de Pattaya e reapareceu na televisão oficial chinesa para fazer "uma confissão".
Liu e Yan decidiram fugir de novo e aterrissaram em Taipei em 27 de setembro. "Quando pegamos o avião, a única coisa que queríamos era sair da Tailândia", lembra Yan. "Não tínhamos nenhum plano a não ser pedir asilo".
Os dois afirmam que são bem tratados pelas autoridades taiwanesas. "Não queremos causar problemas a Taiwan mas temos que recorrer ao Facebook e ao Twitter para que as pessoas não nos esqueçam", declara Yan.
O governo taiwanês se declara decidido a "respeitar os direitos humanos e a segurança" de ambos, e o consulado do Canadá em Hong Kong se nega a comentar o caso.
Os dois estão condenados a esperar. "Não sei quanto tempo vou ter que ficar", diz Yan. "Espero poder ir embora antes do Ano Novo chinês (5 de fevereiro). Se não for possível, paciência. Me sinto impotente".