Grupo também denunciou a violência política no Brasil

Mais de 50 deputados do Parlamento Europeu pediram nesta quinta-feira (15) a suspensão "imediata" das negociações para um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul por conta do assassinato da vereadora Marielle Franco, uma conhecida ativista pelos direitos humanos do Rio de Janeiro.

O documento foi divulgado pelo jornalista Jamil Chade e é endereçado para a vice-presidente da Comissão Europeia, a italiana Federica Mogherini, também responsável pela diplomacia do bloco.

"Esse assassinato se produz em um clima de crescente violência no Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro. A política de segurança do Governo brasileiro e do Estado do Rio de Janeiro, baseada essencialmente no aumento da presença de corpos policiais e militares (e que culminou na intervenção do Exército brasileiro), não fez mais do que agravar o clima de violência no país", diz a carta, que é assinada pelo eurodeputado espanhol Miguel Urbán Crespo, do partido de esquerda Podemos.

O documento também é firmado por outros 51 europarlamentares e lembra que Marielle era relatora da comissão municipal criada para fiscalizar a intervenção militar no Rio e crítica da violência policial na cidade. "A defesa das populações oprimidas e discriminadas deve ser uma prioridade para a União Europeia. O assassinato de Marielle Franco pretende amedrontar os defensores dos direitos humanos, assim como influir nas eleições deste ano", diz o documento.

A carta se encerra com um pedido para que a Comissão Europeia, poder Executivo da UE, "suspenda as negociações comerciais, de forma imediata", com o Mercosul, "exigindo do Brasil uma investigação independente, rápida e exaustiva que permita alcançar a verdade e a justiça".

Os signatários pertencem ao Grupo da Esquerda Unitária Europeia, que reúne 52 eurodeputados de partidos comunistas e socialistas, como o Podemos, o grego Syriza, o irlandês Sinn Féin, o alemão Die Link e o português Bloco de Esquerda. O grupo tem cerca de 7% dos assentos no Parlamento da UE. Também nesta quinta, Urbán Crespo já havia usado o plenário de Estrasburgo para condenar o assassinato da vereadora. Exibindo uma placa com a frase "Marielle Presente", que virou símbolo das homenagens à política do Psol, Urbán Crespo afirmou que o Brasil vive um clima de "violência política pré-eleitoral".

"Esta noite, assassinaram a vereadora do Psol Marielle Franco no Rio de Janeiro. Assassinaram uma ativista feminista dos direitos humanos, anticapitalista, uma ativista assassinada em um clima de violência política pré-eleitoral no Brasil", declarou o eurodeputado.

O espanhol ainda enviou "solidariedade" a seus "companheiros" no país latino-americano e exprimiu sua "condenação a esse clima de violência no Brasil". Ao lado de Urbán Crespo, outros eurodeputados do Podemos exibiram cartazes em memória de Marielle.

Assassinato - O crime ocorreu na noite da última quarta-feira (14) e também vitimou o motorista da vereadora, Anderson Pedro Gomes. As características do homicídio - uma emboscada sem roubo - apontam para a hipótese de execução, que é a principal linha de investigação da polícia.

Nascida e criada na favela da Maré, Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016, com 46.502 votos. Nos últimos dias, postou mensagens nas redes sociais denunciando a violência policial no Rio.

"Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", escreveu no Facebook.

Ela também chamou o 41º Batalhão da Polícia Militar de "Batalhão da Morte" por causa de denúncias de crimes no bairro de Acari.

Marielle era crítica da intervenção militar do Governo Federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Com informações da ANSA.