Centenas de pessoas, muitas delas com emprego fixo, estão dormindo diariamente no Aeroporto de Madri em uma situação considerada “delicada e grave” por sindicatos, ONGs e pela Defensoria Pública da Espanha.

Fotos e vídeos nas redes sociais mostram corredores dos terminais tomados por colchões improvisados e pessoas dormindo, situação que nas últimas semanas levou à remoção desses grupos para áreas menos movimentadas do aeroporto.

O cenário também gerou uma disputa de responsabilidades entre diferentes esferas do poder público — a AENA (empresa estatal que administra o aeroporto), o governo espanhol, a prefeitura de Madri e o governo regional.

De acordo com um estudo do sindicato ASAE e de uma ONG ligada à Cáritas, entre 400 e 500 pessoas dormem todas as noites no aeroporto. Cerca de 38% delas saem de manhã para trabalhar e retornam à noite por não conseguirem pagar um aluguel. A maioria é composta por homens (78%) e estrangeiros (74%), sendo que quase metade já vive na Espanha há mais de cinco anos.

Embora pessoas em situação de rua já utilizassem o aeroporto no passado, o número atual é inédito. Além disso, o perfil é mais diversificado: inclui trabalhadores formais, pessoas com dependência química, transtornos mentais e casos crônicos de vulnerabilidade.

Recentemente, a AENA realocou essas pessoas em um único setor do aeroporto, longe das áreas com fluxo de passageiros, o que gerou aumento de conflitos e preocupações com a segurança. O sindicato AENA pediu que essas pessoas sejam transferidas “para um local digno” com apoio da Defensoria Pública.

O defensor público Ángel Gabilondo tem cobrado uma solução desde março. Esta semana, ele visitou pessoalmente o local e pediu explicações à prefeitura e à AENA.

O presidente da AENA, Maurici Lucena, reconheceu a gravidade do problema, mas responsabilizou a prefeitura de Madri por não oferecer suporte social adequado. Já o prefeito José Luis Martínez-Almeida alega que não tem autoridade para remover pessoas de uma área federal como o aeroporto, e que parte do problema está ligada ao colapso dos serviços estatais de imigração e asilo.

Apesar das acusações mútuas, prefeitura e AENA se reuniram na quinta-feira (22) e chegaram a um primeiro acordo: solicitar a uma ONG um censo completo das pessoas que vivem no aeroporto. Ambos prometeram colaborar em busca de uma solução.

Enquanto isso, entrou em vigor um controle de acesso aos terminais entre 21h e 5h, permitindo a entrada apenas de passageiros com bilhete, funcionários e pessoas com comprovante do estacionamento. A medida, autorizada após parecer da Advocacia do Estado, já foi questionada pela Defensoria Pública.

Na primeira noite de controle, 150 pessoas foram impedidas de entrar, e 170 foram identificadas dormindo dentro do aeroporto, segundo o sindicato dos seguranças (UGT).