REPERCUSSÕES

Por que a cerimônia foi cancelada?

Segundo a entidade, a decisão foi tomada após um processo de consulta entre as 17 organizações que compõem o conselho. “Ficou claro que nossas organizações-membro não sentem que o vencedor do Prêmio da Paz deste ano está de acordo com os valores do Conselho Norueguês da Paz ou de nossas organizações-membro. Como uma organização guarda-chuva, é crucial que nossos eventos reflitam esses valores”, destacou o comunicado oficial.

A presidente do conselho, Eline H. Lorentzen, afirmou que a decisão foi “difícil, mas necessária”. “Temos grande respeito pelo Comitê Nobel e pelo Prêmio da Paz como instituição, mas como organização também devemos ser fiéis aos nossos próprios princípios e ao amplo movimento pela paz que representamos. Estamos ansiosos para celebrar o Prêmio da Paz novamente no ano que vem”, acrescentou.

A procissão, tradicionalmente realizada após a cerimônia de entrega do Nobel em Oslo, é organizada há décadas pelo Norges Fredsråd como uma manifestação pública em apoio ao laureado. 

Quem é María Corina Machado?

Engenheira e ex-deputada, María Corina Machado é uma das principais líderes da oposição ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Fundadora da ONG Súmate, que promove a transparência eleitoral e a participação cidadã, ela tem sido uma voz constante contra a repressão política no país.

Em 10 de outubro, o Comitê Norueguês do Nobel anunciou que Machado receberia o Prêmio Nobel da Paz de 2025 por sua “luta pacífica em defesa da democracia e dos direitos humanos do povo venezuelano”.

A escolha foi interpretada por analistas como uma mensagem de apoio internacional à oposição venezuelana e à luta por eleições livres no país. Ao receber o anúncio, María Corina afirmou: “Venceremos. Este prêmio pertence a todos os venezuelanos que não desistiram de lutar pela liberdade.”

Na ocasião, a ativista dedicou o prêmio ao povo venezuelano e ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Este imenso reconhecimento da luta de todos os venezuelanos é um impulso para completar nossa tarefa: alcançar a liberdade”, escreveu ela na rede social X.

“Estamos no limiar da vitória e, hoje, mais do que nunca, contamos com o presidente Trump, o povo dos EUA, os povos da América Latina e as nações democráticas do mundo como nossos principais aliados para alcançar a liberdade e a democracia. Dedico este prêmio ao povo sofredor da Venezuela e ao presidente Trump, por seu apoio decisivo à nossa causa!”

Em contraponto, a Casa Branca criticou a decisão, apontando que Trump deveria ter sido o vencedor, após suas ações voltadas ao cessar-fogo em Gaza.

“O presidente Trump continuará fazendo acordos de paz, acabando com guerras e salvando vidas. Ele tem o coração de um humanitário e nunca haverá ninguém como ele, que pode mover montanhas com a força de sua vontade”, disse o porta-voz da Casa Branca, Steven Cheung, em uma postagem no X.

“O Comitê do Nobel provou que coloca a política acima da paz.”

No mesmo dia, no entanto, o ex-presidente publicou em sua rede social, Truth Social, um print da publicação feita por María Corina no X, em que ela cita a necessidade do apoio de Trump no combate ao autoritarismo na Venezuela.

Repercussões e críticas

A decisão do Conselho Norueguês de Paz expõe divisões internas sobre o caráter da premiação deste ano. Enquanto o Comitê Nobel justificou a escolha de María Corina como reconhecimento a uma trajetória de resistência democrática, parte das organizações norueguesas e externas argumenta que a escolha teria um tom excessivamente político, destoando da tradição de promover diálogo e reconciliação entre as partes em conflito.