Não bastassem os problemas econômicos e a crise política que sacode o governo do primeiro-ministro, António Costa, Portugal está tendo de lidar com um fenômeno preocupante: o excesso de mortes no país. Em média, nos três últimos anos, os óbitos passaram de 10 mil por mês, o que não se via há mais de 100 anos, desde o surto de gripe espanhola. Segundo o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, nem mesmo a pandemia do novo coronavírus explica os números. Em 2022, foram 124.755 falecimentos (5,46% decorrentes da COVID-19), apenas 430 a menos que no ano anterior (125.185) e 1.035 a mais que em 2020 (123.720).

Na tentativa de encontrar explicações plausíveis para os dados, Pizarro fechou um acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para investigar o que está acontecendo. O ministro reconhece que Portugal é um país envelhecido — 31% da população tem 60 anos ou mais. Mas, no entender dele, nem mesmo isso explica o fato de o número de mortes estar tão elevado, sobretudo com a medicina fazendo milagres e com medicamentos que prolongam a vida de muita gente. No caso de pacientes com câncer, por exemplo, mais de metade consegue se curar e há pessoas que convivem por décadas com a doença.

Uma das desconfianças do Ministério da Saúde para as mortes não esperadas está nas mudanças climáticas, cujos efeitos serão sentidos com maior frequência nos próximos anos. Pizarro chama a atenção para um fato atípico em Portugal: mortes provocadas pelo excesso de calor. O verão português foi escaldante, com a temperatura chegando a 47 graus em algumas regiões. “Até então registravam-se óbitos por causa do frio excessivo. Neste inverno, por exemplo, não houve nenhuma morte atribuída ao frio”, assinala.
 
As casas portuguesas, especialmente as localizadas em áreas mais remotas, não estão preparadas para suportar invernos muito rigorosos. Não têm processo de calefação, o que também ocorre em muitos apartamentos em Lisboa. Por isso, as mortes por frio, sobretudo de crianças e idosos. Da mesma forma, o país não sabe lidar com o calor excessivo, que, se ressalte, tem provocado terríveis ondas de incêndio no país europeu. Esse é outro problema com o qual Portugal está aprendendo a conviver, e as falhas têm sido muitas, com várias vidas perdidas.

Bebês estrangeiros

Pelos cálculos do Ministério da Saúde, os dados preliminares de 2022 apontam que houve pelo menos 6 mil mortes não esperadas. Os números são acompanhados em tempo real pelos técnicos da pasta, uma vez que os cartórios são obrigados a comunicar todas as informações em um sistema eletrônico integrado. A expectativa é de que a OMS aponte os resultados das investigações ainda no final do primeiro semestre do ano, de forma que o governo possa tomar as devidas providências para conter essa realidade desoladora.

“Tudo será verificado”, afirma Pizarro. “Da nossa parte, estamos revendo todas as causas de mortes de 2022”, acrescenta. Pelos dados do censo de 2021, Portugal tem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Ano após ano, esse número vem caindo. Por isso, o governo tem facilitado a entrada de estrangeiros no país, como forma de incrementar a natalidade, com impactos econômicos mais profundos a longo prazo. Nas contas do ministro da Saúde, 12% dos bebês nascidos em território luso são filhos de imigrantes.