PANDEMIA DE CORONAVÍRUS



Um homem que contraiu o novo coronavírus em abril e se recuperou voltou a se contagiar com uma cepa diferente do mesmo vírus em agosto. Essa é a conclusão de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Hong Kong, segundo um comunicado divulgado nesta segunda-feira pela instituição. A equipe, liderada por Kwok-Yung Yuen, que em 2013 ajudou a identificar o outro coronavírus causador da primeira SARS, usou técnicas de análise genômica para determinar que o indivíduo havia se contagiado com duas cepas diferentes do SARS-CoV-2. O resultado, aceito para publicação na revista Clinical Infectious Diseases, seria a primeira prova de uma reinfecção no mundo inteiro. E mostraria que, pelo menos em um caso, a imunidade gerada pelo contato com o vírus não impediria infecções posteriores.

O paciente, de 33 anos, teve a primeira infecção com sintomas leves e a segunda completamente assintomática depois de viajar à Espanha. Algo semelhante é observado com outros patógenos que podem infectar em várias ocasiões, como os coronavírus que provocam catarro e cujo contato prévio não impede uma nova infecção, mas costuma provocar efeitos leves em contágios posteriores.

Embora tenha havido outros casos de pessoas que continuavam dando positivo nos testes de coronavírus durante muitas semanas, não estava claro se isso acontecia por causa de uma reinfecção com uma cepa distinta do vírus ou porque restos do microrganismo permaneciam em algumas partes do corpo e voltavam a provocar sintomas após um tempo.

A análise de milhares de infectados até agora indica que quase todos eles geram uma resposta imune, ainda que a doença tenha sido leve. Dado o pouco tempo transcorrido desde o início da pandemia, ainda restam dúvidas sobre a duração dessa resposta de defesa. Não se sabe se ela impedirá novas infecções durante anos ou se fará com que eventuais contágios posteriores tenham sintomas mais leves.

Enquanto a comunidade internacional aguarda a publicação do trabalho para poder analisá-lo, alguns pesquisadores manifestaram sua opinião a respeito. Em declarações ao Science Media Center, Jeffrey Barrett, consultor científico do Projeto do Genoma da Covid-19 do Wellcome Sanger Institute britânico, afirmou que as diferenças genéticas entre as duas cepas sugerem que “é muito mais provável que esse paciente tenha tido duas infecções diferentes do que apenas uma infecção seguida de uma recaída”. Mas Barrett adverte que não é possível tirar grandes conclusões sobre o comportamento do vírus com base numa única observação. “Levando em conta o número de infecções no mundo até agora, ver só um caso de reinfecção não é tão surpreendente, inclusive se for algo muito raro.”