A China emitiu nesta terça-feira (4) uma série de advertências alarmistas a seus cidadãos que viajam para os Estados Unidos, uma maneira de usar o turismo em sua guerra comercial com Washington.
 
Os dois países estão em desacordo desde os recentes ataques do governo Trump à gigante das telecomunicações Huawei e da adoção de tarifas punitivas sobre os produtos chineses.
 
"Recentemente, tiroteios, roubos e furtos ocorreram com frequência nos Estados Unidos", apontou o Ministério chinês da Cultura e do Turismo em sua página institucional on-line.
 
O organismo pede ainda aos turistas chineses que "avaliem os riscos de viajar para os Estados Unidos" e "tomem consciência das questões de segurança".
 
A Chancelaria chinesa emitiu um comunicado em separado, acusando as autoridades americanas de "perseguirem" cidadãos chineses "em várias ocasiões" com visitas domiciliares, ou interrogatórios.
 
Pequim pede que seus cidadãos e organizações chinesas presentes nos Estados Unidos "fortaleçam sua vigilância" e "estejam bem cientes da necessidade de tomar precauções".
 
Na segunda-feira, a China pediu aos estudantes que avaliassem os riscos, antes de optarem por estudar nos Estados Unidos, em razão das recentes restrições e recusa de vistos.
 
As advertências de Pequim podem causar uma queda no número de turistas e de estudantes que viajam para os Estados Unidos.
 
A publicação na China desse tipo de advertência sobre um país desenvolvido é rara e ocorre apenas em caso de atentados, ou de conflitos diplomáticos.
 
Foi o caso do Canadá, quando, após a prisão em dezembro no país de uma diretora da Huawei, Pequim alertou seus turistas sobre os "riscos" de "detenção arbitrária".
 
Em 2017, a China até proibiu agências de viagens de enviar grupos para a Coreia do Sul depois de tensões ligadas a um escudo antimísseis americano. A medida afetou duramente a economia sul-coreana.
 
Ainda não se sabe se o governo chinês tomará uma medida semelhante em relação aos Estados Unidos, mas a advertência desta terça visa claramente a reduzir o número de turistas.
 
No ano passado, três milhões de chineses visitaram os Estados Unidos, onde gastaram 32 bilhões de euros, segundo autoridades americanas.
 
O alerta "pode ser visto como o resultado das fricções econômicas sino-americanas", disse à AFP Zhu Feng, reitor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Nanking (leste).
 
Segundo o especialista, no entanto, será difícil para o governo chinês reduzir drasticamente o número de viajantes para os Estados Unidos, porque "o fluxo de pessoas é ditado pelo mercado".
 
A guerra comercial ganhou novo fôlego em maio, após a decisão de Donald Trump de aumentar as tarifas sobre produtos chineses que representam bilhões de dólares de importações anuais.
 
O conflito se agravou com a decisão de Washington de proibir as empresas americanas de venderem seus produtos tecnológicos à Huawei.
 
A iniciativa coloca em risco a gigante das telecomunicações e telefonia móvel, que depende de alguns produtos americanos.
 
Pequim respondeu sugerindo que poderia bloquear as exportações de terras raras, um conjunto de elementos químicos usado em todos os tipos de produtos tecnológicos.
 
Paralelamente, os republicanos americanos apresentaram um projeto de lei no Congresso para proibir os chineses ligados ao Exército de obter visto de estudante, ou de pesquisador.
 
Hoje, cerca de 360 mil chineses estudam nos Estados Unidos, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. Trata-se de uma soma significativa para as universidades americanas, onde os custos com a educação do ensino superior são elevados.