A China iniciou nesta quinta-feira (23) dois dias de exercícios militares "ao redor da ilha de Taiwan" como "forte punição pelos atos separatistas" no território após a cerimônia de posse de um novo presidente detestado por Pequim.

Considerado pelas autoridades comunistas como um "separatista perigoso", Lai Ching-te assumiu na segunda-feira o cargo de presidente com um discurso em que celebrou a democracia de Taiwan e fez um apelo para que a China a "acabe com a intimidação política e militar".

A China, que reivindica sua soberania sobre a ilha governada de maneira separada desde 1949 e nunca descartou a possibilidade recorrer à força para tomar o controle do território, denunciou as palavras de Lai como uma "confissão de independência".

As manobras começaram na manhã de quinta-feira com o envio de aviões e navios militares para os "arredores da ilha de Taiwan" para testar suas capacidades de combate, anunciou o Exército Popular de Libertação da China.

"As forças de independência de Taiwan ficarão com as cabeças quebradas e sangue escorrendo após a colisão com a grande... tendência de a China alcançar a unificação completa", disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.

As autoridades taiwanesas responderam e mobilizaram suas forças marítimas, aéreas e terrestres.

"Continuaremos defendendo os valores da liberdade e da democracia", afirmou o presidente Lai. "Permanecerei na linha de frente com nossos irmãos e irmãs do Exército para defendermos juntos a segurança nacional", acrescentou.

Em coordenação com o Exército, a Guarda Costeira de Taiwan mobilizou sua frota para "monitorar os movimentos nas águas marítimas próximas" e defender "a soberania e a segurança do país com uma atitude firme".

Taiwan mobilizou quatro caças da base de Hsinchu, que fica 60 km ao sudoeste de Taipé.

Imagens divulgadas pela Guarda Costeira taiwanesa nas redes sociais mostram oficiais exigindo, por um alto-falante, que os navios chineses abandonem o local.

"Seus movimentos afetam a ordem e a segurança do nosso país, recuem e saiam de nossas águas o mais rápido possível", afirmou um deles. 

''FORTE PUNIÇÃO''

Os exercícios "acontecerão no Estreito de Taiwan, ao norte, ao sul e ao leste da ilha de Taiwan", informou a agência oficial chinesa Xinhua.

Segundo o coronel Li Xi, porta-voz do Exército, as manobras representam uma "forte punição pelos atos separatistas das forças da 'independência de Taiwan' e um aviso severo contra a interferência e provocação por forças externas". 

Os exercícios devem testar "as capacidades conjuntas de combate real", acrescentou.

O professor e analista Zhang Chi, da Universidade Nacional de Defesa de Pequim, comentou no canal de televisão estatal CCTV que os exercícios pretendem "impor um bloqueio econômico à ilha, estrangulando" o porto de Kaohsiung, que tem um interesse estratégico para Taiwan.

Com este bloqueio, é possível cortar "as importações de energia vitais para Taiwan" e "bloquear o apoio que alguns aliados dos Estados Unidos fornecem às forças da 'independentistas de Taiwan'", acrescentou o professor.

"PROVOCAÇÕES IRRACIONAIS''

As relações entre Pequim e Taipé pioraram consideravelmente desde 2016, quando começou o governo da ex-presidente taiwanesa Tsai Ing-wen que, como seu sucessor Lai, é uma defensora veemente do modelo democrático da ilha.

Pequim aumentou a pressão militar, diplomática e econômica contra a ilha de 23 milhões de habitantes que, embora tenha pouco reconhecimento internacional, conta com um governo, um Exército e uma moeda própria.

"A China sente claramente que precisa de enviar uma mensagem muito forte a Lai e a todos que o apoiam", escreveu o analista Bill Bishop na sua influente newsletter Sinocism.

"Já esperávamos algo assim, sinceramente", reconheceu o subcomandante do Exército americano na região, o tenente-general Stephen Sklenka, em um evento em Canberra. "É preocupante", acrescentou.

Em agosto do ano passado, a China anunciou exercícios militares em resposta a uma escala do então vice-presidente Lai nos Estados Unidos durante uma viagem ao Paraguai

Meses antes, em abril, as Forças Armadas chinesas simularam um cerco à ilha após uma reunião de Tsai na Califórnia com o então presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy.

Em 2022, a China organizou grandes exercícios militares na região depois que a antecessora de McCarthy, Nancy Pelosi, visitou Taiwan.

Os acontecimentos nesta região podem ter consequências econômicas importantes: 70% da produção mundial de chips procede de Taiwan e mais de 50% dos contêineres de mercadorias atravessam o Estreito que separa esta ilha da China continental.