As caixas-pretas do Boeing 737 MAX 8 que caiu no domingo na Etiópia foram enviadas para a França, onde uma agência especializada irá analisá-las para compreender as causas do acidente.

A companhia Ethiopian Airlines anunciou, nesta quinta (14), que as duas caixas-pretas foram levadas para Paris, porque a Etiópia não dispõe do equipamento necessário para analisá-las.
A leitura das caixas-pretas foi confiada à Análise para a Segurança da Aviação Civil da França (BEA). Segundo esse organismo público francês, as próprias autoridades etíopes comunicarão o avanço da investigação.
"Uma delegação etíope dirigida pelo Escritório de Investigação de Acidentes (AIB) levou de avião o Gravador de Dados de Voo (Flight Data Recorder-FDR) e o Gravador de Vozes da Cabine de Piloto (Cockpit Voice Recorder-CVR) para Paris para a investigação", anunciou a companhia.
A análise das caixas-pretas, a que contém os parâmetros de voo e a que registra as conversas e os alertas na cabine, precisa de equipamentos de especialistas.
As caixas-pretas foram "danificadas" no acidente, porque o Boeing da Ethiopian Airlines foi pulverizado pelo impacto, explicou Dan Elwell, o responsável interino da FAA, o regulador aéreo americano.
O acidente do avião de Adis Abeba, que deixou 157 mortos, é o segundo em menos de seis meses envolvendo um Boeing 737 MAX 8. Em circunstâncias similares, um avião do mesmo tipo da companhia Lion Air caiu no mar, frente à costa da Indonésia em outubro, deixando 189 mortos.
Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terminou por ceder à pressão e anunciou que todos os Boeing 737 MAX seriam mantidos em terra nos Estados Unidos. Somou-se, assim, ao consenso internacional sobre o novo avião do construtor americano.
"Vamos decretar urgentemente a proibição de todos os voos dos 737 MAX 8 e do 737 MAX 9", disse Trump na Casa Branca. "A segurança dos americanos e de todos os passageiros é nossa prioridade absoluta", completou.
- 'Confiança total' -
O presidente da Boeing, Dennis Muilenburg, renovou sua "confiança total" na segurança do 737 MAX, embora tenha dito que a recomendação de deixar temporariamente em solo esses aviões foi iniciativa da companhia para tranquilizar o público.
A decisão é um golpe duro para a Boeing, já que o 737 MAX representa 78% dos pedidos do fabricante (5.826 aviões atualmente).
Esta decisão está justificada por novos dados de satélite, reunidos, analisados e fornecidos pelo Canadá.
Os dados mostram que a trajetória do avião da Ethiopian Airlines é similar à do aparelho da Lion Air, acidentado em outubro, anunciou a FAA.
Washington anunciou a proibição de voo do aparelho depois de Canadá, Brasil, Chile e México.
Costa Rica e Panamá adotaram a mesma medida ontem, depois de União Europeia, China e vários países terem feito o mesmo desde domingo.
Até o momento, a investigação do acidente da Lion Air se concentra nas disfunções do sistema de estabilização no voo, chamado Maneuvering Characteristics Augmentation System (MCAS).
Criado especificamente para os 737 MAX, com motores maiores e mais pesados do que os dos 737 de antiga geração, o MCAS se conecta automaticamente e faz correções, caso sejam excedidos determinados parâmetros nas manobras de mudança de altitude e de rumo.
Vários pilotos americanos indicaram, em outubro e novembro, em uma base de dados anônima da Nasa, terem tido problemas com o MCAS. Conseguiram, porém, evitar um acidente, porque haviam sido informados e treinados antes.
Em uma entrevista à rede CNN, o presidente da Ethiopian Airlines, Tewolde GebreMariam, que também vê semelhanças com o acidente da Lion Air, garantiu que os pilotos do aparelho receberam um novo treinamento sobre as particularidades do 737 MAX 8, após o acidente da companhia indonésia.
Assim como no caso da Lion Air, a queda do Boeing da Ethiopian Airlines aconteceu pouco depois da decolagem. Os dois aviões fizeram subidas e descidas irregulares, pouco depois de decolar.
Segundo dados da Airbus, há pelo menos 370 aviões deste modelo no mundo, do total de cerca de 19.000 aviões de no mínimo 100 passageiros em serviço internacional.