A Noruega e a Islândia são os únicos países do mundo a praticar abertamente a caça comercial de baleias. Tóquio, por sua vez, tenta provar que a população de baleias é grande o suficiente para suportar a caça comercial
As nações pró e contra a caça de baleias estão em Florianópolis desde a última segunda-feira (11) durante a reunião da Comissão Baleeira Internacional (IWC), em meio à indignação com a proposta do Japão de encerrar uma moratória de três décadas sobre a caça comercial desses cetáceos. O órgão deve decidir nesta quinta-feira se revoga a proibição da caça comercial desses animais, estabelecida em 1986 diante da iminência de extinção de várias espécies por conta da pesca industrial predatória, intensa ao longo do século 20.
O novo presidente da CBI, o japonês Joji Morishita, acredita que esta reunião pode ser decisiva para o futuro desta organização, composta por 89 países membros, profundamente dividida entre partidários (Japão, Noruega, Islândia e seus aliados) e adversários da caça aos cetáceos.
Morishita afirmou que deseja "mudar o modelo, para passar de uma rejeição mútua para o respeito mútuo". "Nosso desafio nesta reunião é saber se podemos conciliar as duas posições diferentes ou encontrar uma maneira de concordar ou discordar olhando para o futuro, em vez de gastar nosso tempo discutindo", disse antes da abertura da sessão em Florianópolis.
No entanto, como em cada sessão da CBI, o único órgão de gestão de grandes cetáceos, os debates se anunciam acirrados entre os dois campos. "Esta reunião promete ser crucial", estimou Patrick Ramage, do Fundo Internacional para a Proteção dos Animais (Ifaw).
O Japão é signatário da moratória da CBI sobre a caça de baleias, que data de 1986, mas alega praticá-la para pesquisas, perto de suas costas no Pacífico e na Antártida, embora grande parte da carne seja então vendida no mercado.
A Noruega e a Islândia são os únicos países do mundo a praticar abertamente a caça comercial de baleiais. Tóquio, por sua vez, tenta provar que a população de baleias é grande o suficiente para suportar a caça comercial.
Enquanto as imensas nuvens de água do sopro das baleias são visíveis das janelas dos quartos de hotéis dos delegados, na baía de Florianópolis, o Brasil e o Japão apresentarão dois textos diametralmente opostos.
Poluição sonora
O documento preparado pelos japoneses propõe a criação de um "comitê de caça de baleias sustentável" para os países que desejarem se engajar nessa atividade para fins comerciais.
As nações protetoras dos cetáceos, como a União Europeia, Austrália e Nova Zelândia, estão determinadas a impedir tal texto.
Por sua vez, o Brasil tenta unir os países contrários à caça na "declaração de Florianópolis", que considera que esta atividade não é mais justificada economicamente, dado que o consumo de carne de baleia diminuiu consideravelmente.
Parar a caça também permitiria que a população de cetáceos em todo o mundo retornasse a níveis equivalentes à era pré-industrial.
O país anfitrião também quer estender a área de proteção de baleias, atualmente limitada aos oceanos Índico e Antártico, a todo o Atlântico Sul.
"A proposta do Japão é problemática do ponto de vista processual e levaria a Comissão Baleeira Internacional de volta a uma época em que presidia insuportáveis operações de caça", reagiu Leigh Henry, do World Wildlife Fund (WWF).
A poluição sonora submarina, choques com navios, mudanças climáticas estão entre as principais questões a serem abordadas durante esta semana no Brasil. A reunião da CBI é realizada até sexta-feira.
As decisões são adotadas por uma maioria de três quartos, mas o Japão está pressionando por uma mudança de regra, o que permitiria uma votação por maioria simples.
O consumo de carne de baleia tem uma longa história no arquipélago japonês, um país de pesca onde os cetáceos são caçados há séculos.
A indústria baleeira floresceu após a Segunda Guerra Mundial, trazendo proteína animal para os habitantes do país.